Uma lista com o que foi feito de pior nos quadrinhos recentemente
Grandes decisões em quadrinhos são – de certa forma – marcantes, para bem ou para mal. Utilizadas como um meio para criar buzz (e dinheiro) para uma série específica, elas sempre existiram nos quadrinhos. Em 1993, A Morte do Superman foi notícia em meios de comunicação que não costumavam veicular notícias de gibis. De forma semelhante, o New York Times emitiu um obituário em 2007 pela a morte do Capitão América, que havia acontecido nos quadrinhos do mesmo ano. Nem importa que a DC ou a Marvel não tivessem a intenção de manter os personagens mortos.
Algumas destas decisões são recebidas com desconfiança, algumas com descaso. Existem outras que geram emoções mais fortes, como ódio, vergonha, dor na alma, insônia, depressão, etc…
Neste artigo, falaremos sobre as 10 piores decisões criativas na história dos quadrinhos recentes, tanto Marvel quanto DC. Confira! (ah, dê uma olhada também em 10 Quadrinhos Que Você Deveria Estar Lendo)
10 – Armadura do Batman
Bruce Wayne, dado como morto após o fim da saga Endgame, é substituído pelo Comissário Gordon. Este por sua vez necessita de uma armadura para poder enfrentar o crime apropriadamente, até porque ele não possui super força ou bat-treinamento ninja. A armadura parece uma mistura de Pikachu com Homem de Ferro. Com as cores da polícia, é muito fácil lembrar do Cyber Samurai de Tartarugas Ninja.
Convenhamos que Scott Snyder fez um ótimo trabalho com os quadrinhos do Batman recentemente, deixando seu nome na história do Homem-Morcego. No entanto, não escapou de um deslize ou outro.
9 – Porco Aranha
Durante a péssima saga Spiderverse, Dan Slott retomou aquele tema polêmico (leia-se estúpido) de que Peter Parker é um totem e que existe um vampiro caçador que se alimenta da essência do Homem-Aranha e etc… Nessa saga, o caçador está indo atrás de Homens-Aranha por diversas dimensões paralelas. Estes formam um grupo interdimensional para enfrentar o vampiro.
Um deles é o Porco-Aranha, uma paródia do cabeça-de-teia que surgiu em 1983, criado por Tom DeFalco e Mark Armstrong, ganhando uma série que durou 17 números antes de cair no esquecimento. Mas era necessário incluí-lo no universo regular? Como diabos um porco vira Homem-Aranha em qualquer dimensão paralela??? E essa decisão só é um exemplo que ilustra como essa saga foi ruim. Ela inteira é uma péssima decisão criativa, por sinal.
8 – Watchmen em Rebirth
Em mais um reboot, agora intitulado Rebirth, a DC Comics traz para seu universo regular de heróis um personagem de Watchmen, Dr. Manhattan. A história que traz essa nova origem é, no mínimo, uma das melhores edições de 2016. Geoff Johns fez um excelente trabalho em uma revista com 80 páginas. Inclusive, ofereceu pagar de seu próprio bolso caso alguém comprasse a HQ e quisesse seu dinheiro de volta. Sua bravata tinha fundamento; a qualidade é indiscutível.
É também difícil criticar a decisão sem analisar seu futuro dentro do Universo DC. Mas a ideia de colocar Watchmen, uma história fechada com temática adulta de 1986, que é considerada até hoje a melhor história em quadrinhos de todos os tempos, lado a lado de Super Homem, Aquaman e Mulher Maravilha me soa assustadora. Para que mexer em algo que já é tão bom?
(Falando em Watchmen, assista a este Formiga na Tela e confira este artigo)
7 – Constantine no universo regular da DC
Esta alteração, ocorrida durante a fase Novos 52, é semelhante ao que fizeram com Watchmen. A preocupação, no entanto, é que já que os quadrinhos da linha Vertigo são para público maior de 18 anos, as histórias sejam mais leves e com foco mais infanto-juvenil. É realmente um problema, visto que a maioria dos problemas que Constantine enfrenta são graficamente violentos e sangrentos. A ideia é melhorar vendas do personagem em si (óbvio) dando um leque maior de opções criativas, mas é difícil comemorar o que pode ser um declínio no nível das histórias do nosso eterno Hellblazer.
6 – Novo visual do Lobo
Em 2011 a DC passou por um dos seus reboots, com as inevitáveis origens recontadas e visuais alterados. Lobo tardou mas não escapou dessa repaginação. Em 2013, foi divulgado seu visual em um quadrinho one-shot. Criado por Kenneth Rocafort, é como se o Lobo fosse o protagonista de uma fanfic hentai para meninas de 12 a 16 anos.
Lobo é um personagem criado na década de 1980 com um visual totalmente diferente deste da imagem (e igualmente ruim, admito). Ele sofreu uma alteração de personalidade e visual na década de 90 que o colocou no gosto do público. Seu temperamento semelhante ao de Wolverine e Cable, com quadrinhos violentos e uma vestimenta no melhor estilo de motoqueiro, o tornaram tão popular que ele ganhou até série regular. É lamentável ver essa mudança e a DC mereceu toda a polêmica que houve em torno disso.
