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A tecnologia do futuro na ficção-científica – que já é realidade!

A Tecnologia do Futuro na Ficção-Científica

Tentar antever os tipos de tecnologia do futuro que farão parte do nosso cotidiano não é, nem de longe, a maior preocupação das histórias de ficção-científica – pelo menos não das realmente contundentes.

Normalmente, nas tramas sci-fi passadas no futuro, os autores extrapolam recursos contemporâneos ou acabam inventando máquinas sem apego à ciência real, mas que servem como símbolo ou metáfora para gerar uma reflexão ou ilustrar um conceito.

Todavia, não é difícil encontrar casos de tecnologias inventadas na ficção que acabaram ganhando seu lugar no mundo real. Fugindo do clássico celular em Star Trek ou do carro autômato, este artigo vai mostrar três tecnologias recentes que já apareceram em obras sci-fi.

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Isaac Asimov, com seu sorriso simpático nos diz: “Alguns anos atrás, a idéia de um computador que você poderia colocar no seu bolso era apenas ficção-científica.”

Andróides sonharão?

Existem inúmeras histórias na ficção-científica que tratam sobre o tênue limite em que robôs e inteligências artificiais devem ou não ser considerados sencientes e não simples construtos. Em Andróides Sonham Com Ovelhas Elétricas, de Philip K. Dick, essa questão é elevada de tal forma que questionar a existência desse limiar, deixa de fazer sentido.

Isaac Asimov (saiba mais sobre o autor ouvindo nosso podcast) já trabalhou esse tema diversas vezes em seus contos, em especial, em O Homem Bicentenário (não estou falando do filme com Robin Williams, mas sim do conto), que conta a história do robô NDR – 113 que apresenta uma personalidade própria e decide tornar-se humano.

Claro que Jornada nas Estrelas não poderia ficar de fora, tendo um belíssimo episódio na segunda temporada de A Nova Geração, intitulado O Valor de Um Homem, que foca no debate se o andróide Data é apenas uma máquina ou se pode ser considerado uma forma de vida senciente.

Assim como as obras citadas, a maioria desses debates acontecem em futuros relativamente distantes, seja no tempo ou na evolução tecnológica. Mas duas histórias estão assustadoramente próximas da realidade – ou seria o contrário?. Falo do primeiro episódio da segunda temporada da série Black Mirror intitulado “Volto Já”; e do filme Ex Machina (que já foi tema de um Formiga na Tela).

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Imagem do filme Ex Machina e episódio “Volto Já” da segunda temporada da série Black Mirror

No episódio de Black Mirror, uma mulher grávida (Hayley Atwell) perde o namorado Ash (Domhnall Gleeson) em um acidente de trânsito. Para ter sua dor e solidão aliviadas, ela recorre a uma tecnologia que simula a personalidade de seu companheiro falecido de acordo com seu perfil nas redes sociais e interações gravadas. Tudo começa com um app que age através de textos como emails e SMS. Mas conforme a tecnologia ganha atualizações, a viúva passa a conviver com um andróide “idêntico” a Ash.

No excelente filme Ex Machina, o jovem programador Caleb (também vivivo por Domhnall Gleeson!) é recrutado para aplicar o Teste de Turing* em um robô humanóide dotado de inteligência artificial, baseada em big data. Esse teste, consiste em verificar a capacidade de uma máquina exibir comportamento indistinguível de outro ser humano.

Ok, mas onde isso se encaixa na realidade? Conheça BINA48!

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BINA 48, um exemplo de tecnologia da ficção-científica que se tornou realidade

BINA 48 é um andróide social que usa inteligência artificial baseada nas memórias, atitudes, crenças e maneirismo de um ser humano para interagir com outras pessoas. É claro que o modo de falar e o aspecto físico do andróide ainda é muito distinto de um ser humano, mas se imaginarmos a curva de evolução deste tipo de tecnologia, não é nada fantasioso imaginar replicantes andando lado a lado de um ser humano num futuro próximo, sem notarmos a diferença.

No caso, a maior semelhança com as obras citadas, é todo material base para o cérebro artificial, que é a imensa gama de dados que temos hoje a despeito da população como um todo e até coisas muito particulares de indivíduos.

As implicações práticas e filosóficas a respeito desse tema estão ganhando cada vez mais espaço nos grandes painéis de discussão. E não é para menos, pois isso representa uma revolução não apenas no âmbito tecnológico, mas também na relação interpessoal e no modo como nos compreendemos como os únicos seres realmente sencientes. Ou compreendíamos, imaginando que o futuro, logo se tornará passado.

O nome Bina 48 é porque a pessoa em que a andróide foi baseada se chama Bina Rothblatt, e seu processamento possui uma velocidade incrível de 48 exaflops por segundo, e possui 48 exabytes de memória. Saiba mais sobre a BINA48 no vídeo abaixo.

Seus filhos do jeito que você quiser!

Engenharia genética já deixou de ser ficção a um certo tempo. Mas apenas recentemente estamos tendo avanços circunstanciais a ponto de, em breve, conseguir praticamente modificar um ser vivo de forma tão personalizada como quando criamos um personagem dentro de um videogame.

