O Fim da Eternidade foi escrito por Isaac Asimov (Eu, Robô, As Cavernas de Aço) e publicado em 1955. Esta obra se destaca das outras do autor por não falar sobre robótica, tema em que se tornou referência, e sim sobre viagens no tempo e seus paradoxos – outro tema clássico da ficção-científica.
A ideia original do livro surgiu em 1953 enquanto o autor folheava a cópia de uma edição da revista Time, de 28 março de 1932, onde viu o que parecia ser o desenho de uma nuvem em forma de cogumelo, típico de uma explosão nuclear , mas depois se assegurou de que era apenas o desenho do gêiser Old Faithful, que fica no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Intrigado pela primeira impressão, Asimov começou a pensar em quais seriam as implicações caso o desenho fosse realmente de um cogumelo atômico em uma revista de 1932.
A obra conta a história de Andrew Harlan, que faz parte de uma organização que monitora e controla o tempo, chamada de Eternidade. Como um técnico, Harlan lida rotineiramente com o destino de bilhões de pessoas no mundo inteiro. Pois, sua função é produzir as chamadas Mudanças de Realidade, ou seja, fazer alterações no passado para mudar o curso da História. Tudo acontece normalmente até que Harlan se apaixona por Noÿs Lambent, uma mulher que vive em um século anterior à existência da Eternidade. Os dilemas do protagonista se iniciam quando lhe é designada uma missão em que a Mudança da Realidade fará com que a história dele com Noÿs deixe de existir. Então, ele inicia uma fuga para escapar de seus superiores e preservar sua relação.
Pela sinopse, parece muito mais um livro de ficção-científica voltado para o thriller – à la Michael Crichton (Jurassic Park) – do que uma história de Asimov. Porém, O Fim da Eternidade utiliza o romance entre Harlan e Noÿs como o ponto de ignição para todas as reflexões sobre a viagem no tempo e sobre a própria humanidade.
Enquanto são apresentados todos os conceitos desse mundo manipulado pelos Eternos, que são os membros da Eternidade, questionamentos e reflexões começam a surgir. As Mudanças de Realidade eram feitas para evitar guerras e pragas, de modo que as pessoas seguissem a existência sem nenhum grande empecilho no caminho. O problema é que isso faz com que a humanidade não progrida. Afinal, são justamente as intempéries que fazem com que o ser humano evolua os métodos de ação e o modo de pensar para conseguir solucionar determinado problema. Esse conceito de estagnação humana já havia sido usado por Arthur C. Clarke no livro O Fim da Infância.
Outro questionamento muito forte dentro da narrativa é o livre-arbítrio. Por mais que o protagonista Andrew Harlan não seja muito carismático, o leitor acaba torcendo para que ele acabe junto de Noÿs, mesmo sabendo das consequências dessa união (que a princípio não seriam boas), optando por seguir em frente. Se tudo fosse feito de acordo com a vontade dos Eternos, como até então, a humanidade perderia sua essência. Tanto que, muitos personagens são – não por acaso – computadores humanoides. Que melhor maneira de representar a falta de humanidade senão transformando o homem em máquina?
Agora, como qualquer livro sobre viagem no tempo que manipule o passado, há o sempre presente – perdoem o trocadilho temporal – paradoxo. Harlan é designado para ensinar um jovem chamado Cooper, tudo sobre a matemática temporal e sobre a história do passado Primitivo – nome dado aos séculos antes da Eternidade, quando atos não tinham volta. O objetivo é que ele seja enviado ao passado e oriente àqueles que serão os fundadores da Eternidade sobre a viagem no tempo. Ou seja, se Harlan não enviá-lo, como poderia a Eternidade existir?
O importante a ser citado é que a forma como o paradoxo é criado e sua resolução são muito bem construídos. Algo típico de Asimov: apresentar um problema e a solução – por mais que pareça óbvio, muitos autores acabam apresentando somente o problema. Ao usar também a personagem Noÿs, o autor faz com que os fãs mais xiitas da ficção-científica pura aceitem de vez a existência do romance dentro da história.
O Fim da Eternidade, de Isaac Asimov, é um ótimo livro sobre viagem no tempo e suas consequências em escala humana e até mesmo galáctica – no caso de algumas realidades alternativas. Por mais que a grande maioria das histórias que envolvam paradoxos temporais tenham uma virada já esperada no final, Asimov consegue surpreender e deixar o leitor pensando na obra como um todo muito tempo depois de terminar a leitura.