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Máquina de Armas – A prosa de Warren Ellis!

Máquina de Armas - Editora Novo Século

Se o nome Warren Ellis não lhe diz nada, você não é ligado em quadrinhos. O inglês – responsável pelos roteiros de The Authority, Transmetropolitan e Planetary, entre as séries mais famosas – tem uma obra de respeito neste meio, o que faz com que o apreciador destes trabalhos se sinta motivado a conferir seu desempenho em uma prosa que não dependa de imagens. A expectativa é alta! Como estamos falando de uma trama policial ambientada em Nova York, contando com toda a disposição de Ellis para a pesquisa histórica e científica, o sentimento de “já gostei” aumenta.

Infelizmente, Máquina de Armas (Gun Machine) é frustrante em uma visão geral, independente de seu leitor ser fã das HQ’s do autor ou um devorador de livros policiais. No segundo caso, aliás, a decepção pode ser até maior. Segundo romance de Ellis e lançado originalmente pela Mulholland Books em 2013, publicado no Brasil pela editora Novo Século no ano seguinte, a obra tem um ponto de partida fantástico, é preciso admitir. John Tallow é um detetive que atende a um chamado com seu parceiro, em uma ocorrência bastante estranha. Um homem surta após receber a notificação de que o prédio onde mora fora vendido, precisando desocupar o apartamento. Nu e armado com uma escopeta, ele ameaça matar qualquer um que tente tira-lo de lá. O parceiro de Tallow e o louco acabam mortos na ação, o que o leva a uma descoberta incrível.

Warren Ellis

Warren Ellis

Como uma das paredes do andar é esburacada por um dos disparos, temendo que o morador daquele apartamento pudesse estar ferido e inconsciente, os policiais adentram o local, encontrando paredes forradas de armas, em uma disposição misteriosa, porém nada aleatória. Com espaços vazios, havia ainda indicações de que viriam mais tipos de pistolas para ocupá-los. A coleta das armas mostra que cada uma delas é relacionada com um assassinato não solucionado em Nova York, indicando o esquema de um assassino em atividade há cerca de vinte anos e virtualmente invisível. A existência do apartamento e sua bizarra decoração dão início a uma investigação envolvendo um período histórico específico, anterior à fundação de Nova York.

Ao longo dos capítulos, o foco narrativo se desloca entre o detetive Tallow e o assassino. O primeiro é o modelo básico de qualquer agente da lei problemático da ficção, bebendo, sentindo-se culpado e sem dar muita importância para uma vida social, o que piora ao ser designado para o caso do apartamento misterioso. Já o seu antagonista é mais interessante, pois é um indivíduo a ser decifrado, com motivações ocultas e um pano de fundo intrigante para sua psicose, entendida aos poucos. Alguns personagens de apoio, como a dupla de peritos que ajuda Tallow, foram criados sem sequer a tentativa de disfarçar o clichê, algo piorado por algumas passagens e diálogos que pretendem conferir uma aura mais moderna e cinematográfica, destilando referências e buscando humor negro. Na maior parte do tempo, parece um escritor qualquer tentando imitar os maneirismos britânicos.

CSI

CSI não foi uma influência!

Procurando fugir de um tipo de narrativa que lembrasse um episódio CSI, Ellis deve ter pesquisado bastante os procedimentos mais complicados de investigação e balística (quero crer que sim), mas poderia ter evitado certas coincidências convenientes. O protagonista, além de apagado, determina a linha de raciocínio do caso muito facilmente e uma coincidência monumental o coloca em contato direto com alguém envolvido bem de perto nesta conspiração, da forma mais acidental possível. Não bastasse esse mundo pequeno, a sorte de Tallow ainda permite que essa pessoa tenha uma disposição enorme em abrir-se com alguém que conheceu há (bem) pouco.

Como o pontapé inicial da narrativa é realmente interessante, assim como seu vilão principal, muita coisa se torna suportável para descobrir o que está acontecendo realmente. Quando a resolução chega, com toda a explicação e a costura das pontas, tudo parece tão fácil –novamente – que acaba não sustentando a seriedade da situação. Ironia? Se for essa a intenção, seria melhor que o autor procurasse estudar e entender as sutilezas de um Raymond Chandler, que aliava isso a um texto cru e sem firulas. Não é essa a graça da boa e velha literatura policial americana?

Gun Machine - Warren Ellis

De uma forma geral, em Máquina de Armas, Warren Ellis parece um guitarrista tentando mandar um solo sensacional em todas as músicas do show de sua banda, ou seja, na terceira ele já cansou o público. Tem suas qualidades e seus momentos, claro, mas isso é pouco para justificar 312 páginas.

O trailer do livro conta com a arte de Ben Templesmith! Confira!

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