Flash é um dos carros-chefe da nova reformulação do Universo DC
E, mais uma vez, o Universo DC recomeçou. Com o colapso do arco, seguiu-se Renascimento, com uma das propostas mais polêmicas dos últimos tempos: colocar o universo do clássico Watchmen de Alan Moore no meio do clássico balaio de universos que tão bem conhecemos da DC. Em tese, é a receita para o desastre, colocando elementos de uma das melhores HQ’s já escritas no meio dessa zona que virou a DC nos últimos tempos (sim, eu sei, a outra também) apenas para alavancar vendas. Flash, um dos medalhões da casa, obviamente teria que manter seu título próprio.
A fase dos Novos 52 teve altos e baixos; Manapul e Buccelato conseguiram realizar um trabalho mediano com o que tinham em mãos, apresentando uma visão própria do personagem e dos seus vilões, sem perder completamente sua essência. Embora não seja exatamente surpreendente, não decepcionou (muito). O que não foi o caso da fase de Robert Venditti. O responsável pelo ótimo X-O Manowar da Valiant, simplesmente não conseguiu mostrar a que veio na HQ do velocista escarlate, deixando para trás um legado bem decepcionante.
Entretanto, acabou até servindo para Joshua Williamson, autor de Flash: Renascimento – com a barra meio baixa, ele consegue pegar o personagem e, muito à semelhança de Manapul, consegue fazer algo correto, mesmo que não surpreendente. Na história, entre lapsos de memória, Barry Allen começa investigando um crime muito similar ao que tomou a vida de sua mãe, Nora. Isso já o deixa profundamente perturbado – assim como ao leitor, que tem a clara impressão de que verá mais do mesmo.
Logo em seguida, começa a mescla de linhas temporais – algo que sempre ascende um sinal amarelo nas histórias recentes da DC – mas, contra toda expectativa, ao invés de confundir, a história começa a se esclarecer, pois o contraste entre as memórias pré-Flashpoint e os fatos desse presente dão a entender que alguma coisa – notadamente, a Força de Aceleração – estão tentando se comunicar com Barry, com o intuito de denunciar “algo de errado que não está certo” com a realidade.
O principal elemento a reforçar isso é o retorno daquele que talvez seja um dos principais personagens de Renascimento – Wally West, o “então e agora” Kid Flash. Mais uma chance para a verborragia e chatices cósmico/temporais, mais um acerto de Williamson; embora o foco da conversa seja sim, as disparidades temporais e bizarros fenômenos que assolam o mundo, o autor consegue dar ao encontro um tom familiar, nostálgico, que evoca a mais tradicional relação entre herói e sidekick com uma leveza que raramente nos quadrinhos de super-herói, que se levam tão a sério hoje em dia.
Tons e cores apropriados
Essa mesma relação amistosa também se estende a figuras como o Batman. Durante a investigação de um certo bottom manchado de sangue, é curioso ver como Barry se refere ao Homem-Morcego de uma maneira intimista, como alguém que parece conhece-lo além do semblante sisudo de vigilante. Isso dá tons e cores a história que parecem de muitas formas um pouco de fan-service, mas que, no geral, agradam ao público mais velha guarda, que tem dificuldade de reconhecer seus velhos heróis hoje em dia.
Esse último argumento não é algo necessariamente bom ou ruim; pelo contrário, esse arco de Flash de Williamson é uma prova de que os quadrinhos têm espaço para todos, novos e velhos leitores, com a mesma qualidade e atenção.
Incidentalmente, essa seria uma das possíveis críticas a serem feitas em relação ao roteiro: embora, no geral, bem escrito e competente, ele não é muito amigável com novos leitores. Um conhecimento prévio dos Novos 52 e do volume introdutório Universo DC: Renascimento são necessários para se compreender completamente o que está acontecendo. O que nos faz levantar aquela velha bola: será que, se autores como Manapul e Williamson não tivessem liberdade para escrever sem se preocupar com os grilhões abobalhados das mega-sagas, não teríamos algo digno de se chamar de épico? Nunca saberemos.
Ainda falando sobre os méritos da HQ, a arte de Giandomenico e as cores de Plascencia dão o aspecto dinâmico e angular necessário a qualquer história do Flash. Embora abuse um pouco de perspectivas exageradas e distorcidas, preferimos interpretar como uma liberdade artística, tendo em mente as características do personagem em questão.
Sendo assim, Flash: Renascimento ainda é uma leitura válida. Se vale os 20 reais pedidos pela Panini, cabe ao leitor decidir, mas, se este estiver interessado em acompanhar os desdobramentos do novo Universo DC, Flash é um dos títulos necessários.
É isso. Até a próxima reformulação desnecessária, amigos!