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Os Quadrinhos Selvagens de Conan, O Bárbaro!

Conheça uma breve história de Conan nas páginas dos quadrinhos

“O que é o melhor na vida?” Todos nós sabemos a resposta. Porque Conan, o Bárbaro, a maior criação de Robert E. Howard, é um dos personagens mais bacanas que surgiram na literatura pulp do início do século passado. Claro, a frase acima deriva da famosa adaptação com Arnold Schwarzenegger – amada por alguns fãs, odiada por outros – mas não é dela que falaremos aqui.

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Eram realmente muitos músculos…

Porque Conan se tornou muito maior do que um personagem apenas da literatura ou dos cinemas. Pelo contrário, uma de suas melhores versões, cuja qualidade se equipara – e, para alguns, até mesmo supera – ao material original escrito pelo próprio Howard está na Nona Arte. Os quadrinhos de Conan são peças insuperáveis de fantasia e aventura.

Mas estamos nos adiantando. Afinal, algum amigo leitor pode não conhecer muito bem a trajetória do Bárbaro. Afie sua espada, e prepare-se para os ventos mais gélidos. Estamos cavalgando para a Ciméria.

Lembranças de uma época nunca antes sonhada!

Um cimério dos ermos nórdicos da era Hiboriana, Conan habitou uma terra e um tempo para os quais Howard criou toda uma história, geografia e mitologia, não apenas para dar aos seus personagens e histórias um contexto que aumentaria o envolvimento dos leitores, mas também com o qual ele não precisaria se preocupar em realizar o tipo de pesquisa história necessária se as aventuras de Conan se passassem em um período e local reais do mundo.

Embora ele nunca tenha ido tão a fundo como Tolkien foi, que, como sabemos, chegou a criar os idiomas usados pelas raças que habitam sua Terra-Média, os mapas e a história de Howard para a Era Hiboriana dão a esta profundidade e riqueza, e são particularmente úteis a respeito das alianças e inimizades que existem entre regiões e líderes. Sabe tudo o que você adora em As Crônicas do Fogo e Gelo do Martin? Pois bem, Howard já trilhava esse caminho algumas décadas antes.

A primeira aparição impressa de Conan aconteceu em 1932, em uma história escrita por Howard chamada The Phoenix on the Sword. Ela foi publicada em Weird Tales, uma revista pulp, que também publicava trabalhos de um certo H. P. Lovecraft, de quem posteriormente Howard se tornaria amigo e correspondente – e que influenciaria a obra de Howard com tons mais sombrios. Phoenix é uma história que introduz Conan em um ponto já maduro da sua vida, onde ele se tornou rei da Aquilônia, após uma vida de exploração e aventura.

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E ele já parecia com o Schwarzenegger. É sério, veja a semelhança!

Mas a maneira como ele se torna rei não poderia ser mais típica de Conan: estrangulando o ocupante anterior do trono enquanto ele ainda estava sentado no mesmo – Howard demonstrando a quedinha que Conan sempre teve por gestos chamativos desde o início. De fato, em uma história anterior do autor, People of the Dark, também estrelava um Conan (chamado de Conan, The Reaver (Saqueador))), que tinha muito em comum com O Bárbaro; ao menos em termos de descrição física.

De qualquer forma, Phoenix é uma maneira interessante de introdução do personagem, dando uma perspectiva da vida de Conan em um momento onde ele já havia conquistado todas a glórias – e também por apresentar diversas outras marcas que seriam características das histórias de Conan, como monstros, demônios e magos. Uma espécie de Beowulf, contado ao contrário.

Através de outras 29 histórias que Howard escreveu, Conan teve diversas ocupações em suas aventuras – um pirata, um ladrão, um mercenário, um guerreiro e um rei. Quando o autor havia vendido sua sexta história para a Weird Tales, The Pool of the Black One, estava bastante claro, segundo uma carta de Howard para seu amigo Clark Ashton, que Conan era um personagem extremamente simples de se escrever, detalhando sobre como, por semanas, ele não havia feito nada que não fosse escrever histórias de Conan.

