Saramago revela a dubiedade do ser humano em Ensaio Sobre a Cegueira
A importância da obra do escritor português José Saramago é inquestionável. É impossível ficar indiferente ao se deparar com sua prosa única e com sua sensibilidade para abordar temas que fazem parte do cotidianos, mas que muitos insistem em ignorar. Ensaio Sobre a Cegueira foi lançado em 1995, mas sua trama se adapta facilmente aos nossos tempos. Após um primeiro caso da chamada “cegueira branca”, uma epidemia se alastra e os órgãos governamentais são obrigados a intervir. A população acometida pela cegueira repentina é colocada em quarentena em um hospital abandonado, com poucos recursos e nenhum contato com o mundo exterior. Está pronto o cenário para Saramago discorrer linhas e mais linhas sobre os instintos mais primitivos de homens e mulheres.
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Seguindo o estilo de escrita que o tornou célebre, o escritor conduz a narrativa e maneira fluída, mais preocupado em criar uma atmosfera opressiva para o leitor do que preocupar-se com diálogos ou mesmo em nomear os personagens. Estão todos no mesmo barco, sem as distinções que o mundo de outrora exaltava. A luz no fim do túnel parece ser a mulher do médico, única que não foi acometida pela cegueira, mas que finge fazer parte dos infectados para ajudar o marido. Relações ganham novos significados e, o que até então era considerado uma atitude absurda, passa a ser a única saída para sobreviver.
O romance foi adaptado para as telas em 2008, pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles, e contou com um elenco internacional que incluía Julianne Moore, Gael García Bernal e Alice Braga. Transformar em imagens a narrativa poderosa e inconfundível de Saramago não é uma tarefa fácil, apesar de outras obras suas também já terem sido transformadas em filme, à exemplo de O Homem Duplicado, mas Meirelles conseguiu deixar claro o grande tema por trás da “cegueira branca”: a de que até quem tem a visão perfeita tem problemas para enxergar o outro sem máscaras ou amarras.
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