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A Loira Fantasma de Curitiba – Lenda urbana vira bom caldo para HQ!

Lenda urbana paranaense é usada como escopo para volume com belos quadros de bons artistas

Um dos aforismos mais interessantes do Zaratustra de Nietzsche dizia: “o homem é um animal que venera; prefere acreditar em nada, do que em nada acreditar”. Isso implica em, onde quer que aja alguma forma de civilização humana, haverá culto, superstição e crenças. Algumas mais sofisticadas, outras nem tanto. Algumas podem parecer meio bobas, mas, nas mãos certas, sempre rendem coisa interessante. É o caso da lenda urbana d’A Loira Fantasma de Curitiba, de Fulvio Pacheco e M. Matiazi.

HQ sobre a lenda urbana da Loira Fantasma de Curitiba.

O que é curioso, porque, tendo nascido e crescido em São Paulo, quando garoto o que me assombrava era outra coisa – a tal da loira do banheiro. Se você ficasse no espelho, dissesse o nome três vezes, etc, fantasma assassina gatinha pula no seu pescoço. Claramente uma colossal bobagem. Nunca me atrevi a tentar. Pra quê arriscar, não é?

O que, agora já adulto e devidamente consciente (quase) de que essas superstições são tão boas quanto o apelo que elas provocam em gerações inteiras de um local, explica para mim porque os curitibanos ainda se divertem com a tal lenda urbana da loira fantasma (aliás, qual é o fetiche em matar as pobres platinadas? Que horror…)

A história é tão simples quanto poderia ser para uma lenda urbana: Diz a lenda que um taxista foi parado por uma mulher loira e a passageira pediu que ele a levasse até um cemitério. Durante o trajeto, a mulher sumiu dentro do carro. Assustado, o taxista chamou a polícia. Então a loira reapareceu tentando matá-lo. A polícia teria atirado na agressora, e esta teria desaparecido em seguida. O caso até teve exame de balística atestando que a bala analisada teria passado por um corpo, mas ninguém soube explicar quem teria sido atingido.

HQ sobre a lenda urbana da Loira Fantasma de Curitiba.

O que, claro, ajudou a lenda a ganhar um autêntico “prequel”, um tipo de “Loira Fantasma Begins”, onde a pobre mulher, que em algumas versões ganhou até nome (Lurdes é o mais aceito), teria saído totalmente produzida para curtir uma noite na capital paranaense. Ao voltar para casa, tomou o fatídico táxi, onde o motorista, um molestador psicopata, teria a estuprado e tirado sua vida. Na época a história se difundiu como um caso de assombração. Pessoas começaram a dizer que tinham visto a loira e taxistas já não paravam à noite para fazer corrida se a passageira tivesse cabelos claros.

Enfim, a HQ

Pois bem, esse conto todo aí em cima é o mote principal de A Loira Fantasma. Mas o ponto bacana é que, se tivesse sido escrito apenas como um conto de terror genérico, talvez a HQ se perdesse no meio de outras coisas genéricas. Mas a Estronho, editora responsável pela publicação, junto com os organizadores Pacheco e Matizai, tomaram uma decisão interessante: tornar o volume não apenas um conto sobre a assombração platinada, mas também um caderno de esboços e tela branca para diversos artistas talentosos.

O resultado é muito divertido: a história da loira é contada com base no conjunto “versão estendida” da lenda, com direito a morte, perseguição e redenção, mas cada momento da história é pontuado por belos quadros desenhados por algumas dezenas de artistas com estilos próprios e distintos, dando ao material um ar etéreo e inconstante. Perfeito para uma história de fantasma.

HQ sobre a lenda urbana da Loira Fantasma de Curitiba.

A arte em stencil de Pacheco dá um tom de condução e coerência em meio a profusão de belas telas que vão surgindo, não permitindo também que o volume se torne simplesmente uma desculpa para um desfile de arte de amigos. Há um objetivo aqui – surpreender, assustar, envolver com a lenda urbana. Em alguma medida, existe sucesso na empreitada.

As únicas críticas que poderiam ser feitas são o preço sugerido – 35 Temers por um volume tão curto podem afastar alguns leitores (mas uma empresa independente precisa sobreviver, então, relevemos); e justamente o fato de ser tão curto, pois, quando começamos a nos habituar a doidera proposta pelos autores, ele acaba.

De certa forma, isso até é bom. Tomara que seja bem-sucedido, abrindo as portas para mais iniciativas assim. Só esperamos que ninguém mais precise morrer… OU SERÁ QUE NÃO?

Curte HQ nacional? Não deixe de conferir nossas sugestões de resenhas: Hinário Nacional, Afrodite e Matadouro de Unicórnios.

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