Outra grande característica da escrita de Howard é o seu fascínio com os horizontes distantes – e o que existe além deles, a marca dos grandes escritores da fantasia. Esse senso de que as histórias podem te levar para qualquer lugar, e encontrar qualquer coisa lá é uma das principais características e pilares de toda grande saga fantástica já escrita. Mas para ser realmente convincente, elas requerem que o leitor acredite e se entregue àquilo que está sendo dito e descrito para ele.

Robert E. Howard certamente tinha um dom. Conan é, de muitas formas, um dos grandes heróis (ou anti-heróis, se preferir) da cultura pop ocidental, um personagem cuja influência é muita mais extensa e profunda do que um leitor incauto pode imaginar. Mas basta olhar para outros personagens da ficção, tais quais O Homem Sem Nome de Leone, o Roland Deschain de Stephen King, ou mesmo um Wolverine de Len Wein – a combinação do lutador e andarilho pragmático e solitário encontrado em todos eles já estava ali em Conan. Talvez Howard não tenha criado esse estereótipo; mas ele certamente é uma coisa antes e depois de Conan.

Conan ainda apareceu em outras quatro histórias que Howard escreveu, mas que a Weird Tales originalmente rejeitou – contos que foram descobertos entre suas posses após a sua morte. The Frost Giant’s Daughter, The Vale of Lost Women e The Black Stranger foram todas publicadas entre 1952 e 1967, em uma variedade de publicações. No entanto, nenhuma dessas histórias alcançou o tamanho das melhores histórias de Conan.

Não alcançaram, talvez, na literatura. Porque acabaram se tornando alguns dos melhores textos quando foram acompanhados da belíssima arte de nomes como Barry Windsor-Smith e Cary Nord. Após trilhar inúmeros caminho na literatura durante quase quatro décadas, Conan encontrou um novo horizonte, ainda inexplorado, no início dos anos 70: as histórias em quadrinhos.

Afiando a espada de Conan

Curiosamente, a primeira publicação de Conan nos quadrinhos surgiu em um local inusitado: no México. O Conan de Howard surgiu hablando contra seus inimigos em La Reina de la Costa Negra, inspirada em uma das histórias originais de Conan, Queen of the Black Coast, na antologia miniatura mexicana chamada Cuentos de Abuelito #8 (1952), publicada pela Corporacion Editorial Mexicana, AS. A série apresentava seus protagonistas, Conan e Bêlit – apesar de Conan ser desenhado com cabelos loiros, no lugar dos já conhecidos cabelos negros.

As edições 8 até 12 adaptavam as histórias originais de Howard, enquanto edições subsequentes apresentavam material original. A publicação continuou em praticamente cada uma das edições de Cuentos de Abuelito até o seu número 65.

Uma versão isolada e em tamanho de bolso da série La reina de la Costa Negra foi publicada pela Ediciones Mexicanas Asocidas entre 1959 e 1959, e durou aproximadamente onze edições. Entre 1965 e 1966, ainda, a Ediciones Joma publicou uma versão em tamanho padrão do quadrinho La Reina de la Costa Negra, e o sucesso da HQ simplesmente não diminuía: durou por pelo menos 53 edições.

Mas, mesmo antes dessa aparição “oficial” de Conan nos quadrinhos, outras versões claramente inspiradas no personagem já haviam povoado os quadrinhos de fantasia. Ainda nos anos 50, Gardner Fox e John Giunta se inspiraram abertamente em Conan e seu universo para criar Crom, O Bárbaro, para a publicação Out of this World. No melhor estilo sword-and-sorcery de ser, Crom resgata escandalosamente belas mulheres de situações difíceis, enquanto luta contra monstros e serpentes gigantes.

Assim como Conan, Crom conquista um reino pela força da espada, mas se sente desconfortável com os limites impostos pela civilização. Depois das três aventuras de Crom, não houve nenhuma contribuição significativa para o gênero de fantasia nos quadrinhos, até que o lendário Wally Wood criasse quatro histórias de fantasia e magia para a antologia de horror da Marvel, Tower of Shadows, bem no início dos anos 70. E foi aí que, com o perdão do trocadilho, a mágica aconteceu.

