Blackhand Ironhead não procura inovar, mas agrada com o que tem à mão
Tretas familiares dentro de um contexto super-heroico. Você já viu isso antes, não? Claro que sim! Desde aquele grupo seminal do Universo Marvel, a ideia deixou de ser novidade, mas isso não significa que a fórmula não possa render ainda hoje. Quando o roteirista é competente, o clichê nunca é um problema e Blackhand Ironhead, de David López, é mais uma prova disso.
O título estreou esse ano no Panel Syndicate, aquela iniciativa de Brian K. Vaughan, que disponibiliza HQ’s digitais por um preço escolhido pelo leitor. Se ainda não conhece, trata-se de histórias elaboradas para plataformas como celulares, tablets e monitores, com páginas na posição “paisagem” ao invés de “retrato”. Além disso, o catálogo exclusivo conta com material de excelente qualidade. Você pode saber mais sobre esses trabalhos acessando os textos sobre The Private Eye (que também ganhou um artigo), Universe! e Barrier.
O espanhol David López, desenhista experiente com vários trabalhos na Marvel, como Guardiões da Galáxia e Capitã Marvel, arriscou-se como autor em Blackhand Ironhead. Em um mundo futurista que testemunhou diversos conflitos entre super-heróis e vilões, a pacificação é atingida graças a Iron Head e Titan. Os dois heróis derrotam todos os vilões, criando em seguida uma fundação que cuida de danos colaterais e garante a paz entre pessoas com poderes. Além disso, promove lutas em uma espécie de MMA super-humano.
Como a utopia é sempre uma fachada, existem detalhes que o velho Charles Ross, ex- Iron Head, escondeu e que vão chacoalhar a vida de sua filha, Alexia. A garota é reprimida pelo pai, proibida de lutar e obrigada a assumir a presidência da fundação, com a imposição de remodelar sua imagem no esforço de Relações Públicas. Não bastando isso, Alexia ainda tem que lidar com o aparecimento de Amy, ou Black Hand, que tem um inesperado grau de parentesco com ela.
Atualmente com dois números disponíveis, com opções em inglês e espanhol, Blackhand Ironhead já apresentou a premissa e o mistério que as duas protagonistas terão que desvendar. Teremos que aguardar a conclusão para afirmar se tudo valeu a pena, algo que pode incomodar um pouco pela irregularidade dessas publicações no site. Mesmo assim, essa introdução é animadora e mostra que López se esforçou no texto. Como primeira experiência respondendo por roteiro e arte, o resultado é bastante satisfatório.
Colcha de retalhos que convence
Claro que, se você já acompanha super-heróis há tempos, vai lembrar de ideias que já viu em outras histórias famosas. Encontramos ecos de Powers na investigação, de Astro City na ambientação deste mundo alternativo e de Starman no peso da herança de Alexia. Clichês mais comuns, como a dupla principal que se estranha o tempo todo, ajudam a engrossar esse caldo.
Na parte dos conflitos familiares, é bem fácil para a maioria dos leitores “comprar” a situação das duas moças. São dramas e motivações básicas na essência, mas com aquele atrativo que faz toda a diferença quando se trata de importar-se com personagens. Além disso, também existe o cuidado de trabalhar o contraste entre essas duas personalidades. Isso é o que dá o tom nesta HQ.
Mesmo deixando a ação em segundo plano até aqui, ela aparece pontualmente e a história não deixa de ser movimentada. O traço simplificado e leve, sem abrir mão do detalhismo nos planos gerais, é valorizado por uma narrativa funcional que sabe aproveitar o formato diferenciado das páginas. A leitura tem fluidez graças ao feliz casamento entre texto e imagem, que ganha mais pontos com a colorização de Nayoung Kim.
Como a série ainda leva um tempo apara finalizar, Blackhand Ironhead ainda pode melhorar ou piorar conforme avança. Por isso mesmo é que não vamos atribuir uma nota para ela, mas já podemos afirmar algo. Até aqui, ela vale uma olhada, com certeza. Baixe, leia e prestigie essa empreitada de David López e a nova proposta de distribuição criada por Brian K. Vaughan.
Ah, se consegui convencer você a conferir essa ou qualquer outra HQ do Panel Syndicate, comenta aí…