Quando estamos diante de uma obra de arte, nossas sensações e fluxo de pensamento mudam instantaneamente. Em uns mais que em outros, é verdade, mas não há como negar que a arte provoca essa sensação, mesmo que de maneira inconsciente. Dentro da sala de cinema, esse efeito – na maioria dos casos – aumenta. O ambiente escuro, aliado ao fato de a única fonte de luz ser a do próprio filme, faz da sétima arte uma experiência excepcional. Todavia, como isso funciona dentro e fora da tela grande? Como funciona essa interação entre filme e espectador? Qual é o papel do Cinema como veículo e como arte dentro da sociedade moderna? Todas essas e inúmeras outras questões são tratadas na antologia A Experiência do Cinema.
Organizado pelo teórico e professor de Cinema Ismail Xavier, A Experiência do Cinema (Editora Graal) foi publicado originalmente em 1983 e contém vários textos feitos entre 1916 e 1980 de diversos autores importantes, como Sergei Eisenstein, Dziga Vertov, Luis Buñuel, André Bazin e Stan Brakhage. A antologia é dividida em três partes. A primeira foca nas questões mais técnicas do Cinema, a segunda fala sobre a interpretação subjetiva do espectador diante da linguagem cinematográfica e a terceira retrata mais o lado psicológico e social da sétima arte.
Como os textos selecionados vão desde a infância desta arte até o momento em que ele já está mais que estabelecido e difundido no mundo, podemos notar as principais preocupações e reflexões teóricas e práticas de cada época. Os escritos mais antigos ressaltam os pontos técnicos e explicam como as pessoas vão entender e interpretar as imagens em movimento.
Ao nos depararmos com os filmes dessa época, percebemos que aos poucos as técnicas de decupagem e montagem amadureceram ao longo dos anos. Depois notamos que as preocupações vão mudando e o interesse maior é nas possibilidades narrativas que o Cinema pode proporcionar. De certa forma, essas publicações são um ótimo registro do pensamento daquele tempo. E finalmente, quando chegamos em textos mais recentes, vemos que o foco da discussão se afasta cada vez mais da forma do filme como obra técnica, aproximando-se de seus efeitos como arte pura e em questões específicas de determinados temas e discursos.
Para qualquer um que tenha interesse em aprofundar seus conhecimentos sobre a arte cinematográfica, A Experiência do Cinema é leitura essencial. Além de conter pensamentos de grandes nomes da sétima arte, a antologia também serve como um excelente registro histórico da evolução do Cinema como veículo de Comunicação e tipo de arte. Ismail Xavier soube escolher textos que são interessantes e contundentes até hoje, de modo que assuntos tratados em 1916 podem ser vistos nas estreias das telas cem anos depois.
Obs.: O livro não é tão fácil de achar disponível nas livrarias físicas, mas pode ser encontrado em sebos e livrarias virtuais.