Cada história apresentava um protagonista diferente. A terceira, em particular, que apresentava um bárbaro chamado Vandal combatendo um feiticeiro, era chamada “Of Swords and Sorcery!” No início desse mesmo ano, em uma outra antologia de horror da Marvel, chamada Chamber of Darkness, uma história realizada pela dupla Roy Thomas e Barry Windsor-Smith chamada “The Sword and the Sorcerers!” apresentava um outro guerreiro chamado Starr the Slayer, que era um esboço quase perfeito do Conan que Smith desenharia na estreia do personagem nos quadrinhos – oficialmente – no final daquele mesmo ano.

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Ali, em “secret of the silver sword”? É a história que você está procurando.

A parte curiosa é que Chamber of Darkness, como dito, era uma antologia de horror, não de fantasia, e a participação de uma história de feitiçaria parecia uma decisão editorial estranha, para dizer o mínimo. Mas isso não importa muito, porque foi de fato, onde Conan aportou na Nona Arte. Os leitores não perceberam isso na época. Mas tudo bem, porque, aparentemente, nem o escritor e o artista da HQ perceberam também.

Thomas, O Bárbaro

Roy Thomas já era uma lenda no mundo dos quadrinhos nessa época. Como ele mesmo descreveu em algumas entrevistas, no final dos anos 60 leitores começaram a bombardear a Marvel com cartas exigindo o que eles chamavam de quadrinhos “sword and sorcery” – fantasia, para nós aqui. Ele queriam versões nas quatro cores das aventuras de personagens como Frodo da Terra-Média de Tolkien, ou o John Carter em Barsoon de Edgar Rice Burroughs. Ou o Conan na Era Hiboriana de Robert E. Howard. Conan, em particular, estava bem fresco na mente dos leitores, como provaram as vendas da reimpressão da série Lancer, que apresentaram, no meio dos anos 60, as belíssimas e icônicas artes de Frank Frazetta para o personagem.

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Sim, você já viu essa imagem do Frazetta um milhão de vezes. Vai ver mais uma.

De acordo com Thomas, o editor-chefe da Marvel no período, um tal de Stan Lee, estava bastante ciente do interesse dos seus leitores em materiais análogos a fantasia de Conan – mesmo que nem ele, nem Thomas, tivessem qualquer tipo de experiência com esse gênero. Thomas menciona, de fato, ele nunca havia lido mais do que algumas páginas de qualquer história de Howard quando Lee lhe pediu para escrever um memorando para Martin Goodman, o cara da grana, para tentar convence-lo a ir atrás dos direitos para licenciar um dos personagens de fantasia que estavam fervilhando na cultura pop da época.

Thomas diz que Goodman foi persuadido, mas que não estava muito disposto a fazer uma aposta tão grande com um gênero não-testado. Lembrando que, no início dos anos 60, a Marvel ainda era “apenas” uma editora de super-heróis que havia evoluído de uma editora de histórias de monstros. Sujeitos com espadas em um mundo fantástico demasiadamente exagerado de um pseudo-passado era algo além da esfera de experiência dos envolvidos. Mas Goodman estava disposto a liberar uma pequena – mesmo para os padrões da época – quantia de 150 doláres por edição para licenciar o personagem.

Mais ou menos na mesma época em que Thomas recebeu a luz verde para ir atrás de um personagem licenciado por um punhado de dólares – uma tarefa que parecia virtualmente impossível (mesmo que, segundo o próprio Thomas, suas memórias sobre a época estejam um pouco bagunçadas) – ele escreveu uma história curta para o número 4 de Chamber of Darkness, com o jovem artista Barry Smith comandando o lápis. A história tratava de um rei bárbaro com músculos de sobra.

Essa história: a supracitada “The Sword and the Sorcerers”. A estrela, Starr, claramente a descrição de Conan. A única desculpa para não dizer que essa é explicitamente uma história de Conan é a temática da narrativa – no lugar de uma pancadaria bem direta no estilo do cimério, a história descreve o escritor pulp Len Carson, atormentado e finalmente assassinado pela sua própria criação fictícia.

