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Sobre mangás e comics – Por que um não segue o exemplo do outro?

“Por que os comics não são iguais aos mangás?”

Talvez você já tenha ouvido a pergunta acima. Eu já ouvi ao ponto da exaustão. “Por que a Marvel não encerra o Homem-Aranha?” ou “por que a DC não acaba o Batman?”; “Por que não trabalhar com arcos fechados ao invés de revistas mensais?” Bom, a razão é simples: comics são comics, mangás são mangás – são imiscíveis. Até por isso, usarei o termo “comics“, porque chamar de “histórias em quadrinhos”… bom, mangás também são, pois usam quadrinhos, e ficaria confuso.

mangás

A Action Comics, revista onde surgiu um certo kryptoniano, está chegando ao inacreditável número 1000 esse ano.

(Nota do editor: para o amigo leitor que não sabe, a maior parte das escolas de quadrinhos do mundo possui sua própria denominação; aqui é “quadrinhos”, na Coreia é “manhwa“, na Itália é “fumetti“, e por aí vai.)

Você pode até migrar elementos de um para outro, porém ambas são linhagens próprias, com identidades próprias, sendo impossível que o “comics se torne mangá” ou vice-versa. Encerrado o assunto, certo?

Ok, ok, eu explico um pouco mais a fundo. Contudo, antes, um adendo: não entrarei no sentido semântico da coisa toda. Nós usamos o termo mangá para, você sabe, os gibis que contam histórias produzidas por japoneses – porém, em seu sentido original, mangá é toda obra em quadrinho, logo, para os japoneses, os comics são mangá. Com isso fora do caminho, vamos ao que interessa.

O fator mais relevante é o cultural. O mangá é parte quintessencial da cultura japonesa. Pessoas de todas as idades leem. O mesmo não podemos dizer dos comics, que no Ocidente são relegados ao nicho de “cultura nerd/geek”. Claro que isso parece um comentário bobo, porém, essa natureza “expansiva” do mangá é o que contribui com seu formato, ao passo que o mesmo ocorre, inversamente, com os comics.

Veja bem, como o mangá é algo altamente ligado à rotina do japonês, ele deve acompanhar seu leitor. Existem centenas de mangás, sobre os mais diversos temas, produzidos, em geral, semanalmente, o que culmina na preferência da publicação preta e branca, e dos traços, por vezes, mais simples, visto que a quantidade de história a ser entregue é maior.

Em sua maioria, as histórias são sobre o crescimento do personagem, sua evolução. Exatamente por se tratar de seu crescimento, no mangá padrão comercial normalmente não temos o cotidiano do personagem, mas sim momentos pontuais de sua jornada, momentos que irão defini-lo daquele ponto em diante.

Não é só economia – é cultura

Por outro lado, como os comics têm um público mais restrito; são produzidos centenas de gibis, publicados, em sua maioria, mensalmente. O público restrito também restringe a temática, sendo sua imensa maioria sobre histórias fantásticas – principalmente sobre super-heróis. Esse tempo que as editoras tem entre uma história e outra permite que o quadrinho seja colorido, e o desenho melhor trabalhado (nem sempre, claro, pois há mangakas que desenham muito melhor que muito desenhista de comics).

Devido ao formato, acompanhamos o cotidiano do personagem, e não só os momentos importantes, mostrando, não necessariamente, momentos que serão marcantes para ele. Dessa forma, se fossemos comparar grosseiramente os dois, o resultado é que o mangá é como se fosse um filme, enquanto os comics são uma novela.

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Mesmo One Piece, que já dura mais de 20 anos, uma hora vai acabar.

Uma comparação interessante: O mangá mais vendido no Japão, em dezembro, é o One Piece (Nota do colunista: melhor mangá ever), que vendeu mais de 2 milhões de unidades. Nos EUA, o gibis que mais vendeu, foi o (bem marromeno) Doomsday Clock, que vendeu um pouco mais de 150 mil unidades.

Parece um número só de curiosidade, porém, pense que isso é outro fator que também influência os comics. Você encerra o Homem-Aranha. Ok, e agora? Quem venderá o que ele vende? Melhor apostar no cavalo que você já tem, do que num que você nunca viu. Sobre essa questão das vendas no mercado americano, recomendo o artigo do Formiga falando sobre a recente crise de vendas na Marvel. Mostra bem a relação do mercado de comics com seus leitores.

Claro que esse não são todos os fatores, só levantei aqueles que parecem menos óbvios. Eu não vou dizer o que um pode aprender com o outro, não é essa a minha intenção aqui. Como o assunto é longo, deixarei para explora-lo um pouco mais na segunda parte desse artigo, que sai semana que vem. Até lá!

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