Anda afastado da Marvel? Melhor evitar os Fabulosos Vingadores…
Fabulosos Vingadores: Vingar a Terra é o arco final do primeiro volume desse título, que também apresenta a deixa para outra mini-mega-saga dentro da Zona… digo, Casa das Ideias. Portanto, de imediato, fica aquele aviso bacana: pegou um desses encadernados na mão, olhe a contra-capa para ver de onde a joça começa e até onde ela vai. Isso vai te poupar de entrar para uma fileira razoável de pessoas que me falam que se atrapalham com tanta oferta e acabam comprando sem saber que a história do volume precisa dos antecedentes.
Isto dito, para quem não sabe, Fabulosos Vingadores foi uma iniciativa entre líderes de Vingadores e X-Men para acalmar o facho de ambas as espécies que – novidade – andavam às turras uma com a outra. Com representantes humanos e mutantes, a equipe deveria funcionar como um símbolo de união entre as espécies. Não vamos entrar em mais detalhes, senão a coisa vai longe, porque você já sabe aquele lance da continuidade; para entender de verdadinha o que está acontecendo aqui, você precisa de um PhD em Marvel e, pelo menos, alguns milhões reais para comprar todos os títulos mensalmente.
Mimimis desse resenhista ranzinza à parte (o que não é novidade, conforme as resenhas de Prelúdio Para o Infinito e Guerras Secretas), o volume é até bem executado. Embora a premissa do arco não seja nenhum arroubo de inspiração, Rick Remender, o roteirista responsável por Vingar a Terra, assim como os volumes anteriores, é bastante competente. Embora crie uma salada que no fundo é vazia e sem o menor sentido, ao menos o faz com precisão e bom ritmo.
A história oscila – e isso é um problema, ao mesmo tempo que é, de alguma forma, um mérito – entre algo no padrão de super-herói e algumas tentativas de explorar o que existe além da narrativa no contexto mainstream das Hq’s. Ao passo em que está preso às determinações do universo em que está inserido, ele tenta tomar consciência disso através dos personagens.
Uma espécie de crítica metalinguística ao momento dos quadrinhos e seus críticos, mesmo que profundamente atenuada pela ironia de a história não ser grande coisa, justamente por conta das limitações de continuidade. É como se Remender estivesse querendo dizer que a história é muito boa, e poderia ser ainda melhor – mas ela não é, e ele sabe disso.
Talvez o elemento mais emblemático dessa situação, em que Remender parece ver a si próprio, são os constantes recordatórios durante o volume. Como dissemos, a história é relativamente bem desenvolvida, alguns personagens novos, como os Gêmeos do Apocalipse, são muito interessantes, alguns velhos conhecidos do público, como Solaris, ganham novamente espaço, assim como velhos relacionamentos, como eterna síndrome de Electra (é bom lembrar que trata-se da tragédia grega e não da ninja) da Feiticeira Escarlate com seu pai, ganham novas nuances bem escritas pelo autor.
Mas se você quiser saber porque o Wolverine está sem seu fator de cura, e porque o Capitão América virou um velho caquético, se vira – junte os milhões de reais para ler as outras centenas de histórias onde isso aconteceu. E, goste ou não, concorde ou não, isso prejudica a fruição da obra. Como sempre, nós temos em mãos algo extremamente luxuoso materialmente, e de conteúdo até bem feito, mas que é dirigido somente ao público mais hardcore dos quadrinhos – e isso não é uma coisa boa.
Pois bem, em que pé estamos em Vingar a Terra? Kang, o vilão viajante do tempo, bolou um plano sensacional e brilhante, que ninguém nunca tentou antes, para conseguir o que nenhum vilão nunca nem imaginou – viajar no tempo, bagunçar linhas temporais e conquistar o mundo. Estamos todos chocados com tamanha criatividade e inteligência que um sujeito que viaja pelo tempo e tem o conhecimento de eras inteiras pode ter. Eu avisei lá em cima que a premissa era besta.
Vingar a Terra é um arco que mostra que nem sempre qualquer união de heróis funciona, às vezes levando-os ao desespero. Nós somos levados também ao utópico Planeta X, também conhecido como a Terra-13133, onde o encerramento paradisíaco dos mutantes – muito similar ao que Magneto queria ter feito quando manipulou a Feiticeira Escarlate – após a destruição da Terra como era conhecida, na verdade não passa de um imenso cemitério de memórias e ações das quais muitos se arrependem, e outros preferem esconder; se há uma regra geral, é um sentimento de culpa que todos – de alguma forma – possuem.
O leitor descobre aqui a narração em off do Destrutor, que nas edições anteriores e ao fim do arco praticamente chora juntamente com Janet o desaparecimento da filha deles, após ser raptada por Kang. Este planejara absolutamente todos os passos dos Gêmeos, a quebra dos 7 futuros possíveis e a tentativa de assegurar que a única linha do tempo que permanecesse ativa fosse, enfim, a da Dinastia Kang.
Percebeu a maçaroca? Calma, amigo leitor, porque nesse balaio ainda vai entrar o Caveira Vermelha, que – obviamente – só vai bagunçar ainda mais uma situação absolutamente limítrofe. Afinal – obviamente – a história não pode simplesmente acabar, e ele será o responsável pela mini-mega-saga Eixo mencionada lá no começo da resenha. Agora sim, pode tomar seu rivotril – obviamente.
Pelo menos, a arte vale!
Ainda insistindo na tese de que, apesar da bagunça, ainda é um volume mediano, se tem uma coisa que parece que a Marvel acerta em 86% dos casos (estatística estimada pelo DataRaphael) é com seus desenhistas. Embora não seja nenhum primor, ter um time do lápis que envolve nomes como Daniel Acuña (#18 a 22 e 25), Paul Renaud (Anual), Sanford Greene (#23) e Salvador Larroca (#24) ao menos garante que a arte chame a atenção, e faça o leitor considerar ao menos um pouco gastar seu dinheiro com o volume.
Perceba, amigo leitor, que dessa vez eu até consegui conter meus brios comentando Fabulosos Vingadores: Vingar a Terra, e não perdi muitos parágrafos novamente chumbando os exageros criados pelos conceitos de universo compartilhado e mega-sagas. É uma questão de ponderação e observação – acompanhe nossas resenhas de quadrinhos, você verá que os melhores arcos são sempre aqueles independentes do resto de seus universos, ou então trabalhos autorais.
E chega uma hora em que isso não é mais “opinião”, mas estatística. E, felizmente, todos os indicadores de mercado mostram que a imensa maioria dos amigos leitores concorda conosco, demonstrando enfado do atual modelo das grandes editoras e de seus super-heróis já a um bom tempo.
Porque, para eles, não importa se é Espetacular, Incrível, Fantástico ou Fabuloso – no final, é tudo a mesma tranqueira.