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Cidadão N – Múltiplas referências!

Cidadão N

Quem não curte chegar até uma determinada obra por acaso, sentindo no processo uma identificação imediata com o referencial do autor? E se esse referencial fosse além da ambientação social ou política de onde você mora, mas tocasse diretamente na sua formação como leitor, alcançando um espaço do seu íntimo difícil de verbalizar, embora você mesmo nunca tenha duvidado da sua existência? Bem, se você consumiu quadrinhos, principalmente de super-heróis, desenhos animados, ficção científica e fantasia em doses cavalares ao longo da sua vida– entre outros produtos de cultura geral – e ainda tem algum interesse por mundos ficcionais, Cidadão N foi feito para você!

Cidadão N

Partindo do conceito de um lugar chamado Imaginário, de onde as ideias surgem para as utilizarmos ou não, a personificação de uma delas, Euriska, que acabou descartada por um certo quadrinhista bastante conhecido, tenta voltar para casa, mas não encontra a passagem. Só resta pedir ajuda ao Cidadão N, um garoto que vislumbra possibilidades infinitas nos cenários mais improváveis. Na jornada, os dois cruzam com inúmeras figuras familiares, incluindo um certo Mago de Northampton e várias representações perfeitamente reconhecíveis da cultura pop, para contar uma história alegórica sobre a beleza da imaginação, de como ela é maravilhosamente utilizada por alguns e profanada por outros.  O texto transborda amor pela arte de contar histórias, além de uma reverência explícita – entre uma ou outra crítica direta – por tudo que é citado visualmente.

Cidadão N

Projeto contemplado pelo Proac  SP, o álbum foi escrito e ilustrado pelo artista multimídia Danyael Lopes, estreando nos quadrinhos.  Foi alcançada uma unidade fantástica entre a temática e a arte, caminhando entre o realista e o estilizado, sem que isso criasse um conflito narrativo. O único problema de Cidadão N é a estruturação de seu roteiro, que se apresenta episódico demais para uma HQ com cerca de cinquenta páginas, prejudicando um pouco o ritmo da leitura. Talvez seja informação demais para pouco espaço, tendo que lidar com o problema de Euriska, contar a origem do personagem principal e outras subtramas, mas é algo perdoável em se tratando do escopo e da ambição da obra, ainda mais sendo um trabalho de estreia.

Cidadão N

A edição lançada pela Veneta tem uma qualidade gráfica muito boa, contando com um pequeno texto abordando casos de doppelgängers, um conceito interessante abordado na história. Os tradicionais esboços do artista também tem espaço no final, nos dando uma ideia de como alguns personagens poderiam ter sido e apresenta um vislumbre do processo de criação do artista. Por último, acompanha uma película espelhada para enrolar, formando um cilindro, e fazer uma brincadeira ótica, refletindo a imagem anamórfica na contra-capa do álbum. Muito interessante e tem tudo a ver com a pegada deste trabalho.

Cidadão N é mais um ponto para o quadrinho nacional. É um trabalho que – no mínimo – esbanja sinceridade, feito por alguém que tinha algo a dizer. Que Danyael Lopes continue sintonizado com o Imaginário!

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