Nas reimpressões da história de Starr, ela é às vezes chamada de “teste” para Conan. Mas não era. Era uma história descartável, sem dúvida alimentada pelas discussões de bastidores que Thomas estava tendo com Lee sobre a crescente popularidade de personagens de fantasia.

E então, temos essa pequena curiosidade: quando Thomas de fato teve aprovação para ir atrás de uma personagem licenciado de fantasia, ele não foi atrás da propriedade de Howard. Ele decidiu ir atrás de Lin Carter, e fazer uma tentativa com Thongor.

Se o amigo leitor não faz IDEIA de quem seja essa camarada, fique tranquilo. Thongor está, de fato, praticamente esquecido hoje em dia. Mas também é um fato que o personagem atingiu uma popularidade respeitável nos anos 60, com seis livros sendo lançados entre 1965 e 1970. O bárbaro Thongor era, incidentalmente, um tributo de Carter ao Conan de Howard, sendo o próprio Carter um dos editores da série Lancer de livros de bolso de Conan – assim, ele era certamente considerado um especialista em tudo relacionado aos estudos hiborianos da época.

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Thongor, O Exigente

Conforme o próprio Thomas coloca, “Stan e eu descobrimos que Conan, que estava em um sem-número de livros de bolso na época, estaria completamente fora da nossa realidade financeira. O próprio Lin gostava de quadrinhos, assim como gostava da ideia de ver Thongor se tornar um herói Marvel”. Mas o agente de Carter queria mais do que 150 dólares por edição para o então todo-poderoso Thongor de Lemuria. Goodman não ia bancar. Fim das negociações.

A Carteira Selvagem de Roy Thomas

Com cada vez mais exigências de leitores entupindo a caixa de correios da editora, e nenhum personagem de fantasia para aplacar a fome voraz deles – com exceção de Starr the Slayer, em sua breve e irônica aparição – Thomas fez uma aposta desesperada, enviando uma carta para os proprietários das licenças de Howard, oferecendo 200 dólares por edição (astutamente não-autorizados por Goodman) para utilizar Conan como um herói Marvel.

Para alegria geral dos leitores de quadrinhos do planeta – e total surpresa de Thomas – os proprietários aceitaram imediatamente, somente para o autor perceber que ele mesmo teria que escrever os roteiros. Não por total amor ao personagem, mas porque agora ele devia para a Marvel uma soma razoável.

Então eu percebi”, disse Thomas, “que era melhor eu começar a escrever pelo menos as primeiras edições para que, se Goodman percebesse a diferença e quisesse seus 50 mangos de volta, eu poderia tirar essa soma do meu próprio vencimento”. Assim, Thomas, que não muito posteriormente sucederia a Stan Lee no cargo de editor-chefe, começou sua carreira como o mais duradouro escritor de Conan de todos os tempos, escrevendo centenas de edições para as aventuras do Bárbaro na Marvel.

Mas mesmo com o personagem devidamente licenciado e com um roteirista a postos, ainda havia um problema. Quem desenharia a bagaça? John Buscema teria sido a escolha perfeita – bem, para qualquer coisa, claro – com o seu notável desdém por super-heróis e sua habilidade sobrenatural para desenhar idílicas paisagens e vigorosos heróis. Mas com 200 doláres indo direto para os proprietários de Conan, não sobrava muito para a Marvel bancar um de seus melhores – e mais caros – artistas no projeto.

Surge Barry Smith, hoje mais conhecido com o “Windsor” no meio dos dois nomes, então um artista de apenas 22 anos oriundo da Inglaterra, que bateu na porta da Marvel dois anos antes com páginas simples que pareciam muito bem ter sido desenhadas por Jack Kirby – ou alguém muito talentoso tentando imita-lo. Smith estava preenchendo vagas em X-Men e Vingadores, e fazendo alguns quebra-galhos aqui e ali, mas suas enérgicas páginas “kirbeanas” e suas sólidas figuras o tornavam perfeito para Conan, o Bárbaro.

Conforme o próprio Smith se lembra, em uma entrevista de 1998 para a Comic Book Artist #2, “eu acredito que Stan não apoiava completamente a ideia de um quadrinho de Conan e, se eu me lembro bem, ele era contra colocar um artista importante em uma HQ que provavelmente iria afundar. Obviamente, eu não era considerado um artista importante no período”.

