Você tem acompanhado Miracleman, a fase de autoria do “escritor original”, que é Alan Moore, mas exige seu nome retirado dos créditos? Em caso afirmativo, você sabe que é um privilegiado por ter esse material em mãos. Mesmo que ainda não tenha corrido atrás destas edições que a Panini tem publicado, já deve ter ouvido falar muito bem da série e sabe, mais ou menos, do que se trata. Aos iniciados no mundo deste super-herói inglês, Miracleman Anual I pode ter um apelo grande pelos nomes envolvidos e pela proposta.
A edição de 44 páginas traz uma história de Grant Morrison em início de carreira, ambientada em um período anterior ao despertar mostrado em Miracleman #1. Em O Incidente de Outubro: 1966, a ideia é mostrar um tanto das crueldades que o corrompido Johnny Bates – o ex- Kid Miracleman – já andava cometendo naquele ano. Como essa história acabou sequer desenhada na época em que a revista inglesa Warrior publicava a série, o roteiro acabou no limbo, resgatado depois que a Marvel adquiriu os direitos da republicação. Com a arte mais que competente de Joe Quesada, além das cores de Richard Isanove, finalmente conhecemos esse pequeno recorte da vida do genocida. Valeu a pena? Fora a arte, não.
Não é uma questão de classificar o trabalho como ruim, o que ele realmente não é. O problema é que não acrescenta absolutamente nada ao que você já viu ou verá na série principal. A curta história se resume no encontro de Bates com um padre orando em uma praia. Já adivinhou como acaba, não? Nada de crucificar Grant Morrison, afinal trata-se de um trabalho de início de carreira e, convenhamos, não havia muito espaço para desenvolvimento ali. Não vai além da arte e de referências visuais interessantes.
Outro nome de peso da invasão britânica contribuiu na edição. Seriamente Milagroso é um roteiro bem mais recente, com a proposta de homenagear a fase de Miracleman com seu criador, Mick Anglo. Outro nome de peso da Invasão Britânica, Peter Milligan, assina o texto, contando com a arte de Mike Allred. Divertida e valorizada pela narrativa sempre bacana do desenhista, é outro caso onde não há como exigir demais dos criadores pelo espaço que dispunham. Aqui, encontramos a família Miracleman vivendo uma de suas aventuras ingênuas do passado, mas o herói começa a questionar essa realidade ao perceber que muita coisa não faz sentido quando você vive dentro de uma HQ sessentista de super-heróis. Um insight que lembra Matrix.
No geral, Miracleman Anual I não desrespeita a inteligência do leitor, mas é aquele tipo de gibi para se ler no banheiro. Já isentamos os criadores anteriormente, então a crítica maior vai para a Marvel, bolando uma edição que é puro caça-níquel, cuja versão nacional da Panini está muito bem acabada, é preciso dizer. Pelo preço, R$ 7,90, não dói nada para quem já comprou as outras e ainda tem alguns extras bacanas, mostrando um pouco do processo de trabalho das duas histórias.
No meio de tantas decisões editoriais equivocadas que já vimos, poderia ser bem pior, não? Miracleman inserido na continuidade regular da Marvel, por exemplo…