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O Enigma do Coronel Fawcett: O Verdadeiro Indiana Jones

A aventura de Percy Fawcett descrita por um autor brasileiro

A figura do explorador, principalmente aqueles em atividade na virada para século XX, ainda exerce fascínio em grande parte das pessoas. Afinal de contas, naquele tempo, ainda havia mistérios a se desvendar em vários territórios da superfície do planeta. Além disso, pensar que essas pessoas empregavam anos em expedições, sem as facilidades tecnológicas de hoje, confere uma aura quase mítica a cada um deles. No caso do britânico Percy Fawcett, sua própria empreitada acabou tornando-se um mistério em si, dado seu desaparecimento aqui mesmo no Brasil.

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Quem assistiu ao filme Z – A Cidade Perdida já conhece a história. O cineasta James Gray usou como base o livro homônimo de David Grann, lançado em 2009, mas já havia uma obra brasileira sobre o explorador naquele momento. O jornalista Hermes Leal, ainda nos anos 1990, realizou a pesquisa – e sua própria aventura – que deu origem a O Enigma do Coronel Fawcett: O Verdadeiro Indiana Jones, da Geração Editorial. Sobre o enorme destaque que o nome do personagem cinematográfico de Harrison Ford tem na capa, cabem algumas considerações.

O livro, apenas no que se refere ao seu marketing, se vale da suposta inspiração de Fawcett para a criação de Steven Spielberg e George Lucas. Apesar disso, não se deixe enganar. Nunca houve uma afirmação direta sobre isso por parte dos co-criadores de Indiana Jones, que, por sinal, não devem ter se baseado em apenas uma pessoa. Essa questão, inclusive, é comentada por Frank Salamone em The Heroic Anthropologist Rides Again: The Depiction of the Anthropologist in Popular Culture.

Chegando finalmente aos detalhes biográficos do nosso aventureiro verídico, o que catapultou o Coronel Percy Fawcett para o imaginário coletivo foram peculiaridades de sua última expedição. Buscando uma civilização perdida, oriunda da Atlântida, desapareceu sem deixar vestígios em 1925, enquanto transitava pelo território que hoje faz parte do Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso. Assim, o destino final de Fawcett tornou-se um mistério que gerou inúmeras lendas em torno, como aconteceu com outras figuras da vida real. Por exemplo, o sindicalista Jimmy Hoffa.

Hermes Leal constrói seu relato justificando as motivações de seu biografado, que já havia tido uma vida agitada antes de seus derradeiros eventos. A carreira militar, com passagens pela Índia e Ceilão (atual Sri Lanka) marca o início de seu interesse por culturas e ideias desprezadas e ignoradas no Ocidente. Um pormenor, aliás, que o aproxima de outra figura lendária do mundo da exploração: Sir Richard Francis Burton*. O trabalho como geógrafo, mapeando as fronteiras da América do Sul para o Império Britânico, traz a fagulha que faltava para a aventura que o tornaria verdadeiramente famoso.

*(Para os cinéfilos de plantão, o filme de Bob Rafelson, As Montanhas da Lua (1990), tem Burton como um dos personagens principais)

O Enigma do Coronel Fawcett: O Verdadeiro Indiana Jones

A busca pela verdade

Tão interessante quanto a vida e as aventuras do Coronel, a comoção em torno de seu sumiço também merece destaque. O autor descreve as artimanhas da imprensa da época em capitalizar em cima do mistério e a ânsia do povo por uma explicação. As teorias mais estapafúrdias eram noticiadas como grandes revelações, assim como mentiras deslavadas eram mantidas em nome da credibilidade de alguns veículos. Um desses casos surreais tem como figura central Assis Chateaubriand, fazendo um tipo de jornalismo bem discutível, eufemisticamente falando.

Sobre a verdade por trás do caso, seria muita pretensão de qualquer biógrafo esperar essa descoberta. Tanto tempo depois do ocorrido, não haveria sentido. Ainda assim, mesmo que sem essa intenção direta, Hermes Leal prestou-se à tarefa de refazer a jornada de Fawcett, com uma equipe maior e tecnologia então disponível. Uma tentativa bastante válida, até para aproximar-se ainda mais do seu biografado, consequentemente, agregando valor ao seu livro.

Os desdobramentos dessa viagem foram absolutamente desagradáveis, mas não pelos motivos que algum desinformado possa intuir agora. Prejudicado por pessoas desonestas, o autor e sua equipe passaram por maus-bocados, o que gera um sentimento de revolta nos leitores, além de um final absolutamente anticlimático. Apesar de compreensível e totalmente além de sua responsabilidade, não deixa de ser desanimador.

Indispensável para quem se encanta com a figura do explorador

Com menos de trezentas páginas, O Enigma do Coronel Fawcett: O Verdadeiro Indiana Jones é uma leitura rápida. Uma qualidade, com toda certeza, já que não entedia seus leitores em momento algum. Por outro lado, seu tamanho acaba se revelando um problema, pois fica a impressão de que existe alguma correria neste conjunto, evitando um maior detalhamento onde ele seria bem vindo.

Lembrando que parte do livro se ocupa da empreitada mal sucedida de Hermes Leal, parece mesmo pouco espaço para uma trajetória de vida como a do Coronel. Mesmo assim, um trabalho relevante e interessante sobre uma figura que até hoje provoca discussões, seja pelas suas motivações, pela sua ousadia ou pelo mistério que o cerca. A relação direta com Indiana Jones pode ser um pouco exagerada, mas qualquer fã do arqueólogo do cinema tem bons motivos para ler esta biografia.

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