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A Vida de Philip K. Dick – O Homem Que Lembrava O Futuro

Philip K. Dick

Quanto mais complexa a obra de um escritor, mais curiosidade sobre a pessoa por trás do artista, já que qualquer um se sente tentado a descobrir, ou chegar perto de entender, o que molda uma mente criativa que se destaca. Falando em complexidade e mentes pulsantes, Philip K. Dick, ou PKD para os iniciados, é um exemplo clássico de pessoa que chama atenção para sua história pessoal, graças ao seu legado literário e sua morte precoce aos 53 anos, em 1982. Todavia, sua trajetória justifica o tempo dispensado pelo leitor que se interessar por sua biografia? Com a abordagem de Anthony Peake, com certeza.

Se neste momento você se questiona por qual motivo leria algo assim, provavelmente não é familiarizado com a obra de PKD, ou talvez conheça e não goste mesmo por qualquer motivo. Neste caso, evite, passe longe, não arrisque… É algo direcionado a um nicho muito específico de leitor de ficção científica.

Philip K. Dick

PKD adorava gatos!

A Vida de Philip K. Dick – O Homem Que Lembrava O Futuro (A Life of Philip K. Dick – The Man Who Remembered The Future), publicado em 2015 pela Seoman, perde uma sacada sutil com a tradução de seu título, já que o original em inglês refere-se a UMA vida. Isso diz um pouco sobre a proposta do autor, mas acalme-se você, que já se arrepiou achando tratar-se de uma interpretação espírita das idas e vindas de PKD. Apesar do histórico do nosso biografado, dado a relatar as experiências estranhas que teria vivido, envolvendo raios cor de rosa e uma existência simultânea na época do Império Romano, entre outros casos, Peake divide seu livro em três partes. A primeira é uma biografia convencional, limitando-se a narrar os fatos e apurar as disparidades entre trabalhos anteriores sobre a vida de PKD. No entanto, dentro das preocupações metafísicas dele e os questionamentos sobre a realidade presentes em seus romances e contos, existiria realmente alguma capacidade de enxergar o tempo de uma forma diferente? Ou melhor, o tempo existe mesmo?

Essa é a deixa para a segunda parte, onde Peake especula (apenas isso… relaxe) sobre teorias que poderiam explicar algumas previsões onde PKD acertou como escritor visionário, ou mesmo supostamente recebendo a informação milagrosa sobre a hérnia de seu filho, uma história bem conhecida pelos fãs. É preciso admitir que sair da interessante biografia em si e entrar neste território não é agradável, uma vez que algumas comparações e suposições parecem realmente inúteis e nada mais do que masturbação intelectual rasteira.

Anthony Peake, biógrafo de Philip K. Dick

Anthony Peake, atraído naturalmente para o mundo de PKD!

Felizmente, não demora para que esse segmento mude o tom, já que traz alguns conceitos bacanas para que o leitor mais cabeçudo pesquise depois por conta própria. São citados o astrofísico russo Nikolai Kozyrev e o matemático Hermann Minkowski, professor de Einstein, cujo trabalho questiona a natureza do tempo como conhecemos. Até o psiquiatra Richard Maurice Bucke, que utilizou o termo “consciência cósmica” para descrever uma experiência vivida, entra na dança. Filtrando essas informações e as utilizando como referência, é um deleite para os interessados em ciência.

A terceira parte fará a alegria dos mais céticos, já que depois de mostrar algumas vias de justificar algum dom ou visão especial da quarta dimensão, chegamos às explicações mais mundanas. São cogitadas situações normais como enxaqueca e pequenos derrames, condições, aliás, que o próprio PKD deve ter levado em consideração enquanto tentava explicar o que sentia. Ao longo do livro, Anthony Peake não se importa em despir o biografado de sua aura fantástica em alguns momentos, mostrando que o próprio questionava, entre os próprios amigos, a origem de suas visões.

Philip K. Dick

Os fatos narrados em VALIS, que viraram uma HQ de Crumb, são relatados na biografia sob outro ponto de vista!

O prefácio do autor, onde descobrimos como ele se interessou pelo tema e a curiosa interpretação de duas pessoas presentes em uma de suas palestras, pode afastar algumas pessoas. Confesso que o trecho em questão também não me animou muito, mas não se engane. A Vida de Philip K. Dick é um livro imperdível para quem se interessa por esse grande nome da ficção científica. Mantém os pés no chão, ao mesmo tempo em que dá a deixa para os mais reflexivos puxarem um “E se…” de suas cabeças.

P.S.: Já publicamos bastante coisa sobre PKD! Leia as resenhas de Fluam, Minhas Lágrimas, Disse o Policial; Realidades Adaptadas (que também ganhou um podcast); Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?; VALIS e O Homem do Castelo Alto

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