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Traz Teu Amor Pra Mim e Outros Contos – Instantes errantes!

Bukowski e Crumb unidos em três pequenas histórias em Traz Teu Amor Pra Mim e Outros Contos

O prezado leitor está com pouco tempo? Sabemos que nem sempre este mundo louco permite que nos dediquemos com afinco às leituras. Muitos acabam acumulando um pilha de livros na cabeceira da cama e uma certa frustração na alma por não conseguir mergulhar numa grande história madrugada adentro. Pois esta que vos escreve pode ter uma solução, pelo menos para apaziguar o desejo de alguns leitores. Do caminho de casa até o trabalho ou mesmo na sala de espera do dentista, você vai se divertir em vários níveis com Traz Teu Amor Para Mim e Outros Contos.

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Em suas pouco mais de 50 páginas, temos relances de realidades nada românticas, mais próximas dos becos escuros do que das terras encantadas que alguns escritores gostam de criar. Nada contra eles, mas já que teremos que nos contentar com um petisco e não com um banquete, é melhor que ele seja de sabor intenso. Traz Teu Amor Pra Mim reúne três contos de Charles Bukowski, o eterno velho safado da literatura, ilustrado por ninguém menos que Robert Crumb. A dupla, que se encontrou apenas uma única vez, mas nunca deixou de trocar elogios por meio da imprensa, foi reunida na publicação de uma maneira quase mágica. Há um encaixe perfeito entre as frases potentes de Bukowski e o traço inconfundível e poderoso de Crumb.

O autor de Viva a Revolução consegue, em uma página, transmitir toda a atmosfera das curtas porém inesquecíveis histórias criadas por aquele que talvez melhor traduza o underground americano, sem aquela higienização utilizada em alguns filmes e mesmo por alguns escritores. Logo no primeiro conto, que dá nome ao livro e que para algum desavisado pode parecer um romance, se passa em um hospital psiquiátrico durante a visita de um marido à esposa internada. Ambiente calmo, médicos em jalecos brancos e conversas paralelas em voz baixa são organizados em nossas mentes, montando a cena deste encontro. Viramos a página e Robert Crumb nos acerta bem no queixo. Violência, bitucas de cigarro, copos de uísque e prostitutas surgem e nos avisam que aqui não é lugar para sonhos. A sobrevivência é quem dita o ritmo. Ritmo esse que fica ainda mais forte quando lemos em voz alta a prosa de Bukowski. É o linguajar das ruas. Mas aqui, pode chamar de poesia.

Resenha Traz Teu Amor Pra Mim (Bukowski e Crumb)

Entre bares e palcos

Os outros dois contos de Traz Teu Amor Pra Mim, Não tem negócio e Bop Bop contra aquela cortina, parecem falar mais às lembranças do Charles que nasceu na Alemanha sob o nome de Heinrich Karl Bukowski e cresceu em uma América nada acolhedora e em uma família menos ainda. O peso da idade e as marcas da Grande Depressão ajudam a construir o ácido discurso de Manny Hyman, um comediante que já não lota mais casa de show, mas não não abre mão das velhas piadas. A bagunça do camarim e as rugas que tomam conta do rosto do protagonista são retratadas de tal forma por Crumb que fica impossível tirá-los de nossas cabeças. Imaginados toda a trama pelo traço do norte-americano.

Há também ares de infância. O último conto é uma espécie de devaneio de Buk sobre seus primeiros passeios noturnos com os amigos, todos filhos de pais tão preocupados com a falta de dinheiro que não se importam que uma briga banhada a sangue aconteça no seu quintal. As crianças se viram. Complicado é colocar comida na mesa. Bukowski mescla nostalgia com amargura e consegue nos conquistar logo nas primeiras linhas. E parece até que conquistou Crumb, que retrata meninos envelhecido pela dureza da vida, mas ainda assim sorridentes. Faz lembrar, inclusive, um dos poemas mais saudosistas do autor, Aquelas garotas que seguíamos até em casa.

Resenha Traz Teu Amor Pra Mim (Bukowski e Crumb)

Seria um paradoxo dedicar mais de 800 palavras para um livro que você consegue terminar de ler em pouco mais de meia hora. Mas o que são os dias senão um paradoxo atrás do outro, onde uns insistem em viverem de aparências e outros pouco ligam para como se parecem? Lembro de sorrir quando a personagem feminina do primeiro conto diz ao marido que não quer chocolates, mas amor. Uma mulher inquieta e desconfiada que pergunta quando aquele homem vai trazer o seu amor para ela. Seria trágico se não fosse cômico. Implorar sentimentos é sempre algo estranho. Nas linguagens de Bukowski e Crumb fica ainda mais.

O amor, na literatura e na vida, é mesmo um cão dos diabos.

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