Smith, agora vastamente considerado um dos maiores artistas da história dos quadrinhos, também foi o mesmo desenhista que, como dissemos, trabalhou com Thomas em Starr the Slayer no ano anterior. E quando foi a hora de realizar Conan, Smith deu a versão da Marvel do personagem de Howard um visual praticamente idêntico ao mostrado por Starr the Slayer naquela fatídica edição de Chamber of Darkness, completada com o elmo de chifres e o medalhão no pescoço. É por isso que Starr é rotulado, retroativamente, um aquecimento para Conan, um tipo de beta, mesmo que nem Thomas nem Smith soubessem disso na época.

Assim, quando Conan o Bárbaro estreou em Outubro de 1970, com uma chamativa capa que anunciava em letras bem chamativas, no melhor estilo da época, “Pela Primeira Vez nos Quadrinhos!”, podemos dizer que elas estavam tecnicamente corretas – e poderosas. Esse quadrinho, desenhado por Smith e escrito pelo agora especialista na obra de Howard, Roy Thomas, certamente foi fundamental para que Conan chegasse ao século XXI com total vigor.

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Smith pondo Conan em maus lençóis já na saída.

A série de Conan não começou com o 100% de aprovação que ela possui hoje. De fato, Thomas chegou a mencionar que, pelas primeiras três ou quatro edições, ele acreditava que os temores de Lee e Goodman eram justificados, e que talvez as vendas meio frias dessas edições mostrassem que seu público ainda não estava completamente preparado para esse novo gênero nos quadrinhos – ou pior, que simplesmente não tivessem tanto interesse assim. Thomas, que jamais pode ser acusado de não confiar no seu próprio taco, bancou a série, a si mesmo e a Smith. Foi a melhor coisa que ele poderia ter feito.

Não muito tempo depois, as vendas começaram a vir – massivamente. Não demorou muito, na verdade, para o cimério começar a surrar mesmo alguns dos heróis mais poderosos – e hoje, emblemáticos – da Casa das Ideias, competindo com eles cabeça a cabeça nas planilhas de mais vendidos do mês. Esse sucesso rendeu a Thomas e Smith um novo patamar de reconhecimento – em particular, para o último – o que também consolidou algumas das melhores parcerias da história dos quadrinhos. Smith permaneceu pelas primeiras 24 edições, e partiu para alçar novos voos. Quem entrou em seu lugar?

Pois bem, se John Buscema era então caro demais para uma série que era uma incógnita, agora ele teria que manter a barra de uma das séries mais populares da Marvel no auge, onde ele a encontrou. Mas nós estamos falando de John Buscema, e é claro que o homem deitou e rolou em cima do personagem – sua versão é considerada quase que unanimemente a definitiva do personagem.

O título Conan, o Bárbaro continuou por 275 edições, entre 1970 e 1993. Após uma breve aparição em Savage Tales, Conan se tornou o astro de sua própria revista em preto-e-branco, A Espada Selvagem de Conan, que seguiu ininterruptamente entre 1974 e 1995. Existe também um Rei Conan, título que durou 55 edições, entre 1980 e 1989. Sete graphic novels da Marvel lançadas entre 1985 e 1992 eram dedicadas ao bárbaro cimério.

Imitadores indignos de Crom!

A popularidade da série de Conan deixou a Marvel a postos para tentar a sorte com outras propriedades do universo de fantasia de Robert E. Howard. Kull, O Conquistador, o primeiro de três quadrinhos com esse título, apareceu pela primeira vez ainda em 1971.

Kull, assim como outros personagens de Howard, fizeram aparições nos títulos da Marvel como Savage Tales, além de também terem figurado n’A Espada Selvagem de Conan. Em 1975, haviam três edições de Kull and the Barbarians apresentando Kull, Red Sonja, e Solomon Kane. Red Sonja, talvez o mais famoso spin-off de Conan, ganhou seu primeiro de três títulos na Marvel em 1976.

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Kull, a outra criação de Howard!

