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Lennon – O homem por trás do músico!

Lennon é um relato intimista e sincero do famoso beatle

Para quantas pessoas você iria expor a parte mais íntima de seus medos, aflições e paixões? Ou melhor, você mesmo compreende de forma sincera e coerente tudo aquilo que te move e/ou te derruba? Ou será que essas coisas são como móveis velhos, bugigangas e outras quinquilharias jogadas em um porão escuro do qual você perdeu a chave e não tem mais acesso? Imagine então que, de vez em quando, consegue enxergar algumas silhuetas na penumbra a partir de frestas na parede de madeira desgastada. O que veria?

Lennon é uma adaptação em quadrinhos de Eric Corbeyran e Horne Perreard, do livro homônimo de David Foenkinos. No romance, o autor imaginou sessões entre John Lennon e sua terapeuta para contar a história do antigo líder dos Beatles, desde sua infância até o dia de seu fatídico assassinato, revelando momentos e pensamentos íntimos do músico como seus relacionamentos, o uso de drogas e o nascimento e ascensão da banda que o consagrou.

Resenha da HQ Lennon, da editora Nemo

Lennon é um lançamento da Editora Nemo e apresenta os segredos da vida e obra de John Lennon.

Antes que você, caro leitor, prossiga com o texto, é importante deixar claro que eu não sou fã dos Beatles, apesar de reconhecer – de verdade – a inquestionável relevância da banda, não apenas no mundo da música, como também na questão das mudanças culturais da época. Logo, você deve estar se pensando ”por que raios você está fazendo a resenha desta HQ e não outro que seja fã de verdade?”. A resposta a essa pergunta se encontra na própria obra, em um belíssimo trecho em que o protagonista diz:

“Todos veem em mim o beatle, o ativista político, o louco pela Yoko. Mas não vi nada disso no seu olhar; foi o que me trouxe até seu divã.”

Esta fala entre John e sua terapeuta não só é emblemática como também representa o motivo pelo qual até aqueles que não são fãs, como eu, devem ler este belo trabalho. Lennon é sobre o homem por trás do músico, o homem por trás da ideologia. E nas palavras do protagonista, talvez seja importante ter um certo distanciamento da figura icônica para enxergar a figura humana.

Foenkinos (autor de A Delicadeza, adaptado para o cinema com o título A Delicadeza do Amor) nasceu na França em 1974 e estudou literatura e música. Sua sensibilidade com as palavras e cadência de eventos são os pontos altos de Lennon. Mesmo que as falas sejam frutos da imaginação, é muito fácil, como leitor, cair na armadilha de no final de cada capítulo acreditar que aquilo foi verdade. O texto possui uma sinceridade muito tocante, principalmente quando toca em assuntos mais delicados como a própria hipocrisia do personagem principal e sua relação com a ex-mulher e filhos. Essa falta de censura, que despe John em meio aos piores julgamentos de nós, voyeurs, torna o quadrinho uma obra extremamente relevante, corajosa e particular.

Resenha da HQ Lennon, da editora Nemo

Não é preciso ser fã de Beatles ou do próprio John Lennon para apreciar a HQ.

O visual deixa a desejar em termos narrativos

Apesar da qualidade e profundidade do conteúdo textual, a arte no geral acaba ficando abaixo do esperado para o potencial apresentado inicialmente. Embora o traço tenha um conceito que vai de acordo com o roteiro, mostrando os personagens de maneira mais fantasmagórica e uma bela fisionomia montada com características fortes de cada um, os enquadramentos e a diagramação soam relativamente preguiçosos. São poucos os momentos em que a imagem não é redundante em relação à fala, além de closes desnecessariamente repetidos e a falta da sensibilidade em passar emoção pela imagem. Dessa forma, a adaptação de Eric Corbeyran e Horne Perreard do romance de Foenkinos para a nona arte não explora o real poder que a linguagem dos quadrinhos poderia proporcionar.

Isso não deve desencorajar o leitor a conferir o quadrinho, pois a essência da obra em si já vale, e muito, o dinheiro e o tempo investidos.

Resenha da HQ Lennon, da editora Nemo

Apesar do rico conteúdo e dos belos desenhos fantasmagóricos, a concepção visual em geral deixa a desejar.

Lennon é uma biografia feita de modo diferente e instigante, mostrando o lado mais íntimo de John Lennon. Lado esse, que as vezes nem o próprio conhecia. E não será assim com todos nós, na maior parte do tempo?

Não importa se é famoso ou desconhecido. Rico ou pobre. Rei ou plebeu. Todos nós temos porões empoeirados e escuros. Às vezes, conseguimos vislumbrar determinadas silhuetas dos objetos lá escondidos, através de frestas na parede decadente. As vezes, por escolha própria, ou mera situação, decidimos invadir esse porão e fazer a luz invadir o ambiente. O maior problema é que demora um pouco para os olhos se acostumarem. Mas depois que a pupila se acostumar, o que será que vamos encontrar?

Gosta de quadrinhos sobre música? Se sim, não deixe de conferir nossa análise sobre Coltrane e Hip Hop Genealogia!

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