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Tartarugas Ninja, Vol. 1 – Santa Tartaruga!

Tartarugas Ninja, relançado em nova edição pela P&N, permanece divertido como sempre

Tartarugas Mutantes Adolescentes Ninjas (sei lá se essa é a ordem, nunca me lembro), ou, como são conhecidas e amadas, simplesmente Tartarugas Ninja, estão ganhando um tratamento luxuoso pelas mãos da editora Pipoca & Nanquim. O texto aqui se refere ao primeiro volume, que condensa as edições 1-7 do quadrinho original, além da minissérie do Raphael (que, ironicamente, não é o meu favorito). Todos nós sabemos do que se trata a coisa toda, assim como sabemos que as edições da P&N tendem a ser mais caras. O que levanta a pergunta: Vale a pena?

A resposta é: Vai do gosto do freguês. Clichê, eu sei, mas tem seus motivos, que explicamos a partir daqui.

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A história dos quelônios artistas marciais remonta aos anos 80, quanto Kevin Eastman e Peter Laird dão início ao seu conto de fadas nerd contado e recontado à exaustão. Peço desculpas ao amigo leitor pelo talvez excesso de cinismo, mas é até estranho ter que ficar discorrendo sobre o que esses caras fizeram, porque é uma lenda nada oculta das HQ´s. Existem documentários e mais documentários sobre esse assunto, como Turtle Power ou o episódio de Brinquedos Que Marcaram Época, que inclusive está na Netflix, que contam essa história melhor e em muito mais detalhes do que essa resenha da conta.

O que você precisa saber, caso não saiba nada sobre o assunto é: Eastman e Laird romperam uma barreira que, até então, parecia intransponível. Barreiras, no plural, talvez seja melhor, já que a dupla conseguiu fazer sua HQ vender mais do que Marvel e DC. A grande magia que cerca a coisa toda é que eles conseguiram fazer isso literalmente de casa, já que foi um projeto totalmente independente. Projeto esse que tem todos aqueles temperos de fábula de superação que adoramos: Dinheiro emprestado do tio, autores desempregados, falta de experiência com gráfica, etc.

Logo que foram colocadas nas prateleiras das comics shops, Tartarugas vendia mais e mais, em tiragens cada vez maiores. Obviamente, o olho de alguma megacorporação ia crescer para cima do trabalho dos dois. Dito e feito. Logo os quadrinhos viraram brinquedo, que virou desenho, que virou filme, que virou uma marca bilionária que encanta crianças desde os anos 80-90; este colunista incluso. O resto, como se diz, é história.

Cowabunga!

Mas afinal, o que diabos isso tem a ver com o trabalho novo do P&N no Brasil?

Na verdade, algumas coisas que precisam ser levadas em consideração. Primeiro, Tartarugas já recebeu edições anteriores no país, pela Sampa e pela Devir. Vamos falar o português bem claro: Eram uma porcaria comparadas ao trampo do P&N. E acredite, não é “puxassaquismo”: Essas edições anteriores vinham com problemas desde diagramação até escolha editoriais ruins, como encerrar o volume no meio do arco. A edição do P&N foi feita com muito cuidado nesse sentido, e não passa nem perto desses problemas.

Segundo, a bagaça é divertidíssima – mas é extremamente diferente do que o amigo leitor conhece dos desenhos e dos filmes. A HQ é visceral, brutal mesmo em alguns momentos, e o clima como um todo é bem mais sombrio. Eastman e Laird não pensaram seus personagens para serem amigáveis, fofinhos e para a família. Ou seja, não é um gibi para crianças ou adultos com sensibilidade retardada. Tartarugas foi criado como um quadrinho independente, e seus autores despejaram ali todas as suas referências favoritas, que incluem muita coisa de underground de influências como Crumb, até mesmo autores mainstream que faziam sucesso “desafiando” o sistema, como Miller. Entenda: Eastman e Laird eram gente como a gente.

Esses são os pontos positivos. Agora, alguns poréns. Primeiro, sobre o que foi dito acima. Tartarugas é bizarramente divertido – mas as custas de muita coerência. O quadrinho é uma loucura sem fim, que começa no esgoto contra ninjas e eventualmente vai parar no espaço com tricerátops humanoides lutando em arenas. E não é como se houvesse uma transição gradual e os eventos fizessem sentindo. Não. Cada arco é algo do tipo: “Vocês querem ação?! Então tomem ação até o c* dizer chega, seus f**** da p***!”

Os autores têm um único propósito, uma única missão: Entretenimento. O que significa que, se você está procurando algum tesouro esquecido de HQ´s antigas cerebrais e intelectuais – leia-se, se você é um desses sommeliers de quadrinho autobiográfico de desgraça – passe longe disso aqui. A própria P&N tem opções melhores de HQ para quem não curte ação descabeçada.

Pizza cara – tipo a Pizza Hut

E aí entra o segundo porém: Sabe por que você não lembrava ou não sabia que Tartarugas tinha sido publicado aqui? Porque, no fundo, é um quadrinho descartável de entretenimento. Ele não é melhor ou pior, em termos de qualidade gráfica, estética e narrativa, do que muitos quadrinhos de super-heróis que estão saindo na banca agora(isso ainda existe?). É um projeto despretensioso, feito por dois caras sem muito a perder, que ganhou proporções colossais graças aos seus produtos secundários.

E com isso, chegamos ao ponto final: P&N produz seus volumes para um mercado de colecionadores de luxo. O que significa que o amigo leitor pode imaginar quanto vai sair a brincadeira de todas as edições completas, de um quadrinho que é feito para um gosto muito específico de leitor – aqueles que conseguem desligar o cérebro e entender quando algo é feito apenas para diversão.

Para este colunista, serve. E como serve. Você sabe a expressão que me veio na cabeça quando terminei o volume. Na verdade, você ler com aquela mesma voz que marcou nossas infâncias (se você é velho o bastante como eu)…

Santa Tartaruga!

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