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Imobiliária Sobrenatural – Narrativa visual diferente!

Fora das convenções, Imobiliária Sobrenatural busca outras possibilidades narrativas

Dan Goldman é um cara inquieto em termos criativos. Roteirista, desenhista e produtor, traz em seu currículo não apenas HQ’s, como também produções audiovisuais, videogames e realidade aumentada. Uma personalidade como essa não deixaria de explorar o meio digital para publicação de Quadrinhos. Assim, em 2010, Imobiliária Sobrenatural: Vendemos Casas Desassombradas (Red Light Properties) surgiu online. O sucesso garantiu uma versão impressa pela IDW, ganhando depois uma versão nacional graças ao selo PLOT!, da Astral Cultural.

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Resenha de Imobiliária Sobrenatural: Vendemos Casas Desassombradas

A trama acompanha um casal que toca um negócio inusitado. Em Miami, o mercado imobiliário sofre com a dificuldade em negociar propriedades com problemas peculiares, mais precisamente, assombrações que habitam os recintos. Jude Tobin tem o dom de enxergar as entidades, assim como o conhecimento para ajudá-los na passagem. Cecilia, sua esposa, cuida dos negócios, formando assim a empresa que dá nome ao álbum.

Mostrando os dois já em atividade há tempos, o roteiro os apresenta em um momento de crise no casamento e com a empresa em risco. Evidenciando a decadência trazida com os anos de convivência, principalmente na figura de Jude, Goldman investe na dinâmica familiar, que inclui um filho pequeno e mais duas funcionárias, para criar o envolvimento com eles. Sem descambar para um clima ingênuo de sitcom, esse lado mais doméstico da vida dos Tobin dá sustentação para o que realmente interessa.

Claro, o lado sobrenatural é o que realmente vai atrair leitores que baterem o olho na edição ou ouvirem falar. Não chega a ser uma história de Terror, mas é nos arroubos visuais destes momentos que a HQ se destaca. Menos nas tais aparições que precisam ser exorcizadas e mais nas viagens transcendentais do protagonista. Goldman é muito criativo na concepção gráfica destes momentos, fazendo leitores demorarem mais tempo nestas páginas. Esse rompimento da realidade e de amarras narrativas, aliás, é um traço que faz parte da personalidade do autor. Não por acaso, basta comparar uma foto dele com o desenho de seu protagonista para perceber que este é um trabalho bem pessoal.

Esse conceito de embaralhamento entre real e imaginário ganha mais força em uma sacada visual do álbum, permitindo a comparação com uma série de TV recente, Undone. Dan Goldman mescla seu estilo de traço menos realista com cenários e objetos fotografados, cativando pelo contraste no visual, mas indo além de um mero recurso cosmético e contribuindo conceitualmente.

Resenha de Imobiliária Sobrenatural: Vendemos Casas Desassombradas

Outro formato = outro raciocínio

Como já foi dito, Imobiliária Sobrenatural estreou no meio digital. Isso muda drasticamente a construção de uma história, já que as páginas são criadas em posição de “paisagem”, e não “retrato”. Para quem nunca refletiu sobre a elaboração de uma narrativa visual em Quadrinhos, é só levar em consideração que as composições de uma página de HQ devem conduzir o olhar do leitor de forma a estimular o avanço. Em uma página impressa convencional, o caminho para baixo é mais longo. Aqui, temos uma distância maior em direção à lateral direita.

É evidente que essa mudança é para privilegiar telas widescreen, seja de tablets, celulares ou mesmo um monitor qualquer. Não é uma novidade e outros artistas renomados já se aventuraram neste caminho, como Brian K. Vaughan com seu excepcional The Private Eye (que também mereceu um artigo), cuja iniciativa abriu portas para outros trabalhos fantásticos, como Universe!.

Dan Goldman se sai muito bem neste cenário e mostra segurança narrativa. Não se perde ao abrir mão de grids mais tradicionais e sóbrios, arriscando-se em distribuir seus paineis, em uma quantidade considerável, em páginas que usam requadros inclinados e até caóticos. Esse é mais um tópico que reflete visualmente algo da própria situação pessoal dos protagonistas, trazendo mais substância ao conjunto.

Em uma olhada mais geral, o roteiro talvez seja a parte menos brilhante do projeto inteiro. Não que seja ruim ou falho na costura dos eventos, mas carece de um pico dramático mais marcante ou até mesmo um gancho que deixasse a pergunta “o que aconteceu? ou “o que vai acontecer agora?”, permitindo uma participação maior do leitor. Mesmo assim, um belo trabalho, atraente para qualquer um mais afeito a pensar a linguagem desta mídia.

Para finalizar, Imobiliária Sobrenatural: Vendemos Casas Desassombradas é indicadíssimo para quem tiver algum tipo de ambição artística envolvendo Quadrinhos digitais. Se for seu caso, vale analisar com atenção o trabalho de Dan Goldman, além de conhecer mais sobre seus projetos no Kinjin Story Lab.

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