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Cinco por Infinito – O desfile da arte de Maroto!

Em Cinco por Infinito, Maroto pincela uma narrativa simplista emoldurada por uma arte sem par

Cinco por Infinito, do magnífico desenhista Esteban Maroto, lançado recentemente pela editora Pipoca & Nanquim, é de fato um clássico da ficção científica. Tanto na acepção positiva quanto negativa da palavra. Publicado pela primeira vez entre 1967 e 1970, e agora reunido num tijolo pela editora brasileira, a obra de Maroto tem valores e deméritos, mas os segundos se dão muito menos por qualquer falta de qualificação do autor e muito mais por um adversário comum e implacável de muitos artistas: o tempo.

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É um fato que eventualmente, grandes obras sofrem com anacronismo e superação das suas ideias e valores, mas esse tende a ser um problema particularmente sensível para a ficção científica, e um dos motivos pelos quais ela tende a ser um gênero extremamente difícil de se trabalhar: quando uma obra de ficção científica não envelhece bem, ela não envelhece bem mesmo – exponencialmente pior do que outros gêneros.

Exatamente por isso, decidimos começar essa resenha tirando esse elefante cósmico da sala: a qualidade do roteiro de Cinco por Infinito é diametralmente oposta à qualidade da arte. Novamente, não é porque a narrativa seja ruim; o aspecto visual, do “caminho do olho”, é absolutamente brilhante. Coisa de mestre. Os temas trabalhados, no entanto, pesam para um leitor casual que ache que isso aqui é um supra-sumo sci-fi.

Na trama, um alienígena chamado Infinito teve seu planeta devastado por robôs criados por membros da sua própria raça. Sozinho, ele decide enviar quatro naves para recrutar humanos que o ajudarão na sua busca por conhecimento e paz no universo. E é mais ou menos isso. O quadrinho tem um caráter episódico, com cada fascículo tendo histórias relativamente contidas, com pouco senso de progressão. Em cada uma delas, apesar da premissa de ficção científica, Maroto parece querer encontrar desculpas narrativas para desfilar sua monumental habilidade.

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Isso faz com que, conceitualmente, Cinco por Infinito seja uma enorme e deslumbrante colcha de retalhos. O espanhol não faz questão nenhuma de esconder suas influências, que são apenas as melhores – seus designs espaciais hiperrealistas lembram qualquer fã de quadrinhos do lendário Wally Wood mas, conforme a narrativa tergiversa da ficção científica para sub-gêneros mais próximos do pulp, como um sword & planet, vemos também nuances de Alex Raymond e a influência de seu Flash Gordon.

Imergindo no espaço

Não obstante, publicando no auge dos anos 1960, Maroto também demonstra um certo apreço pelo potencial lisérgico da arte da época, e sua mistura de designs espaciais bombásticos mas também oníricos nos aponta que ele não era nem de longe alienado aos grandes das grandes, como Kirby e Ditko. De fato, toda a composição de cenários de Maroto é tão hiper-detalhista em sua criatividade cósmica que realmente parece que, por vezes, estamos diantes de cenários verdadeiros, como se copiados de uma fotografia tirada em um planeta distante. 

A fauna e a flora têm vida no traço do espanhol; assim como as ameaças e ambientes onde os heróis se metem emanam uma pungente aura de envolvimento. É realmente difícil não imergir nessas páginas. Cinco por Infinito foi uma daquelas obras que, tal qual Valerian e Lone Sloane, faziam os leitores sonharem com aventuras espaciais nos anos 1960. Mas, de novo, nos anos 1960.

Porque é preciso realmente algum esforço para deixar de lado uma certa verborragia desnecessária da parte do autor, que tenta legitimar seu traço grandiloquente com pretensas previsões do futuro e críticas sociais não-exploradas – como se a envergadura da sua arte não fosse o bastante para sustentar a continuidade da narrativa, quando, hoje, percebemos que é justamente o contrário.

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Cinco contra o tempo

Algumas premissas são simplesmente risíveis, outras parecem ser deliberadamente relegadas. Apesar de a premissa de recrutamento na Terra lembrar até mesmo um super sentai (quem assistiu Flashman sabe do que falamos), o fato é que seu desenvolvimento é bastante análogo aos primeiros passos incertos de grupos como o Quarteto Fantástico ou o despojo de pretensão dos seus antecessores mais próximos do pulp, os Desafiadores do Desconhecido

Algo que chama a atenção nesse sentido de uma ficção narrativamente mais primária é que, mesmo com os magníficos quadros cheios de detalhes de alta qualidade, a imensa maioria dos alienígenas inteligentes são apenas humanóides pontuados com detalhes distintivos. Mesmo tendo todas as referências pregressas de coisas como Flash Gordon para superar e atualizar, e mesmo tendo a liberdade que séries como Star Trek queriam ter, mas estavam limitadas pelos recursos televisivos, Maroto parece confortável em apenas reproduzir o tipo de conceito que inspirava Ming e os klingons originais.

Mas, independente disso, o friso realmente importante é: Maroto é um artista sem igual, de uma qualidade e estilo únicos, e, se o amigo leitor tem a oportunidade de ter uma obra coesa de sua autoria como Cinco por Infinito em sua prateleira, ele deveria ter. Porque, independente de a narrativa ser superada, inevitavelmente, muito mais coisa também o é com muitos menos qualidade – e também devemos levar em consideração que o autor nunca teve a intenção de criar um tomo filosófico. Apenas divertir com tropos sci-fi abastecidos por uma arte magnífica.

Portanto, desligue o cérebro e pegue sua arma laser. Infinito precisa da sua ajuda para manter os anos 60 e toda sua criatividade vivos!

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