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Um Menino Prodígio para cada geração: A importância do Robin!

Robin é o parceiro quintessencial

Quando comecei a ler gibis, lá no final dos anos 1980/começo dos 1990, eu tinha muitas dúvidas:

– Por que ninguém percebia que o Clark Kent era o Superman? (Explicação pré-Crise nas Infinitas Terras: Ele usava a super hipnose [yeah, really] para fazer as pessoas verem Clark diferente do Super. Pós-Crise: Ele é um bom ator…)

– Por que o Hércules se chama Hércules, e não Heracles, o nome correto grego? (A culpa são dos filmes Hollywoodianos, que chamam o Deus Grego pelo seu nome romano. Recentemente [uns 10 anos atrás] segundo Incrível Hércules, de Greg Pak, o herói usa seu nome romano por ter vergonha do nome grego, que significa “Glória de Hera”, ou algo assim.)

– Por que Odin puniu Thor fazendo ele nascer humano nos Estados Unidos? Não deveria ter renascido em países nórdicos? Isso faz dele um imigrante ilegal? (Não que o Trump fosse reclamar, Thor é loiro de olhos azuis… se fosse o Deus Mexicano da Siesta, teria sido banido dos Vingadores.)

E maior pergunta de todas: Por que diabos o Batman anda com o Robin?

De fato, há diversas incongruências sobre o Morcegão que eu questiono (e suas respectivas divagações ficam para outro dia, estou com preguiça de fazer isso agora). Do tipo: se o Batman faz todo um teatro para parecer sobrenatural, por que ele usa uma máscara em que seu rosto aparece, provando que ele é só um cara com uma roupa de morcego? Por que ele não se veste de monstro-morcego? Por que ele usa gadgets que são visivelmente tecnológicos, tipo Bat-Móvel, Bat-Moto, Bat-Plano, Bat-Rangue, etc, ao invés de usar seu lado teatral e “sobrenatural”, e parecer que ele é realmente um ser mítico? Porém, o mais importante: Por que diabos o Batman anda com o Robin?

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Comecemos do óbvio: Parceiros mirins. Muitos te dirão que o Robin é o primeiro dessa linha e não estaria errado. Ele foi o primeiro parceiro mirim dos heróis… No entanto, o Menino Prodígio faz parte de um outro conceito, tão velho quanto o tempo: o parceiro/sidekick. Uma das práticas mais comuns em roteiros, quando você quer introduzir um personagem fantástico, é o de introduzir outro personagem, que serve como contraponto (sem ser antagônico, claro) ao personagem fantástico. Sherlock Holmes e John Watson, Don Quixote e Sancho Panza, Aquiles e Pátroclo, O Doutor e seus companions. Sidekicks têm em seus currículos funções importantes como “fazer perguntas que o público quer saber a reposta”, “estar em perigo e ser salvo no último minuto”, “fazer a história seguir em frente quando o protagonista está fazendo algo off-screen” e coisas do gênero.

“Ok, faz sentido”, você fala, “então por que ele não se chama ‘Batboy, o Moleque Morcego’?” Bom, primeiro: Nem todos podem ser o Batman. Piadas à parte, o fato é que o Robin é mais do que um sidekick… ele faz parte de outro grupo, quase tão importante e tão odiado: O grupo dos “personagem criados para gerar empatia com as crianças”. Em 1940, as crianças não queriam ser o Batman ou Capitão América, elas queriam ser Robin ou Bucky (imagino, porém, que ninguém quisesse ser o Toro, parceiro do Tocha Humana).

Veja bem: Nenhum destes dois se assemelham aos seus respectivos parceiros, Robin não é um “morcego”, Bucky não usa a bandeira dos EUA (só as cores, mas até aí, 90% dos personagens da época usavam… e ainda usam). Ambos foram criados para que pudessem ser qualquer um, fazendo com que ambos personagens se tornassem espelhos de suas épocas e, consequentemente, datados. Claro que a ressalva é que estes personagens são escritos por adultos e sua interpretação do que era um jovem de sua época era específica.

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Antes de listar os Robins, um disclaimer: Não listarei gente como a Salteadora/Stephanie Brown (…quando ela foi Robin, no lugar do Tim Drake… só para morrer) ou a Carrie Kelley, do Cavaleiro das Trevas porque a presença das duas não é substancial o suficiente (não me culpe, culpe o machismo do Editorial da DC… Aliás, eu eu gostava da Stephanie…). Pelo mesmo motivo, nada de Matt McGinnis também.

Por um punhado de Robins

Primeiro, temos, bom, o primeiro: Dick Grayson, o Robin original (04/1940). Como o fruto de sua época, os anos 1940, Dick é a criança inocente e otimista, falando frases tolas como “santo guarda roupas, Batman” e coisas assim. Ao longo dos anos, o Dick foi ficando menos “personagem que faz perguntas” e começou a demonstrar um intelecto semelhante ao do seu mentor. Quando, em 1969, Dennis O’Neil decidiu voltar o Cavaleiro das Trevas às suas origens mais sombrias, um moleque de camisa vermelha e cueca verde não ajudava. Então, Dick foi para a faculdade. Porém, o personagem continuou como membros dos Titãs e, sendo essa a revista mais vendida da época, ele ganhou notariedade.

Em 03/1983, tivemos Jason Todd, o segundo Robin. Jason era rebelde, delinquente e arrogante, que era como os roteiristas da época viam os jovens. Porém, ao contrário de Dick (que agora se chamava Asa Noturna), o público não curtiu muito Jason. A DC não tinha certeza que o público realmente gostava ou odiava o personagem, então deixou que eles escolhessem seu destino: através de um número telefônico, os leitores decidiriam se Jason sobreviveria ou morreria. E, em 1988, ele morreu. Mas tudo bem, são HQs, ninguém além do Tio Ben permanece morto, e hoje, Jason é o Capuz Vermelho (nem quero falar da ressurreição dele, é horrível).

Ironicamente, o mesmo Dennis O’Neil que afastou o primeiro Robin para tornar o Batman mais sombrio decidiu que deveria haver outro Robin. E, em 1989, tá dááá, Tim Drake (08/1989). Tim é o espelho dos anos 90: Inteligente, manja de computador, respeita o Morcegão, mas deixa de questioná-lo. Ele permaneceu sendo o Robin até virar o Robin Vermelho, porque…

Damien Wayne (09/2006), filho do Bruce com Thalia Al Ghul, surgiu, e assumiu o manto do Menino Prodígio, em 2009. Ele é um ninja assassino, no-nonsense, “atire primeiro, pergunte aos sobreviventes depois”. E foi com ele que eu finalmente percebi como cada Robin é definido pela sua época.

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Eu li muitas histórias com o Dick, porém minha principal referência foi o Tim (e embora doa admitir, eu me identifico um pouco com o Jason também), um personagem com o qual eu me identificava muito mais do que o primeiro Robin (…e guilty pleasure em me identificar com a rebeldia do Jason). Porém, outro dia, lembrei-me de uma conversa com o filho de um amigo meu, fanático pelo Damien. Ele éum típico membro da atual geração, que fica jogando Call of Duty e acha que tudo se resolve na porrada (…o que é verdade, mas ele deveriam só perceber isso quando ficassem mais velhos). Damien é o Robin deles, e eu aposto que ele acha o Tim um pé no saco.

Então, só podemos supor que, daqui uns 15 anos, teremos um novo Robin, menos “trigger happy” do que o Damien. Não porque eu não gosto do moleque, mas porque, se for igual, significa que nossa juventude está realmente perdida.

E que ninguém jamais ouse falar mal do Dick Grayson!

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