Surfando na crista da onda que ela mesma criou, a Marvel abriu suas asinhas em busca de novos reinos de fantasia para conquistar. E adivinha onde ela foi pousar? Exato, na Lemuria de Thongor! A Marvel acabou por ir atrás da obra de Carter novamente, dessa vez, devidamente bancada por um sucesso colossal – o mesmo personagem que havia inspirado a criação de Carter. Desnecessário dizer, as negociações foram rápidas e tranquilas dessa vez. A partir de Creatures on the Loose #22, de 1973, Thongor e Conan passaram a lutar lado a lado pela glória e honra da Marvel.

Junto com eles, um obscuro Brak, O Bárbaro, de John Jakes, também chegou a figurar nas páginas de Savage Tales da Marvel. Mas os bárbaros estavam na moda, e, como era de praxe ainda nos anos 70, as outras editoras logo correram para publicar suas próprias versões do cimério.

Nomes como Dagar, O Invencível, publicado pela Gold Key em 1972, proclamava aventuras de fantasia na sua capa. Dax, O Guerreiro, realizado de maneira intrincada por Esteban Maroto, apreceu em doze edições da revista Eerie, publicada pela Warren, também em 1972. Duas outras séries heroicas de fantasia, Haxtur e Hoggarth, se seguiram a ela. Em 1975, a Atlas publicou quatro edições de Ironjaw, um bárbaro desfigurado que era mais seguro que a maioria.

A própria DC começou a publicar uma série de doze edições de Claw, The Unconquered, sobre um típico bárbaro que havia sido amaldiçoado com uma poderosa, mas indesejada, mão demoníaca. Claw chegou a retornar em 2006, com duas minisséries.

Com tanto material análogo de Conan – além de uma quantidade razoável de material do próprio – os editores de quadrinhos começaram a procurar por outros heróis de fantasia que rompessem com o modelo de bárbaro-de-olhos-abatidos-que-perdura.

A série de fantasia e ciência da lenda Gil Kane, Blackmark, foi publicada como livro de bolso pela Bantam em 1971, e em 1974 reimpressa como reforço nas quatro primeiras edições de Espada Selvagem de Conan. Decepcionada com as vendas do primeiro livro, a Bantam decidiu não publicar a sequência que Kane já havia planejado, sendo que o trabalho não veio a público até 1979, quando apareceu em uma edição da revista Marvel Preview.

O Ironwolf de Howard Chaykin debutou nas três edições finais de Weird Worlds entre 1973 e 1974. Chaykin ainda retornaria ao personagem em 1992, na graphic novel Ironwolf: Fires of the Revolution. Talvez Ironwolf seja, na verdade, muito mais space opera do que é fantasia somente, mas as histórias tinham o visual e a pegada de uma fantasia heroica.

Algumas das mais conhecidas alternativas ao modelo Conan de bárbaro/rei/herói vem de dois verdadeiros titãs do gênero de fantasia heroica: Fritz Leiber e Michael Moorcock. Os incompatíveis rebeldes da fantasia de Leiber, o enorme bárbaro Fafhrd e o estiloso Gray Mouser, fizeram sua primeira aparição nos quadrinhos em uma história da Mulher-Maravilha, em 1972, assinada pela lenda da ficção científica, Samuel R. Delaney.

No ano seguinte, a DC lançaria o volume Sword of Sorcery, estrelando a dupla. O título durou apenas cinco edições, mas o escritor Dennis O’Neil, e os artistas Chaykin, Walt Simonson e Jim Starlin ofereceram algumas excelentes adaptações e histórias originais. Fafhrd e Gray Mouser não apareceriam nos quadrinhos novamente até uma minissérie de 1991, pelo selo Marvel Imprint, escrita por Howard Chaykin e desenhada por Mike Mignola.

O introspectivo e relutante campeão de Moorcock, Elric, não poderia estar mais distante do expansivo e vigoroso Conan. Após um par de aparições como coadjuvante em Conan, O Bárbaro, e em um one-shot de 1973 pela Windy City Publications, um Elric mais completamente realizado emergiu em 1982, quando a Marvel publicou o volume Elric: The Dreaming City, por Roy Thomas e P. Craig Russell.

