Foi neste período em Providence, vivendo em uma espaçosa casa de estilo Vitoriano, que Lovecraft foi mais prolífico. O Horror de Dunwich (The Dunwich Horror), The Mound, Winged Death, The Diary of Alonzo Typer, e duas de suas maiores obras-primas, O Caso de Charles Dexter Ward (The Case of Charles Dexter Ward) e Nas Montanhas da Loucura (At The Mountains of Madness), foram algumas das obras escritas por ele. A versão cinematográfica de Nas Montanhas da Loucura é um sonho antigo do cineasta Guillermo Del Toro, que inclusive já teria um roteiro do filme pronto em suas mãos desde 2010. O filme ainda seria produzido por James Cameron e estrelado por Tom Cruise. No entanto, com o lançamento de Prometheus em 2012, cuja história carrega uma boa semelhança com o conto, Del Toro comentou que ainda não seria o momento de adaptar efetivamente a obra para o cinema.
Mesmo com esta série de contos lançados em um curto espaço de tempo e de qualidade cada vez mais elevada, o trabalho de Lovecraft era recebido com indiferença pelas publicações, e a remuneração continuava pífia. Sensível a críticas, encontrava-se cada vez mais recluso, e já nem tentava mais vender suas histórias. Abandonado pela esposa, e vivendo dos restos de uma herança deixada por uma de suas tias, não havia mais dinheiro nem para suas despesas básicas. Por vezes, deixava de se alimentar para ter dinheiro para enviar suas cartas. O suicídio de seu amigo e correspondente Robert E. Howard também teve impacto considerável sobre ele.
Diagnosticado com câncer no intestino, por consequência passou a sofrer de má nutrição. Ele viveu em dor constante até sua morte em 15 de Março de 1937, em Providence. Obcecado pela escrita e curioso pela ciência, ele manteve um diário detalhado de seus últimos dias. Infelizmente, o reconhecimento do trabalho não aconteceu enquanto o escritor ainda era vivo. Mesmo nos anos seguintes, pouco foi discutido ou mesmo mencionado sobre sua obra, até que nossa boa e velha sétima arte surgiu para retificar esta injusta condição. Seu legado sobrevive em sua força máxima no cinema e na TV, onde destacam-se as seguintes produções, dentre as 140 (em sua maioria curta-metragens) que levam seu nome de alguma forma:
O Castelo Assombrado (The Case of Charles Dexter Ward/1963), The Dunwich Horror (1970), episódios para a série de TV Galeria do Terror (1979), os “clássicos” A Hora dos Mortos-Vivos (Re-Animator/1985) e Do Além (From Beyond/1986), Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos (Necronomicon/1993), filme que inclusive faz uma homenagem muito bacana ao escritor, colocando o próprio (interpretado aqui pelo esquisitão Jeffrey Combs, de A Hora dos Mortos-Vivos) como um personagem da produção, numa aventura sobrenatural do tipo Indiana Jones; Dagon (2001), e um episódio da série Mestres do Terror (2005).
O universo macabro do autor também serviu como pano de fundo para diversas produções, entre as melhores, se destacam O Filho das Trevas (The Resurrected/1992), e os dois melhores filmes de John Carpenter, em minha opinião : O Enigma de Outro Mundo (The Thing/1982) e À Beira da Loucura (In The Mouth Of Madness/1994). Este, simplesmente o melhor filme de terror que vi em toda minha vida. O conto de Stephen King, “Hobbs’ End”, publicado e depois filmado como um episódio da série Pesadelos e Paisagens Noturnas (Nightmares & Dreamscapes), também bebeu da fonte desta mitologia.
Até o mundo da música se rendeu em homenagens a H.P. Lovecraft. Citando apenas os casos mais famosos entre tantos outros, a banda Metallica já gravou uma canção baseada em O Chamado de Cthulhu, uma composição instrumental chamada “The Call of Ktulu”, e a canção The Thing That Should Not Be, baseada no conto do escritor A Sombra de Innsmouth (The Shadow Over Innsmouth). A canção Behind The Wall of Sleep, da banda Black Sabbath, é baseada em um conto homônimo do escritor; e na capa do álbum Live After Death, da banda Iron Maiden, Eddie, o mascote da banda, surge de uma sepultura com o nome de H.P. Lovecraft gravado nela, além de uma citação do conto A Cidade Sem Nome (The Nameless City), também do escritor.
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Quando faleceu em 1937, o autor foi listado ao lado dos nomes de seus pais, no monumento da família Phillips. No entanto, em 1977, seus fãs arrecadaram dinheiro e compraram para ele uma lápide individual no cemitério de Swan Point, onde gravaram seu nome, as datas de nascimento e morte, e a frase I AM PROVIDENCE, uma citação de uma de suas cartas. Em Julho de 2013, o Conselho da Cidade batizou e oficializou a interseção entre as ruas Angell e Prospect, que ficam perto das antigas residências do escritor, de H.P. Lovecraft Memorial Square, e ainda colocaram uma placa comemorativa.
Para terminar, nada mais relevante e autoexplicativo sobre o talento e o legado de H.P. Lovecraft do que uma frase do Mestre do Horror Stephen King, que inclusive já deixou claro em sua autobiografia Dança Macabra, que Lovecraft foi o responsável pela fascinação do próprio King com o horror e o macabro, e foi a maior e mais relevante figura a influenciar sua escrita de ficção.
“H.P. Lovecraft foi o maior praticante dos clássicos contos de Horror do século XX”.
Se King falou, tá falado.