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Os Mitos de Cthulhu – Uma grande representação gráfica!

Imaginação e traço refinado a serviço do Horror em Os Mitos de Cthulhu

Sempre caímos na velha discussão sobre adaptar o Terror literário, em relação à dificuldade de fazer jus ao material fonte. Isso também diz respeito às expectativas de quem já conhece o texto original, é claro, o que acaba inevitavelmente trazendo o trabalho de H. P. Lovecraft para a conversa. Sabemos que esse ícone do Horror Cósmico não tem sorte nas adaptações, embora alguns filmes tenham se servido bem de um tipo de atmosfera que remete a ele*. Felizmente, os Quadrinhos não dependem de mega orçamentos, então vamos falar de Esteban Maroto (Cinco por Infinito) em Os Mitos de Cthulhu (Los mitos de Cthulhu de Lovecraft).

*(Confira o podcast sobre filmes lovecraftianos)

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Material antigo de Maroto, resgatado pela Planeta DeAgostini na Espanha e publicado no Brasil via Pipoca & Nanquim, o álbum é um primor gráfico. Com um projeto editorial à altura da arte, em seu preto e branco original ressaltando as qualidades do traço ao autor, é uma peça que interessa não apenas aos admiradores de Lovecraft e Terror em geral. Sobre os fãs de Quadrinhos nem é preciso comentar, mas o trabalho de adaptação do texto em imagens é algo que qualquer artista conceitual ou quadrinhista deve conhecer. Se possível, seria ótimo ler ou reler os contos em questão antes de colocar os olhos nestas páginas.

Esteban Maroto adaptou três contos (A Cidade Sem Nome, O Cerimonial e O Chamado de Cthulhu), esbanjando criatividade e inspiração na criação de arquiteturas macabras e detalhes geográficos tétricos. A jornada da história que abre a edição mostra a busca por um local profano, citado pelo árabe louco, Abdul Alhazred, escritor do livro maldito Necronomicon. Uma premissa perfeita para testar os limites de qualquer artista, principalmente quando é preciso entrar em contato com dimensões inimagináveis e capazes de levar um ser humano à loucura.

O conto seguinte mostra um protagonista que visita a cidade de seus antepassados, seguindo uma velha tradição. Esse contato com um passado não vivido, ainda que bizarramente familiar, envolve um culto primitivo muito mais antigo de que seria possível supor. Chegando então ao grande chamariz do álbum, Os Mitos de Cthulhu é a versão de O Chamado de Cthulhu, o que já na capa chama atenção dos iniciados na mitologia de Lovecraft e suas representações visuais ao longo das décadas.

Lembrando que a qualidade maior dos contos originais é retorcer a imaginação do leitor, hoje talvez seja difícil pensar em Cthulhu sem um formato de cabeça muito próximo ao de um polvo. Isso por conta de uma imagem reciclada e repetida à exaustão, principalmente nos últimos anos. Pois bem, Maroto nos deu uma interpretação bem menos “limpa” e muito mais alienígena desta entidade ancestral. É muito conveniente o resgate deste trabalho em um momento em que Lovecraft é tão comentado e celebrado, ao mesmo tempo em que se encontra misturado (e até diluído, às vezes) no balaio do hype da cultura pop.

Resenha de Os Mitos de Cthulhu - Pipoca e Nanquim

Fidelidade demais pode atrapalhar

Chega a ser estranho, depois de tantos elogios sobre a parte gráfica, expor ressalvas sobre a narrativa visual como um todo. Como sempre é preciso separar cada aspecto, principalmente quando falamos de HQ, belos desenhos e lindos painéis são peças que precisam juntar-se e fazer sentido como conjunto, que – não menos importante – também tem o texto como parte integrante de um todo.

Quem conhece os contos originais, sabe que seu autor usava narrações em primeira pessoa. Ao verter esses escritos para os Quadrinhos, Esteban Maroto manteve essa característica, o que compromete um desenvolvimento e progressão mais fluidos. Recordatórios são acompanhados de imagens que acabam servindo como acessórios das caixas de texto, caindo em um didatismo descritivo que não evita a redundância. Claramente, houve um esforço muito maior na arte, o que desequilibra o trabalho no saldo geral.

Felizmente, a tour de force visual de Os Mitos de Cthulhu garante nossa atenção até o fim, atesta sua relevância e justifica sua aquisição, leitura e – por que não? – estudo. Se houve falhas como roteirista, elas acabaram por ressaltar aquilo que Maroto faz de melhor, o que não é pouco, inominável ou indizível.

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