Uma Metamorfose Iraniana e as possibilidades dos quadrinhos
Mana Neyestani foi uma vítima do sistema totalitário iraniano, por conta de uma tira que criou em 2006. O problema foi a má interpretação dada ao seu trabalho, quando desenhou uma diálogo entre um menino e uma barata. Isso foi publicado no suplemento infantil de um jornal. Até aí, nada demais, a não ser pela utilização de uma palavra azeri, idioma turcomano de um grupo étnico presente no norte do Irã e no Azerbaijão, pronunciada pelo inseto. O povo sentiu-se provocado e foi o estopim para diversas manifestações. Mana e o editor do jornal foram presos. Esse episódio singular é contado pelo artista em Uma Metamorfose Iraniana (Une Métamorphose Iranienne), publicado no Brasil pela Nemo. Inclusive, já teve uma resenha por aqui.
A HQ, pela sua sinopse, dá a entender que o leitor encontrará um drama pesadíssimo. Surpreendentemente, o autor consegue levar uma situação tão desagradável quanto essa com bom humor e leveza. Mesmo assim, ainda que evite a vitimização, Mana Neyestani consegue passar o clima de encarceramento e paranoia que permearam a situação. É um trabalho de uma sensibilidade rara, trabalhando até com uma metalinguagem que confere mais camadas ao resultado final, convidando o leitor a revisitá-la tempos depois.
Não bastando essas qualidades, Uma Metamorfose Iraniana também traz várias referências em seu arcabouço narrativo. Do óbvio Kafka, que precisaria de um esforço extra para imaginar algo tão repressor quanto o regime do Irã, até Frank Miller. São detalhes que enriquecem o álbum, dando um toque a mais em um trabalho tão pessoal e autobiográfico, ao mesmo tempo à vontade no experimentalismo narrativo.
Por conta de tudo isso, Uma Metamorfose Iraniana merece um episódio do Formiga na Tela dedicado a ele. Confira mais este vídeo, curta, comente e compartilhe. Mande um email para [email protected]. Acompanhe nosso trabalho inscrevendo-se em nosso canal.
Por hoje é só, mas voltamos na próxima semana. Até lá!
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