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Ruído Lunar e Outros Contos Insólitos – Inevitável atração!

O estranho apelo do absurdo na coletânea Ruído Lunar

É bem comum alguém sentir-se incomodado, em qualquer grau, por alguma coisa que pareça contrariar a ordem natural. Esse é um dos pontos que caracteriza o gênero Terror, mas e se esse estranhamento for um pouco mais sutil, sem chegar a essa caracterização? Uma vez que o leitor percebe que não tem em mãos um texto facilmente classificável, já há um primeiro passo para longe da zona de conforto. Em Ruído Lunar e Outros Contos Insólitos, Larissa Prado* nos conduz por esses territórios menos explorados da nossa imaginação.

(Confira o FormigaCast sobre Terror na Literatura, com a participação da escritora)

Compre clicando na imagem!Resenha de Ruído Lunar e Outros Contos Insólitos, de Larissa Prado

Na coletânea publicada pela editora Via Sestra, Larissa já avisa os recém chegados no prefácio: “A minha escrita sempre esteve mergulhada no absurdo”. Também fez questão de listar algumas de suas influências, como Poe, Kafka, Borges, Rubião e outros grandes. Isso já cria uma expectativa imensa, que, muito felizmente, não é frustrada ao longo de menos de cem páginas, com vinte pequenos contos que, em sua grande maioria, grudam em nossa memória. Ao terminar um, antes de partir para o próximo, é quase automático buscar uma ordenação racional dos eventos ali descritos, ou interpretar alguma metáfora ou alegoria ali contida.

Não que essa reflexão possa conduzir a qualquer conclusão mais cartesiana. Não pode mesmo, e é exatamente isso que torna esse trabalho especial. A escritora, apesar da experiência no Terror, manteve uma delimitação conceitual clara, fugindo da rotulação fácil. Existe até alguma escatologia neste conjunto, lembrando de leve escritores do Horror mais explícito, como Clive Barker, mas a linha mestra não é quebrada por detalhes como esse. Pelo contrário, eles estão ali a favor do incômodo pretendido.

Situações bizarras e criaturas surreais

Os eventos encontrados pelas páginas de Ruído Lunar são pratos raros, dispostos em um banquete para nossa imaginação. No conto que inicia a coletânea, Tarântulas, Larissa dá o seu toque especial em uma história que, em outra circunstância, poderia ter sido algo mais tradicional, ao estilo do Realismo Mágico latino-americano. No mesmo caminho, Metamorfoseado agrega a essa ideia o já citado Kafka, potencializando um clima de pesadelo. A Ponta do Alfinete, um dos mais curtos, traz o choque e o conteúdo para reflexão de mãos dadas, com um resultado mais do que interessante.

Na história que dá nome à edição, o título, que insinua uma temática mais próxima da Ficção Científica, engana. Larissa tem sua mira voltada muito mais para o íntimo do que o cósmico, criando aqui mais uma sensação incômoda, brincando com o nosso senso de anatomia e nossa noção geral de possível e impossível. Numa avaliação mais direta, essa é uma das melhores narrativas do conjunto.

Resenha de Ruído Lunar e Outros Contos Insólitos, de Larissa Prado

A edição tem ilustrações de Hieronymus Bosch (1450 – 1516), pintor que influenciou o movimento surrealista.

Com todos os vinte contos, é uma leitura absolutamente fluida, sem possibilidade de cansar leitores que se sintam recompensados já no início. Infelizmente, é claro, com uma quantidade assim, é natural que nem todos estejam no mesmo padrão dos melhores. O clima de “espere pelo inesperado” se perde em A Face do Ceifador, por exemplo, um dos elos fracos desta corrente. Em um ou outro caso, como em Quinquilharias, a história não diz a que veio e parece ter pouco a ver com seus pares.

Independente de qualquer coisa, já ficou claro que Ruído Lunar e Outros Contos Insólitos tem muito mais acertos do que tropeços. Considerando a proposta, essas ressalvas pouco arranham a realização, que comprova o talento da escritora. Sobre Larissa Prado, não é nenhum exagero afirmar que sua mente é um verdadeiro celeiro do insólito. Que ela continue a colocar esse conteúdo para fora, seja em projetos assim ou no Terror mais puro.

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