Entre as nossas publicações nacionais, as edições do selo Vertigo são ótimas opções para quem anda torcendo o nariz para super-heróis. No entanto, mesmo entre essas alternativas, são muito poucas as HQ’s de ficção científica que dão as caras por aqui, para desgosto do brasileiro que curte esse tipo de narrativa, que só tem a lamentar quando compara nossa situação com o catálogo disponível aos nossos irmãos da América de cima. Assunto para outro pôr do sol, é verdade, mas esse cenário torna a criação de Simon Oliver, DPF: Departamento de Polícia da Física (FBP: Federal Bureau of Phisics), um pouco mais interessante para nós.
Na resenha do volume anterior, procurei deixar claro que a série mostrava potencial, apesar de alguns tropeços e conveniências do roteiro. A boa notícia é que o segundo encadernado da série lançada pela Panini, com o arco Se Você Estivesse Aqui (contendo os números de 08 a 13 das edições gringas), mostra um passo mais firme de Oliver, além de explorar outros conceitos bacanas que a física desvairada daquele mundo permite. As observações sobre a arte de Robbi Rodriguez, a cor de Rico Renzi e as capas de Nathan Fox, feitas no texto do primeiro encadernado, continuam valendo. Toda a equipe mantém o entrosamento e Rodriguez se mostra mais à vontade em termos de narrativa. Se você tinha dúvidas quanto a continuar a acompanhar, já percebeu que minha opinião é que esse arco vale a pena.
Adam, Rosa e Cícero estão em Nakeet, Alasca, local com grande concentração de perturbações de espaço-tempo. Enquanto Adam continua tentando encontrar o homem que pode ter respostas sobre seu pai, os três estão trabalhando com o desmantelamento de uma unidade de pesquisa da DPF na cidade, graças aos cortes no orçamento. A coisa fica mais interessante quando descobrimos, já nas primeiras páginas, que o foco da pesquisa tem a ver com mapeamento da realidade. Só pelo termo, o leitor automaticamente já espera que alguma coisa inesperada cause uma bagunça dos diabos para ser desenrolada a seguir, certo? Tudo bem, é exatamente isso, mas o que importa é que Simon Oliver consegue nos desafiar a compreender o cenário todo. Como é bom ter a história completa em mãos, pois imagino como seria frustrante ler um capítulo por mês.
No parágrafo anterior, o uso da palavra “realidade” pode ter dado a entender que estamos falando de algo similar ao seriado Fringe, cujo pano de fundo era o conceito de universo alternativo. Certo de novo e atire a primeira pedra quem não acha o tema atraente! No meio da aventura de Adam e Rosa, esta revelando aos poucos seu passado, a participação oculta de Lance Blackwood no esquema geral começa também a ficar mais clara, o que é outro ponto positivo, pois até aqui não houve enrolação a fim de manter o mistério no ar. A verdade é que ao ler o arco Se Você Estivesse Aqui, lá pela metade da edição algumas pessoas podem questionar-se se a coisa toda realmente faz sentido. Dá vontade de voltar e recomeçar, pois a sensação de confusão é similar à dos personagens, mas é irresistível seguir e ver onde isso vai dar. Ao final, a recompensa está lá e prova que não dormimos no meio e nem o roteirista estava de brincadeira.
Tudo que falei anteriormente indica que vale a aquisição. Além disso, provavelmente, pode provocar o impulso de reler tudo. Não reli para atestar (ainda o farei, com certeza), mas pode até ser que a releitura revele alguns detalhes desagradáveis que passaram despercebidos, no entanto, com esse segundo volume, DPF mostrou-se digno de mais atenção, pelo menos. Em relação ao anterior, aumentou a nota – conforme você já deve ter percebido – e o meu ânimo para o próximo encadernado.