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Dodô – O escapismo da fantasia infantil!

Dodô é mais uma HQ interessante no catálogo da Stout Club

É muito fácil encantar-se com histórias protagonizadas por crianças*, ainda mais quando se encontram em alguma situação difícil, não importando a natureza do problema. A inocência com a qual os pequenos enxergam as coisas é sempre tocante, mas claro que isso não exclui o impacto negativo deixado por certas situações. Quando o caso clássico de pais sem tempo para os filhos carentes é abordado, automaticamente já pensamos nos problemas que inevitavelmente virão. Dodô, de Felipe Nunes, traz uma pequena protagonista lidando como pode com o que os adultos à sua volta lhe passam.

*(Falando nisso, já leu a resenha de Chico Bento: Arvorada?)

Resenha de Dodô, HQ lançada pela Panini em parceria com Stout Club

Dodô – Panini / Stout Club

Laila tem seis anos e enfrenta algo que soa como um pesadelo para qualquer criança de sua idade. A separação dos pais já é um duro golpe, agravado pela ausência da mãe que trabalha demais e por não estar frequentando a escola. Brincando sozinha em seu mundo lúdico particular, a rotina da menina é sacudida pela aparição de um pássaro exótico no parque vizinho. As coisas ficam mais ainda mais agitadas quando a ave é acolhida por ela e acomodada em segredo na casa.

Mais uma publicação da Panini  em parceria com o selo Stout Club (do ótimo Xampu), Dodô evidencia mais uma vez a sensibilidade do jovem Felipe Nunes no tratamento de momentos delicados da vida. Premiado por Klaus, HQ sobre o sentimento de inadequação comum à adolescência, aqui ele retrocede alguns anos no enfoque, mas sem perder a conexão com seus leitores mais velhos. Logo no início, quando a mãe de Laila vai buscá-la depois da aula de natação, chegando atrasada, é claro, a solidão da garotinha é bem representada graficamente, capturando nossa atenção.

Resenha de Dodô, HQ lançada pela Panini em parceria com Stout Club

O aparecimento do tal pássaro cria uma interessante metáfora, muito longe da obviedade, sobre esse turbilhão emocional na vida da criança. Os dramas ao redor, como os problemas da mãe em suas tentativas de diálogo com o pai,  nos são transmitidos pelo olhar de Laila, o que não entrega muitas informações sobre os motivos que culminaram nesta situação. Assim, a leitura possibilita um envolvimento mais próximo com ela e nos coloca dentro de seu mundo. Se ela é nosso guia, seu novo amigo emplumado tem a mesma função para ela dentro da história.

Sutileza a serviço da história

Esta é uma HQ que pode agradar pequenos leitores pela sua narrativa clássica e a simplicidade de um traço que define a visão de mundo de Laila. Mesmo assim, os mais velhos dificilmente vão evitar a reflexão sobre o que acabaram de ler, já que Felipe Nunes usa a fantasia da menina para estimular seus leitores à interpretação. Nada tão rebuscado que arrisque a leveza do conjunto, mas existe conteúdo a ser discutido ali.

Resenha de Dodô, HQ lançada pela Panini em parceria com Stout Club

Dodô é uma obra de um quadrinhista promissor. Independente do traço de Felipe Nunes agradar ou não, não há dúvidas que ele foi bem sucedido no tom de uma história que poderia escorregar na pieguice em algum momento, caso carregasse nas reações emocionais dos personagens. O texto enxuto e a condução desta narrativa mostram que ele, no mínimo, é um artista que persegue um objetivo claro, sem desvios inúteis.

Se alguém ainda associa o termo “autoral” com algum tipo de intelectualismo hermético, talvez essa seja a HQ para mudar de vez o pensamento.

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