O experimentalismo de Tubarões Voadores
Quem se interessa de verdade por quadrinhos nacionais já ouviu falar de uma turma, lá pela década de 1980, que já produzia um material bacana, encarando os trancos de uma economia capenga. Na verdade, essa geração já mostrava seu trabalho uma década antes, na lendária revista Balão, contando com nomes como Angeli, Laerte, os irmãos Caruso e Luiz Gê, este último o criador de Tubarões Voadores! O motivo da HQ merecer o espaço é que resultou em um experimento muito interessante, no sentido da progressão do tempo em uma mídia estática.
(Falando em Quadrinho Nacional, confira também as resenhas de Tungstênio e Talco de Vidro, de Marcello Quintanilha)
Arrigo Barnabé, um dos músicos a integrar o movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulistana, sempre assumiu a influência e o diálogo com os quadrinhos. Havia lançado em 1980 o LP independente Clara Crocodilo, cuja arte da capa é de Luiz Gê. Com um tipo de parceria formada, em 84 o músico e compositor prepara um novo trabalho, com arte encomendada ao amigo novamente. Eis que uma HQ que Luiz Gê vinha preparando acaba incorporada neste trabalho musical, inclusive nomeando-o.
Tubarões Voadores lida com a paranoia da classe média nas grandes metrópoles, às voltas com uma situação absurda, surreal e inevitável, com uma narrativa que casa muito bem com a arte estilizada e o conceito. Arrigo Barnabé decidiu algo inédito até então, criando uma trilha sonora que marca o tempo de leitura, quadro por quadro. Uma experiência fantástica para uma mídia sequencial que depende do ritmo do leitor. A história foi então formatada como encarte para acompanhar o LP, depois publicada entre 86 e 87 na revista Circo, que teve Luiz Gê como editor, e em outras poucas ocasiões nos anos seguintes.
Este é mais um momento importante do quadrinho nacional. Abaixo, uma montagem feita por um fã, passando os quadros da HQ conforme a música avança.
Confira!