Selecionando cor dos olhos, tamanho do nariz, cor do cabelo, tom de pele, entre outras coisas. Dúvida? Existem diversos artigos, documentários e reportagens a respeito do tema, mas só para facilitar, veja abaixo o vídeo do Vsauce2 de um coelho que brilha no escuro. Sim, brilha no escuro!

Este coelho foi manipulado geneticamente e se transformou em um verdadeiro abajur (será que o coitado consegue dormir?). Isso é prova de que o ser humano, através de engenharia genética, está tendo cada vez mais controle sobre a natureza. Se a Revolução Industrial permitiu ao homem transformar a natureza em formas de energia para mover suas máquinas, hoje, a humanidade está cada vez mais perto do momento de Criar efetivamente e de maneira personalizada.

Michael Crichton já utilizou a engenharia genética para trazer os dinossauros de volta à vida em seu livro Jurrasic Park (confira nossa crítica da obra), que deu origem ao sucesso homônimo de Steven Spielberg. Mas foi o diretor e roteirista Andrew Niccol que mostrou no filme GATTACA*, o lado obscuro da sociedade frente a essa poder, provando que não é um simples passeio no parque.

Obs.: O nome GATTACA é uma ordenação de uma série de bases nitrogenadas que compõe o DNA, no caso Guanina, Adenina, Timina e Citosina.

Pôster do filme GATTACA de Andrew Niccol

Pôster do filme GATTACA de Andrew Niccol

Em GATTACA, estamos em um futuro não muito distante no qual os seres humanos são escolhidos geneticamente em laboratórios, de forma que aqueles que são concebidos biologicamente, acabam sendo considerados inválidos. Obviamente, temas como preconceito e racismo permeiam o filme como um todo.

Não é difícil imaginar um futuro como GATTACA, que aliás, foi eleito o filme de ficção científica mais plausível pela NASA. E que implicações tem isso? Primeiro,é importante frizar todos os benefícios que esse tipo de tecnologia pode trazer. Coisas como seleção de embriões livres de doenças hereditárias e redução a pré-disposição ao câncer são verdadeiras conquistas da ciência médica. Entretanto, a partir do momento em que os pais podem selecionar praticamente todos os aspectos de seus filhos, será que haverá diversidade? E se houver, não teríamos mais um tipo de preconceito infundado, assim como no filme?

Babel nunca mais!

Cursos de línguas estrangeiras, normalmente, são um tanto quanto exaustivos. Além do preço elevado, requer muito tempo e dedicação. Mais ainda se você deseja falar três ou mais línguas. Se você já passou por isso, ou pensa em passar um dia, ou simplesmente não passou e não quer passar por isso, provavelmente adoraria ter um aparelho como o Peixe de Babel criado por Douglas Adams, certo?

No primeiro livro da série O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams precisava fazer com que as diferentes raças alienígenas se comunicassem. Para isso ele inventou a espécie do peixe de babel um plot device eficiente e condizente com seu universo. No caso, a criatura se alimenta da energia mental daqueles ao redor de seu hospedeiro e expele uma matriz telepática a partir dos impulsos nervosos. Em resumo, quem colocar um peixe de babel na orelha, passa a compreender todas as línguas que estão sendo faladas ao seu redor. Como um tradutor simultâneo orgânico.

O nome do peixe é uma referência a Torre de Babel, uma história bíblica do Velho Testamento. Na narrativa, todas as pessoas falavam a mesma língua e decidiram construir uma torre tão alta que alcançaria os céus. Deus, desaprovando tamanha soberba, atrapalhou todos os construtores fazendo-os se comunicar em línguas diferentes. Sem compreender uns aos outros, a construção teve de ser abandonada.

Obviamente, não temos um animalzinho simpático como este na realidade – não que saibamos. Mas, a tecnologia deu um jeito.

Já ouviu falar do Google Pixel Buds?

Fones tradutores do Google

O peixe de Babel da vida real. Só mesmo o Google para fazer uma coisa dessas para dominar, digo, facilitar nossas vidas =)

O Google Pixel Buds são fones de ouvido que, dentre outras funcionalidades, realiza traduções simultâneas. Você pode falar com outra pessoa sem se preocupar em traduzir o que ela fala ou o que você fala, pois o Pixel Buds já faz tudo isso. Mais uma vez o Google está ai para dominar facilitar nossas vidas.

Esse modelo de fone que traduz simultaneamente não é uma exclusividade do Google. Existem protótipos de outras empresas. Mas fica o aparelho do Google para servir de exemplo de como o crismático peixinho de Douglas Adams deixou de ser um objeto ficcional e se tornou realidade.

A ficção-científica é um rico nascedouro de pautas importantes para serem colocadas em discussão e reflexão. Falando tanto do passado, quanto do presente e do futuro, o gênero possui exemplares incisivos e contundentes a respeito da própria natureza humana.

Seja questionando a realidade como Philip K. Dick, discutindo valores éticos morais na sala de comando da Enterprise ou se deparando com nossos maiores traumas através da acidez do texto de Stanislaw Lem, a ficção-científica fascina ao mesmo tempo que nos assusta, pois quando bem escrita, não deixa de ser um espelho.

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