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John Constantine, Hellblazer – Morte e Cigarros!

John Constantine já enfrentou tudo que podemos imaginar. O safado até mesmo conseguiu escapar do Inferno utilizando como recurso apenas sua malícia… irônico, não? Em Hellblazer – Morte e Cigarros (Death and Cigarettes), vemos o detetive do sobrenatural enfrentar novamente aquela que chega para todos nós uma hora ou outra.

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Esta edição reúne John Constantine, Hellblazer Annual 2011 (publicado originalmente em 2012) e os números 298 a 300 de John Constantine, Hellblazer (publicado originalmente em 2013), e é o último volume da série no selo Vertigo. Leia nossa resenha sobre o encadernado anterior, A Maldição dos Constantine.

Antes da série principal, temos a Annual 2011 com a história A Ponte dos Suicidas, em que uma idosa em seu leito de morte pede que John Constantine descubra o que aconteceu com seu filho. Isso leva o detetive até o local que havia uma ponte onde muitos jovens se suicidaram. Esse curto e interessante segmento é, de fato, o que mais incomoda – no bom sentido – dentro do encadernado. A arte de Simon Bisley, aliada às cores de Brian Buccellato, possui um tom soturno e melancólico que nos ajuda a adentrar no roteiro perturbado de Peter Milligan.

O equilíbrio entre o texto e a arte – neste segmento – é muito satisfatório, e faz com que a junção de ambos nunca fique carregada além de um certo limite, algo importantíssimo em uma história com temas pesados. Qualquer desequilíbrio poderia deixá-lo um tanto quanto exagerado. A decupagem também é bem realizada, lembrando um pouco o cinema noir. Tirando algumas soluções fáceis, é uma leitura que vale a pena.

A primeira história é soturna e melancólica.

A primeira história é soturna e melancólica.

Na história principal, Constantine recebe uma visão profética de sua morte para os próximos dias e isso faz com que o loiro inspirado na figura de Sting comece a agir de maneira um pouco estranha – ou melhor, mais estranha que o “normal”. Sua mulher, Epiphany, tenta protegê-lo de qualquer forma, seja de ameaças externas, como assassinos – mortais ou não –, ou internas como um câncer fulminante ou um acidente na cozinha. Qualquer coisa que eu fale a partir disso pode ser considerado spoiler, então a sinopse fica por aqui.

O roteirista Peter Milligan encerra aqui sua fase com o personagem. Se antes seu texto era bem consistente e instigante em algumas partes, nessa reta final parece que o combustível, que nem era muito premium, já estava na reserva. A ideia geral do arco é interessante e bem intencionada. Quando chegar ao final, entenderá o que Milligan quis fazer e, de certa forma, merece certo respeito. O problema é o caminho traçado até esta etapa.

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Infelizmente, o roteiro não prende o leitor da maneira correta, despertando o interesse e curiosidade a partir de pontos de virada bruscos e forçados, mas que, depois de um tempo, percebe-se que não tiveram um propósito maior – semelhante à finais gancho de novela, talvez?

As resoluções fáceis – deus ex-machina até dizer chega! – e a falta de uma linha central mais objetiva nos dá a impressão que Milligan escreveu tudo às pressas, sem a oportunidade de lapidar mais a história e fazer dela um final digno para um personagem muito interessante. Até existem momentos bons, porém, nada que salte aos olhos ou redima o conjunto.

A trama do protagonista enfrentando a morte não é novidade em Hellblazer, mas sempre nos trouxe histórias memoráveis. Basta lembrarmos do ótimo arco de Hábitos Perigosos, de Garth Ennis. Todavia, aqui, para azar de nós leitores, não há nada que seja merecedor de uma história final. Temos a ironia e a malandragem típica do personagem, mas parece que Milligan estava gripado ou indisposto de alguma forma, trabalhando no piloto automático e deixando as ações de Constantine sem muita personalidade ou coragem.

hellblazer-morte-cigarros-3A arte-final de Stefano Landini e as cores de Brian Buccellato não valorizam os traços de Giuseppe Camuncoli. Existem diversos momentos em que o desenho é funcional em todos os aspectos mas, no geral, é notório que o processo foi apressado. A fisionomia de muitos protagonistas saiu prejudicada em certas passagens e o próprio Buccellato resumiu seu trabalho ao básico na maioria das páginas – diferente do que fez em Annual 11.

É uma pena que um personagem com tamanho potencial acabe prejudicado pela voraz e inescrupulosa máquina editorial. Felizmente, Constantine ainda sobrevive graças às grandes histórias que estão acumulando poeira em algum canto obscuro da estante. Revisitá-las seria interessante.

Nos rótulos das garrafas ao fundo da imagem, estão os nomes dos principais artistas de Hellblazer. Uma bela homenagem.

Nos rótulos das garrafas ao fundo da imagem, estão os nomes dos principais artistas de Hellblazer. Uma bela homenagem.

John Constantine, Hellblazer – Morte e Cigarros é um desfecho sem graça para o personagem. Notamos uma boa intenção de seus realizadores, mas alguma coisa, seja a pressão editorial ou uma lacuna criativa, fez com que aquele brilho que todo leitor anseia por ver em cada quadrinho que lê, não aparecesse.

Se eu fumasse, acenderia um cigarro agora.

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