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Uma edição devidamente autografada por Russell, e que de forma alguma foi a primeira que achamos no Google.

No ano seguinte, Thomas e Russell acabaram embarcando em uma sequência curta de edições de Elric para a Pacific Comics. Entre 1985 e 1988, Thomas, trabalhou com Russell e outros artistas para adaptar os romances de Elric em quatro minisséries publicadas pela First Comics. No final dos anos 80, a First também publicou adaptações das aventuras de Corum e Hawkmoon, outro aspecto do eterno campeão de Moorcock. Em 1997, Russell ainda escreveu e desenhou uma minissérie adaptando o romance final de Elric para a Dark Horse. Incidentalmente, o próprio Moorcock escreveu uma série do personagem, além de uma graphic novel para a DC em 2007.

Para o inferno com você, Marvel!

Depois dos anos 70, o frisson com os bárbaros deu uma grande acalmada. Conan sobreviveu durante um bom tempo após a derrocada da fantasia enquanto gênero nos quadrinhos, mas não para sempre. Na metade dos anos 90, a franquia começou a perder força. Entre 1994 e 1995, o único título que continuou a ser publicado em formato regular era Conan, The Adventurer, cujo título era retirado de um desenho animado que estava indo ao ar na mesma época.

Em 1995, a Marvel reiniciou o título, e tentou capturar novamente o sucesso de Espada Selvagem de Conan com Conan, The Savage. Ambos os títulos acabaram sendo cancelados no ano seguinte. A Marvel preencheu o vácuo de publicações do personagem com oito minisséries, entre 1997 e 2000, mas Conan não mais vingava na Marvel. O bárbaro iria para uma geladeira mais fria do que os ventos hiperbóreos.

Mas não por muito tempo. A Dark Horse resolveu que um nome como o de Conan era bom e grande demais para ser deixado no limbo. Dessa forma, eles foram atrás do personagem, e o conseguiram, Já em 2003, eles recrutaram ninguém menos do que Kurt Busiek para reapresentar o personagem ao público.

E, pelo jeito, a receita saiu melhor do que se esperava. A partir de um one-shot, que serve como prólogo, intitulado Conan #0: Conan, The Legend, a Dark Horse introduziu uma interpretação renovada do personagem, incorporando adaptações de materiais originais de Howard a novas histórias, sem qualquer tipo de conexão prévia com as muitas séries da Marvel ou qualquer outro material pós-Howard. A série é narrada como se fosse uma lenda, ditada por um personagem chamado Wazir para seu príncipe – ambos vivendo séculos, senão milênios, depois da Era Hiboriana.

De 2004 até hoje, a Dark Horse segue firme e forte publicando o bárbaro, em diversas séries, espalhadas por Conan (2004-2008); Conan the Cimmerian (2008-2010); Conan: Road of Kings (2010-2012); King Conan (2011-2016); Conan the Barbarian (2012-2014); Conan the Avenger (2014-2016); e Conan the Slayer (2016-2017). A editora ainda publicou meia dúzia de edições únicas, e quase uma dúzia de minisséries do personagem, tornando-o um dos seus carros-chefe. A Mythos está publicando uma parte desse material agora no Brasil.

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Conan, na arte de Cary Nord!

Dessa forma, Conan, O Bárbaro octagenário, permanece um símbolo de virilidade, brutalidade e aventura tão poderoso quanto sempre foi. E o fato de assim o ser nos reconforta, pois existem poucas viagens mais instigantes e satisfatórias do que contemplar as tundras selvagens da Ciméria na Era Hiboriana.

Pois antes, era um tempo nunca antes sonhado. Hoje, ele é parte de nossos sonhos e aventuras!

Este artigo foi baseado nas pesquisas de Tim Callahan, M. Keith Booker, Phil Beresford, e nas entrevistas de Roy Thomas, que podem ser encontradas no volumes de luxo de Conan publicados pela Mythos no Brasil!

Quer saber mais sobre heróis da literatura pulp? Não deixe de conferir nosso FormigaCast sobre o tema!

 

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