Amigos de faculdade envolvidos com audiovisual. Talvez você tenha pensado automaticamente naquela turma reunida em Los Angeles, no início dos anos 70. Deste grupo saíram Spielberg, Scorsese e George Lucas. Fora do ambiente acadêmico eles mudaram o cinema norte-americano, de uma forma ou de outra. Os tempos mudaram, trazendo novas formas de divulgação, como o Youtube, que se tornaram plataformas para mais talentos surgirem. Ok, nem tantos talentos assim, mas a vitrine aumentou e com ela a visibilidade.
Quem curte internet e acompanha os virais do momento, deve ter esbarrado em algum momento com o vídeo de Matrix: Baixo Orçamento (2006). A homenagem ao filme dos irmãos Wachowski, apesar de tosca, chamou a atenção por ser feita apenas por estudantes (Confira abaixo). Foi um primeiro respiro de um grupo de amigos e rendeu uma entrada para uma produtora, a Maria Bonita Filmes. Desse grupo saíram os envolvidos na criação de 3%, Pedro Aguilera, Daina Gianechinni, Dani Libardi e Jotagá Crema. Jotagá é uma espécie de acrônimo de João Henrique Aurichio Crema. O diretor e roteirista deu uma aula master no SENAC da Lapa, em São Paulo, onde contou a trajetória desde o grupo da USP até o momento.
Para começar, Crema é o tipo “gente como a gente”. Largou o curso de engenharia para fazer o que realmente gostava: audiovisual. Nerd na essência, fã de ficção científica e contador de histórias, deu seus primeiros passos como roteirista na faculdade, com o citado grupo de estudantes (que ele prefere chamar de coletivo) na extinta Maria Bonita Filmes e bem nesta época é que surgiu o FICTV, um programa de governo que incentivava a criação de séries televisivas. Nascia ali o piloto de 3%.
A série é uma criação de Pedro Aguilera e é situada em um mundo distópico, dividido em dois lados. O enredo fala justamente do processo desumano para passar do lado “ruim”, onde vivem 97% das pessoas, para o lado “bom”, onde os 3% selecionados teriam tudo o que sonhavam. Parece um pouco com uma analogia do mercado cine-televisivo brasileiro. Jotagá, falou justamente sobre a luta e a perseverança de chegar ao outro lado. Não o outro lado da série, mas o outro lado de quem conseguiu transformar uma ideia em uma realidade no universo audiovisual brasileiro, que – provavelmente – conta com bem menos que os 3%.
Desde 2007 no mercado, com séries de animação e infanto-juvenis no currículo, o diretor falou sobre seu processo de escrita, as salas de roteiro, as emissoras de TV e o que elas esperam, aproveitando para comentar um pouquinho sobre o processo para alavancar uma série.
Vencedores do FICTV, o coletivo conseguiu gravar o piloto da série em 2011 e já impressionava pela qualidade, tanto visual como de roteiro. Lembrando que no ano anterior Lost terminava, deixando fãs órfãos, e 3% bebia da mesma fonte de mistérios que a série criada por J.J. Abrams e cia. e provocou certo barulho na internet. Mas apesar de fazer sucesso nas redes sociais, como Facebook e o finado Orkut, por exemplo, o projeto não foi escolhido para se tornar uma série. Pensando em termos de produção, foi bom isso acontecer, já que era algo caro, detalhe que poderia prejudicar uma empreitada promissora. Foi um revés, mas ao mesmo tempo fez com que os criadores procurassem expandir o alcance do projeto. Ao investirem no mercado internacional, através de muita cara-de-pau (mandando releases para jornalistas internacionais), acabaram alcançando um canal de streaming que, naquele momento, dava seus primeiros passos: o Netflix.
Conforme já havíamos noticiado (veja AQUI), em agosto de 2015 foi anunciado que 3% seria produzida com 8 episódios, com um elenco que inclui João Miguel, de Estômago (2008), e Bianca Comparato (A Menina Sem Qualidades, MTV, 2013). As gravações devem começar em breve e não há previsão de estreia. Vamos continuar aguardando novas informações, mas quem tiver curiosidade, ainda pode encontrar o piloto original no Youtube, dividido em três partes. A primeira parte você confere abaixo:
Ele não pôde falar sobre a produção, que agora também conta com César Charlone, mas trouxe uma pequena esperança sobre o futuro do audiovisual brasileiro, mostrando que apesar do caminho difícil, ainda é possível chegar ao outro lado.