5 – Thor Mulher
A premissa é interessante: Thor, indigno de empunhar Mjolnir após uma misteriosa frase que Nick Fury disse em seu ouvido, tenta descobrir como voltar a usar o Martelo. Nesse ínterim, no entanto, uma mulher, cuja identidade não nos é revelada inicialmente, empunha Mjolnir e se transforma no Thor, lutando para salvar o mundo. Contudo, o foco logo sai de Thor Odinson para dar destaque à nova personagem.
As histórias, escritas por Jason Aaron, contém vários bordões feministas que incomodam depois de um tempo pela constante repetição. O problema não é a personagem ser mulher, mas quando a história repete várias vezes como mulheres são melhores que homens, ou como ela é forte e até uma melhor Thor (o Mjolnir exibe maior fluidez nas mãos dela), fica chato e a protagonista perde credibilidade. Mais ou menos quando encontramos alguém que vive falando como é bom nisso ou aquilo, para esconder o fato de que ele realmente não é.
(Aproveitando a deixa do Jason Aaron, confira as resenhas de O Carniceiros dos Deuses e Bomba Divina)
4 – Mary Jane trabalhando para Homem de Ferro
Na terrível história One More Day, Peter Parker faz um acordo com Mefisto para apagar sua memória e de Mary Jane (e do resto do planeta), desfazendo seu casamento. Peter volta ao status quo de herói solitário e novos personagens são adicionados às suas histórias. Mary Jane, no entanto, vai para uma espécie de limbo editorial e desaparece das revistas por um tempo. Recentemente, retornou em Homem de Ferro, provando que a Marvel não sabe o que fazer com ela.
Em uma história escrita por Brian Michael Bendis, encontramos Mary Jane administrando um clube noturno. Sua entrada no universo de Tony Stark soa tão falsa e inacreditável que não dá para engolir. Tony a contrata para ser sua número dois, pois depois de destruir o clube dela em uma luta com uma vilã, ele “perguntou dela por aí e ouviu coisas boas”. Essa inclusão ridícula e clara estratégia de marketing afeta a qualidade da história como um todo. Sem Mary Jane, o primeiro arco de histórias de O Invencível Homem de Ferro, pós Guerras Secretas, seria um dos melhores do ano.
3 – Peter Parker Stark Wayne
Em 2015, os títulos da Marvel iniciaram novas sagas para cada personagem, se passando cronologicamente 8 meses depois do fim da mega-saga Guerras Secretas. Uma delas foi The Amazing Spiderman, que agora nos mostra um Peter Parker dono da Parker Industries, uma empresa de tecnologia, concorrente de Tony Stark mas que doa todos seus lucros para caridade (óbvio). Peter Parker agora tem dinheiro! Chega de mendigar para J. Jonah Jameson. Peter também fala mandarim (que aprendeu em semanas) e possui uma nova versão do Buggy Aranha, que parece muito mais um batmóvel vermelho e azul. Ele também age internacionalmente contra o crime, informando que Homem-Aranha é seu guarda-costas. Dan Slott, não estamos impressionados!
2 – Terno do Demolidor
Sinceramente, o que se passava na cabeça de Mark Waid e Paolo Rivera quando decidiram esse novo design para o uniforme? Ambos foram premiados durante seu período cuidando da série Daredevil e as histórias são realmente muito boas, acompanhando Matt Murdock e Foggy Nelson em Los Angeles. Mas essa roupa… É basicamente um terno vermelho. É um terno vermelho! Mais nada! O Homem Sem Medo foi transformado no homem sem vergonha na cara. O uniforme não serve pra nada numa luta e deve incomodar na movimentação. O pior de tudo, ele a usa durante o dia NO TRABALHO!!! A lógica é: “Se todos sabem minha identidade secreta, não vou mais me esconder”. A frase faz sentido. A roupa não.
1 – O Corno-Aranha
Em agosto de 2004, J. Michael Straczynski nos brindou com a pior idéia já cometida contra o Homem-Aranha. Nesta história, somos apresentados à uma moça que é filha de Gwen Stacy, fruto de uma traição com ninguém mais ninguém menos que Norman Osborn. Essa traição aconteceu durante um período em que Gwen esteve na França, logo antes de sua icônica morte nas mãos do Duende Verde. A tragédia homérica que foi essa porcaria até hoje me surpreende. Ela tem todos os detalhes de uma decisão estúpida:
Mexer com o passado do herói? Confere. Terrível roteiro? Confere. Destruir a memória de um dos personagens mais queridos dos quadrinhos? Confere. Arrependimento do roteirista após o fim da saga? Confere. Tudo, absolutamente tudo, envolvido nesta história é um gigante “Foda-se” dirigido aos fãs do Homem Aranha. Gwen Stacy, apesar de ter participado pouco tempo na trajetória do aracnídeo, tem sua presença palpável na personalidade do herói. A relação deles já rendeu ótimas histórias, como a excelente Homem Aranha: Azul. Simplesmente, não é possível entender a lógica por trás da decisão de colocá-la traindo Peter com seu maior vilão. E que isso tenha passado por editores e outras pessoas dentro da Marvel, antes do quadrinho ser impresso, me faz o queixo cair. É merecido o primeiro lugar deste top 10 e – provavelmente – vai ficar para sempre na história do Homem-Aranha como uma das piores coisas já escritas.
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