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Batman: Terra Um Vol. 2 – Cinematográfico sem forçar!

Batman: Terra Um Vol. 2

Batman: Terra Um Vol. 2

Finalmente a Panini publica Batman: Terra Um Vol. 2 (Batman: Earth One Vol. 2), depois de um ano e meio, mais ou menos, de seu lançamento na terra do Tio Sam. E aí? Além daquele acabamento gráfico super bacana, com capa dura, papel couché, 164 páginas e o preço razoável de R$ 29,90, por qual motivo você deveria comprar? Tudo bem, você já percebeu que vem por aí uma avaliação positiva, pois a nota aí em cima não mente, além do subtítulo marotamente lisonjeiro. Fora isso, quem comprou o primeiro (aliás, leia a resenha dele, se ainda não o fez) não vai querer deixá-lo de fora de sua coleção, mas, se vamos falar sobre esse assunto, é preciso ser honesto. Se não fosse pela arte, a HQ teria muito pouco a oferecer.

Eu sei que já falei isso no texto do Vol. 1. Mesmo ali, não desprezei o trabalho de Geoff Johns, mas há de se questionar essas iniciativas que recontam a origem dos heróis clássicos da casa, com propósitos mais, digamos, “realistas”. Depois de quase oito décadas de histórias, a DC coloca um nome quente do mercado, esperando que ele traga algo de novo, mas reconhecível ao mesmo tempo. Vamos à trama da continuação: Batman intimida o submundo com a ajuda de Alfred, enquanto vai se acostumando e aprendendo os macetes da vida de vigilante. Paralelo a isso, o detetive Gordon tenta endireitar o parceiro alcoólatra Bullock, ambos lidando com as consequências da morte do prefeito e chefão do crime Oswald Cobblepot. Os irmãos Jessica e Harvey Dent , prefeita e promotor, fazem sua parte na reconstrução de Gotham, com a primeira procurando uma reaproximação de seu amor do passado: Bruce Wayne.

Batman: Terra Um Vol. 2

O vácuo de Cobblepot traz um mistério que esse Batman, que ainda não manja nada da arte de Sherlock Holmes, precisará desvendar, ao mesmo tempo em que começa um série de atentados perpetrados por alguém que gosta de testar sua vítimas com enigmas. Fora isso, ocorrências mencionando um homem-réptil dos esgotos preocupam a polícia. Ufa! Tem bastante coisa, não é? Pois bem, já deu para entender os elementos clássicos com os quais esse roteiro mexe. O que tem de bom? A dinâmica Bruce/Alfred, criando dilemas próprios da vida de combatente do crime, é um ponto a favor da história. Já a inclusão de um antigo interesse romântico, a prefeita-gata Jessica Dent, não cai tão bem, ainda mais ela sendo irmã de Harvey, o que cria uma rusga entre eles que não contribui muito.

Existe uma certa confusão no cenário geral. Esse universo que continua a delinear-se em Batman: Terra Um Vol. 2 tenta ser mais ancorado na realidade, cuja arte de Gary Frank evidencia isso com um Batman que tem seus olhos visíveis, mas traz um personagem como o Crocodilo. Ainda explicam a condição dele como ictiose, como se isso justificasse uma força sobre-humana. É óbvia uma obrigação de repaginar a galeria de coadjuvantes do morcego, mas é muitíssimo complicado tornar alguns desses “realistas”, além do leitor mais antigo não demorar muito para perceber qual é o modus operandi de Johns para subverter a mitologia clássica.

Minha opinião sobre o primeiro volume se mantém aqui. Embora Bruce Wayne/Batman tenha conseguido um pouco mais de substância nesta continuação, Alfred continua como o personagem mais interessante desta proposta. Agindo como um verdadeiro mentor do protagonista, ele é quem levanta questões interessantes sobre a vida dupla e as atitudes do pupilo. Conforme já foi citado, este Batman ainda não é versado nas artes detetivescas, o que traz mais um problema para a ideia de “realismo” do roteirista. Como aconteceu no volume anterior, onde as habilidades em luta corporal do protagonista são explicadas de uma forma um tanto difícil de engolir, a destreza investigativa deste Homem-Morcego começa a ser lapidada em um momento mais avançado de sua vida. Esqueça o cara que se preparou a vida inteira, comprometendo a história onde ela deveria ser mais crível.

Batman: Terra Um Vol. 2

Mais uma vez, a grande estrela em Batman: Terra Um Vol. 2 é a arte de Gary Frank. Independente de qualquer problema conceitual, o traço e a narrativa do desenhista britânico nos colocam dentro da história e tornam a experiência compensadora. Também retornam Jon Sibal na arte-final e Brad Anderson nas cores, repetindo o conjunto vitorioso do Vol. 1. Mais uma vez, “cinematográfico” é o melhor adjetivo para definir o visual da HQ. Mesmo com uma diagramação mais clássica, Frank ainda se solta um pouco nas sequencias de ação e mostra muita segurança na construção das páginas, garantindo a diversão e o prazer dos leitores.

Com esse roteiro irregular, a arte sustenta o conjunto e faz valer a aquisição de Batman: Terra Um Vol. 2. Mais uma vez, não é uma questão de crucificar Geoff Johns, pois ele faz o que pode sob as ordens dos patrões e ainda sai alguma coisa melhor do que 90% publicado na revista mensal do Batman. O Vol. 3 ainda trará o mesmo time, o que já nos dá uma ideia do que esperar.

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