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Aquaman: A Morte de um Rei – Expandindo o mito do personagem!

Geoff Johns tornou o Aquaman não apenas respeitável, mas legível

Nesta edição, Aquaman e o exército atlante estão reclamando posse e se desfazendo de todas as armas de fogo atlantes ao redor dos sete mares – as que não conseguiram chegar a superfície, para ser mais específico. Em Aquaman – A Morte de um Rei, seguimos os eventos do terceiro encadernado da fase do peixoso em Novos 52, Trono de Atlantis, em que o povo submarino, liderado pelo irmão pirado de Arthur Curry, Orm, declarou guerra à superfície.

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Sabendo que existem piratas respiradores-de-ar roubando o armamento atlante, e vendendo-o ao mais alto preço apenas para satisfazer seus desejos particulares, Arthur precisará agir rápido antes que essas armas caiam nas mãos erradas.

Entretanto, o negociador de armas já está distribuindo essas armas para as tais mãos erradas, tornando o mundo da superfície um ligar mais perigoso não apenas para Atlantis e os sete mares, mas para si próprio.

Para conseguir obter informações sobre onde os tais piratas caçadores de armas podem estar, Aquaman foi convencido a buscar a ajuda de Vulko – que conhece praticamente todo tipo de atividade que ocorre sob o nível do mar, tendo sido um dia um leal e confiável conselheiro do trono de Atlantis. Agora, depende do Rei Arthur e de seu exército buscar os piratas da superfície, antes que as coisas piorem ainda mais para os dois distintos mundos.

Geoff Johns, a quem não cansamos de elogiar, introduz um bom punhado de novos personagens de Atlantis na série do Aquaman dos Novos 52, assim como alguns outros personagens já conhecidos do seu mythos (alguns que inclusive remetem a Era de Ouro!). Um dos personagens mais interessantes nesse sentido é Tula. Tula é mostrada como sendo irmã de Orm, e líder da mílicia atlante que dá um bom trabalho no meio dos conflitos. Não bastasse a boa construção da personagem, seu visual – como muitos outros na série do Aquaman, é bem legal.

Murk também aparece nessa edição, e ainda parece se questionar porquê o Aquaman tem tanto interesse no povo da superfície. Entretanto, é realmente curioso notar – méritos de Johns – como Aquaman exemplica a perspectiva inversa de uma criança em Boston durante a Guerra Atlante, o que explicaria – mais ou menos – porque Murk consegue encontrar um patamar comum com o herói.

Tendo vindo a superfície apenas algumas vezes antes, Murk é cético em relação ao mundo da superfície, pensando que todos ali são uma ameaça a todo o resto do mundo, e não deveriam ser tratados de forma leviana. O personagem de Murk é um contraponto interessante colocado por Johns na história, pois ele representa muito dos “valores” de um soldado (honra, integridade, lealdade, coragem, etc.) que os atlantes preservam tanto quanto a força bruta de seu exército.

Mesmo que ele pareça estar fazendo seu melhor para proteger os sete mares, não é da maneira como Aquaman deseja que Atlantis – ou ele mesmo – sejam representados, desejando que seus compatriotas ajam como uma nação civilizada. Para os padrões da superfície, claro.

Resgatando personagens clássicos

Johns também se aprofunda (com o perdão do trocadilho) na história do Corsário, e toda a razão pela qual ele é encontrado no estado deplorável em que estava na edição 17 (que está no volume anterior, Trono de Atlantis).

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Nós vemos mais de Peter Mortimer do que vemos sobre o Corsário em si, o que é uma coisa ótima – Johns sabe como pegar personagens de eras anteriores, mais simples, e torna-los multidimensionais como poucos escritores hoje sabem. Ser um vilão do Aquaman é algo historicamente difícil, mas o autor consegue elaborar uma trama que realmente nos prende a trajetória e as motivações do seu vilão.

Trazendo esses novos e velhos personagens da esfera submarina, Johns continua o seu projeto de tornar o Aquaman um personagem mainstream de maneira mais orgânica – algo que não vemos em outros projetos da editora, ou mesmo da concorrente, que age de maneira similar. É claro que muitos vão argumentar que Aquaman é um personagem clássico, membro fundador da Liga, etc.

Mas venhamos e convenhamos que Arthur Curry nunca se sustentou por conta própria, e isso é um fato inexorável. Sempre foi um personagem B, muitas vezes C, e não há problema nenhum em admitir isso. Muito pelo contrário, é de se louvar que alguém como Johns consiga demonstrar na prática a epítome estabelecida por Alan Moore – não existem personagens ruins, apenas escritores ruins.

Seguindo em frente, outro grande mérito dessa fase é a impressionante sequência de bons artistas. Com a saída de Ivan Reis do título, poderíamos pensar que haveria uma queda de qualidade – afinal, poucos estão à altura do brasileiro no universo dos super-heróis atualmente.

Mas Paul Pelletier não deixa a peteca cair. Seu trabalho é fora de série, tanto no aspecto individual dos personagens, quanto nos impressionantes e detalhistas cenários submarinos. A impressão geral é que o desenhista já começou seu run na série de maneira muito confortável – talvez, sim, por conta dos bons roteiros de Johns, mas é óbvio que o sujeito tem talento com a caneta.

Os painéis de Pelletier conseguem mesclar características de um desenho mais clássico a características modernas, mais arrojadas, fazendo a transição da arte de Reis para a sua parecer tão natural quanto poderia ser nessa situação. Seus desenhos, seguindo esse modelo mais clássico, ainda permitem a Rod Reis explorar ao máximo possível sua paleta, tornando esses painéis ricos em cores e detalhes – mesmo debaixo d’água, ao contrário do que se poderia supor.

Finalmente, um universo aquático para o Aquaman

Mais do que as características gerais, Pelletier, assim como Reis, entende claramente a proposta de Johns de construir um mythos mais sólido para um clássico personagem – o que implica na criação de designs bastante únicos e distintos para cada personagem, mas, ainda assim, possuindo uma certa “identidade” atlante.

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É muito claro que autor e artistas chegaram a um patamar comum sobre qual visão do personagem apresentar, e isso obviamente é sempre o ângulo certo para se abordar qualquer história em quadrinho. Das armas atlantes até cidade submarina em si, existe uma representação sólida de uma civilização com seus próprios traços culturais, tornando a experiência de Aquaman mais interessante do que se poderia imaginar – um mundo à parte, dentro do universo DC e baseado em um personagem clássico a muito ignorado.

Aquaman – A Morte de um Rei é uma das poucas recomendações que este triste colunista faz dentro do universo de super-heróis a um bom tempo. Não necessariamente porque seja surpreendente – algo único, nunca antes visto. Não é. Mas não deixa de ser muito interessante essa tecla em que venho batendo desde minha resenha anterior do personagem – Os Outros: eu tenho que pagar minha língua, pois nunca achei que fosse viver para ver Aquaman se tornar um personagem interessante.

Mas parece que uma boa equipe, como Johns e seus artistas, é capaz de fazer qualquer um admitir que mesmo Aquaman, o cavalgador de golfinhos e personagem mais inútil que o Chefe Apache nos Super Amigos, pode render uma tremenda história.

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