10 quadrinhos para você procurar urgente
Hoje, na era do cinema de super-heróis, é natural que quando alguém lhe pergunte sobre quadrinhos, a primeira coisa que nos vem a mente é… super-heróis. São eles que possuem a maior fatia de mercado em gibis ao redor do mundo, com as editoras DC e Marvel sendo as grandes empresas na área. Batman, Superman, Homem Aranha, Wolverine…. São tantos os nomes que conseguimos recitar de cabeça e apontar uma ou outra história que nos chamou atenção. Por isso, não passa pela cabeça de muitas pessoas que existem outros tipos de quadrinhos, ou visões diferenciadas para o tema. Atualmente, com o sucesso dos filmes, as editoras têm feito um esforço maior para focar nesses personagens tão lucrativos.
No entanto, algumas ainda mantém foco em quadrinhos mais autorais, sem uma continuidade sobrecarregada e com maior liberdade criativa para seus colaboradores. E, com isto em mente, falarei neste artigo sobre os 10 quadrinhos que foram ou estão sendo publicados atualmente, que você provavelmente não ouviu falar, mas deveria estar lendo.
(Dê uma olhada também na lista com as 10 piores decisões criativas recentes nas HQ’s)
Confira!
1 – Chrononauts
Esta obra de Mark Millar, com o desenhista Sean Murphy, um arco fechado de quatro edições, já tinha seus direitos de adaptação para o cinema antes de ser totalmente publicada. O motivo? O quadrinho é simplesmente um filme de ação impresso em páginas. Desde a decupagem até o roteiro, você se sente folheando uma tela de cinema. Em Chrononauts, acompanhamos a viagem de dois cientistas, capazes de trafegar livremente pela linha temporal, quando se perdem na primeira missão. A ideia em si, viagem no tempo, está longe de ser inovadora. Publicamos uma prévia dela quando estreou.
No entanto, Millar é capaz de trazer frescor para este tema, mostrando a total ausência de responsabilidade dos personagens principais com as alterações que fazem no passado. Nada de “Não mate este mosquito por que você pode alterar o continuum espaço-tempo bla bla bla”. É viagem no tempo usada em benefício próprio, com direito a apartamento em Nova Iorque na década de 50, um palácio na Mongólia do século X e um estacionamento de carros de luxo no interior de uma pirâmide. Mesmo não sendo uma obra densa, Chrononauts é uma aventura descompromissada e altamente divertida.
2 – Descender
Jeff Lemire tem trabalhado com diversas editoras recentemente, lançando títulos pela Image, Marvel e até Valiant Comics. Descender, no entanto, é um de seus trabalhos mais diferentes até o momento. Acompanhamos as histórias de vários personagens, sendo o principal Tim-21, um androide criança em busca do menino a quem havia sido designado como companheiro. Ambos se separaram vários anos antes, após sua colônia ser atacada por uma raça alienígena de máquinas.
É uma mistura de A.I.: Inteligência Artificial com Guardiões da Galáxia. Além de possuir uma história interessante, com personagens carismáticos e um universo rico em detalhes e planetas a serem descobertos, Descender vale a pena também por sua arte. Desenhado, pintado e colorido por Dustin Nguyen, captamos toda a beleza desta história. As cores aquareladas adicionam emoção em cada painel. Sejam robôs com seus mecanismos e peças ou planetas desolados e paisagens vazias, Nguyen expressa sentimento através de seu trabalho. Com certeza, uma obra a se observar de perto. Veja algumas imagens.
3 – The Dying and the Dead
Escrita pelo mesmo roteirista de Guerras Secretas da Marvel de 2015, Jonathan Hickman, o homem responsável por East of West e God is Not Dead nos brinda com uma história intrincada e complexa, com personagens diferentes do que estamos acostumados e, simplesmente, uma brilhante narrativa. A história é de um homem mais velho, que ao ver sua esposa à beira da morte no hospital, aceita uma missão com a promessa de uma cura para ela.
A primeira edição contém aproximadamente 60 páginas e ao fim dela a sensação é de que poderia ter muitas páginas mais. A arte de Ryan Bodenheim é detalhada, com formas e dimensões realistas. A colorização serve ao seu propósito e é muito bem colocada ao enfatizar momentos e diferenças na tonalidade da história. Sem perder o compasso, você se pegará muitas vezes parando para apreciar a bela arte de uma ou outra splash plage. Jonathan Hickman, até a publicação deste artigo, publicou somente três edições desta série, mas prometeu continuar este ano. Vamos torcer!
