Suicidas, HQ autoral de Lee Bermejo
O nome Lee Bermejo não deve ser estranho a você, dependendo da sua proximidade com os quadrinhos em geral. Se sabe de quem estamos falando, com certeza se lembra de uma arte bastante característica em seu realismo, muito adequada para roteiros que tem os pés mais próximos do chão. Não por acaso, o norte-americano é bem lembrado por Coringa e Lex Luthor: Homem de Aço, colaborações com Brian Azzarello (que anda bem enrolado com Cavaleiro das Trevas III). Não satisfeito apenas como desenhista, ele se aventurou a acumular também a função de roteirista em Suicidas (Suiciders), HQ da Vertigo lançada originalmente em 2015, lançada há pouco por aqui pela Panini.
No encadernado Suicidas Vol. 1, contendo as edições 01 a 06 de Suiciders, conhecemos um futuro onde Los Angeles foi devastada por um terremoto. Trinta anos depois da catástrofe, as coisas são bem diferentes em New Angeles, cercada por um muro fortemente vigiado por gente armada, que mantém pessoas menos favorecida fora de lá. Dentro da cidade, o evento que entretém o povo – que odeia os “pula-muros” – é uma disputa de gladiadores aprimorados biomecanicamente, cujo campeão, o Santo, é tratado mais ou menos como seu próprio codinome indica.
Com um passado cercado de mistério, o Santo, que brada ter a missão de purificar New Angeles, tem sua vida privada protegida pelo empresário. Quando uma repórter consegue uma entrevista com o astro, o simples risco de exposição de seu passado já é motivo para assassinato. Ao mesmo tempo, do outro lado do muro, um recém-chegado, que mal fala inglês, acaba cooptado para o mesmo tipo de disputa em arenas menos gloriosas. Com talento para violência e sem qualquer outra escolha, a vida segue.
Problemas no roteiro, mas a arte…
Apesar da atualidade dos temas escolhidos por Lee Bermejo, fazendo questão de alfinetar a mania por cirurgia plástica que caracteriza Los Angeles, além de acabar fazendo um paralelo interessante com esses tempos de Trump, Suicidas não é algo que se destaca por seu texto. Essa questão da violência divertindo as massas já soa bastante requentada, graças a filmes como Rollerball, The Running Man (que passou pelo Memória Afetiva do Formiga na Tela) e a recente franquia Jogos Vorazes.
A falta de destreza como roteirista chama atenção. O pano de fundo seria uma questão menor, caso contasse com um desenvolvimento de personagens mais elaborado. O leitor mais escolado vai sacar os clichês muito antes deles se concretizarem. Felizmente, se na escrita a coisa ainda pode melhorar muito, na arte é que Suicidas tem seu ponto mais forte, com Bermejo fazendo o que faz de melhor. Os traços fortes e o peso das sombras são exatamente o que uma história brutal como essa precisa, criando uma violência bastante contundente durante as lutas.
Sem grandes arroubos dentro da narrativa visual escolhida, ele usa os recursos comuns de HQ’s de super-heróis que vemos aos montes, mas o diferencial é que ele sabe como utilizá-los muito bem. Exatamente por isso, a história tem um ritmo bastante dinâmico e consegue manter o interesse do leitor até o final do volume. A forma como ele pensou as sequências de luta traz algo a mais ao conjunto, sobretudo no momento em que duas acontecem em lugares diferentes, mas ao mesmo tempo. Realmente, lembra um filme muito bem montado e fotografado, mérito também das cores de Matt Hollingsworth.
Ao final do sexto capítulo, muitas perguntas em aberto e reviravoltas ainda em curso. Se isso for um problema para você, fuja. Pode ser que a história melhore muito no Vol. 2 (é o que eu espero), mas, até lá, nada da verdadeira identidade do Santo e as outras revelações impactantes que ele preparou para finalizar essa colcha de retalhos.
Suicidas Vol. 1 é um bom gibi no fim das contas, apesar de previsível. A arte espetacular e a narrativa bacana ajudam bastante e o que importa é que a leitura passa rápido, além de divertir muito quem estiver à procura de algo bem violento. É o seu caso? Não vai se decepcionar…