4 – Saga
Se você conhece um pouco mais de quadrinhos, com certeza já ouviu falar da excelente série Y: O Último Homem. Escrita por Brian K. Vaughan (de Os Leões de Bagdá), vemos a jornada de um homem e seu macaco, únicos sobreviventes de um cataclisma que matou todos os homens e mamíferos do sexo masculino. A série concluiu-se em 2008, após seis anos em circulação, com vários prêmios e muitos elogios. Agora, o mesmo roteirista retorna aos quadrinhos em Saga, uma aventura espacial, que conta a história de um casal que acabou de ter um filho e passam a ser caçados por toda a galáxia, pois cada um faz parte de uma das nações em guerra.
Com personagens extremamente carismáticos e uma forma cativante de contar a história, Vaughan e Fiona Staples nos colocam em um universo caótico, belo e aprofundado. Mesmo os personagens mais estranhos, como uma raça alienígena que possui televisores no lugar da cabeça, passam profundidade e geram empatia. A série ainda está rolando e deve ter pelo menos uns quatro bons anos pela frente até sua conclusão. Aliás, a Devir já publicou dois volumes no Brasil.
5 – The Valiant
Talvez o nome Valiant Comics ainda não signifique muito para você, que talvez nem tenha ouvido falar, mas os títulos da editora até saem por aqui, graças à HQM. No ramo de super-heróis essa editora merecia mais fama do que tem. Formada no fim da década de 80 por ex-executivos da Marvel, a Valiant Comics fez muito sucesso e viu grande crescimento de seu capital nos primeiros cinco anos. Foi então vendida para uma empresa de games, Acclaim Entertainment, que usou seus personagens em jogos como Turok: Dinosaur Hunter. Em 2005 a empresa fechou as portas e, consequentemente, a Valiant Comics fechou junto. Logo no mesmo ano a empresa foi reaberta, porém foi em 2012 que ganhou novamente atenção do público e da crítica.
Com um relançamento de vários títulos, a empresa se tornou uma excelente terceira opção no mercado dominado por DC e Marvel, acumulando vários prêmios. The Valiant é um ótimo exemplo disso. Em apenas 4 edições, acompanhamos a história do Guerreiro Imortal contra um inimigo milenar, que sempre o derrotou em diferentes épocas. No entanto, na época atual, o Guerreiro Imortal tem companhia de outros heróis para lhe ajudar em seu objetivo: proteger a Geomancer, que é uma mulher designada pelo próprio planeta para guiar a humanidade à paz e crescimento. Escrita por Jeff Lemire e Matt Kindt, temos uma história surpreendente para o tema de heróis, sem carregar o peso de uma continuidade de mais de 50 anos. Altamente recomendada.
6 – Power Man & Iron Fist
Ok, eu sei que Luke Cage e Punho de Ferro não são exatamente personagens desconhecidos e que a Marvel é uma editora também amplamente popular. Contudo, essa é uma das séries que pode facilmente escapar à atenção do leitor menos avisado, que pode preferir comprar um quadrinho do Homem-Aranha e do Homem de Ferro, ou que pode simplesmente não comprar um gibi de herói. Talvez com as séries da Netflix chegando, este título ganhe mais popularidade. Mas, vamos ao que interessa. Essa história nos mostra a dupla Heróis de Aluguel agora mais adultos. Luke tem uma esposa e filha para cuidar, sem ter mais tempo para sair com Danny e lutar contra o crime.
No entanto, um problema comum aos dois os obriga a se reunir mais uma vez, para total alegria do Punho de Ferro. Temos muito bom humor e uma clássica história de buddy cop. Além da excelente química que o roteirista David Walker consegue colocar entre os personagens-título, ele ainda mostra sua irreverência com os personagens secundários. Como, por exemplo, a dupla de capangas, que são hilariantes surpresas nessa história. Outros personagens são colocados na trama de forma interessante, com direito até a participações especiais. É válido o destaque também para os desenhos de Flaviano Armentaro e o responsável pelas cores John Rauch. É o trabalho desta dupla que nos traz uma doce sensação de nostalgia pelas páginas com tons amarelados e desenhos próximos do caricatural. Power Man & Iron Fist chegaram para ficar. Veja a prévia.
7 – Nailbiter
Se você quer uma história um pouco mais violenta e é fã de séries e filmes policiais como O Beijo do Dragão, Dexter ou The Following, vai curtir esta HQ. Ah, recomenda-se também um pouco de estômago; algumas edições são bem gráficas. Nailbiter conta a história de um policial que viaja a uma cidade pequena no interior de Oregon, a fictícia Buckaroo. É explicado, no início, que se trata do berço dos piores assassinos seriais (16 para ser mais exato) que surgiram nos EUA nos últimos 50 anos.
Seu mais recente assassino a ganhar atenção nacional é Edward Charles Warren, conhecido também como Roedor de Unhas (em tradução livre), por sequestrar vítimas que roem as unhas e as manter prisioneiras. Assim que as unhas da vítimas estivessem suficientemente crescidas, ele as devorava. Edward foi solto por bom comportamento e fica em casa, sob supervisão da polícia. O personagem principal chega a cidade para investigar novos desaparecimentos e precisa se aliar ao Nailbiter e à chefe de polícia local. Joshua Williamson e o desenhista Mike Henderson nos trazem um quadrinho que carrega bastante no suspense e violência, com uma história que deixa com uma sensação até sufocante pelos desenhos, cores e roteiro. Mesmo assim, as interações entre os personagens principais é no mínimo interessante e bastante cativante, sendo um título imperdível para os fãs de quadrinhos policiais.
8 – Divinity
Lembra o que falei antes sobre Valiant Comics? Divinity, lançado em 2015, é a prova disso. Em meio a tantos heróis de universos paralelos e fusões esquisitas (estou olhando para você, Gwenpool), a Valiant criou um novo personagem com alto potencial e muito carisma. A história nos apresenta Abram Adams, um jovem negro da antiga União Soviética, lançado ao espaço no ápice da Guerra Fria, em um programa arriscado, sem grandes probabilidades de retorno. Dado como morto, juntamente com sua equipe, o personagem ressurge nos dias de hoje com os poderes de um deus e a mentalidade comunista do seu antigo regime. O conflito ideológico entre capitalismo e comunismo existe hoje de forma ainda marcante, trazendo relevância para a saga do cosmonauta.
Novamente, apenas quatro edições para um arco que flui naturalmente e sem parecer apressado. É a leveza de não precisar cumprir com agendas de outros oitocentos personagens ou uma marca. Matt Kindt nos apresenta um roteiro convincente, um debate pertinente e uma história marcante. As capas são um verdadeiro espetáculo e tiveram um ótimo tratamento por parte da editora. Os desenhos eu particularmente gostaria que fossem um pouco melhores, mas servem muito bem ao nos dar uma ideia física da extensão dos poderes de Abram. Valiant novamente acerta na mosca.
9 – Huck
Já comentado nesta listagem antes, Mark Millar agora nos traz uma história sobre caráter e esperança. Huck, o personagem-título, é um jovem empregado de um pequeno posto de gasolina em uma cidade do interior dos Estados Unidos. Ele também possui um grande dom e o usa para ajudar pessoas a localizar coisas ou pessoas perdidas, em pequenas listas de afazeres que ele escreve durante o dia. Huck é a mistura de Superman com Forrest Gump e nos traz novamente àquele velho e clássico estilo de heróis que são completamente bons e inocentes.
Talvez, no meio de tantas Guerras Civis e heróis versus heróis, seja uma boa alternativa a quem é mais saudosista desses tempos. A arte do brasileiro Rafael Albuquerque é excelente, com traços leves mas sempre cheios de pose e ângulos interessantes. Aliado às cores de Dave McCaig, o tom inspirador e emocional é detectado à cada painel, nos imergindo mais e mais dentro da vida de Huck e da cidade a qual ele defende. Eu, sinceramente, espero ver mais de Huck.
10 – Sandman: Overture
É Neil Gaiman escrevendo Sandman. Precisa de mais alguma coisa pra te encorajar a ler esta história? Servindo como prólogo das primeiras edições da série que o consagrou no ramo dos quadrinhos, Sandman: Overture, nos mostra um pouco mais sobre a mitologia que cerca Sandman e sua família. Com participações especiais, que farão os fãs de longa data abrirem um grande sorriso, temos um quadrinho rico em mitologia e contos no melhor estilo Gaiman.
Outro grande destaque para esta série é, sem dúvida alguma, sua arte. J. H. Williams III mostra toda sua maestria ao trazer para o plano dos desenhos as ideias de Gaiman. Por várias vezes, você se pegará girando o quadrinho para acompanhar a diagramação, ou parando por alguns momentos para apreciar os detalhes do que é literalmente uma pintura sobre os quadros. Como todo prólogo, fica a sensação de que o clímax do quadrinho é algo que já conhecemos e Overture não escapa muito disso. Mas, com certeza, a jornada dessas seis edições, que já começaram a ser publicadas aqui pela Panini, será um prato cheio para quem acompanhou as aventuras místicas e surreais de Sandman. Obrigado Gaiman!
E aí, o que achou da seleção? Conhece algum dos quadrinhos acima ou acha que outro deveria estar presente? Deixe em um comentário abaixo sua recomendação!