Conan, o Bárbaro em seu ambiente natural!
Em 2011, a última aparição de Conan nas telonas não agradou, frustrando uma esperança que a grande maioria dos produtores de hoje nutre: iniciar uma franquia de sucesso. Os fãs do bárbaro cimério, e de bons filmes, lamentam e repudiam – com razão – essa produção, o que torna questionável a decisão de estampar o pôster do filme na capa de um livro, lançado no ano seguinte, dando a impressão de que se trata uma novelização do roteiro. Nada mais distante da verdade, já que estamos falando de um volume que traz o único romance com o personagem, mais três contos inéditos, escritos pelo seu próprio criador. Esclarecida essa questão, esqueça Jason Momoa e vamos ao livro.
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Juntando-se aos dois volumes de Conan, O Cimério, lançados pela Conrad entre 2005 e 2006 e contendo os primeiros contos do personagem, Conan, O Bárbaro, da Generale, aumenta o alcance da obra de Robert E. Howard, grande nome dos pulps e pai do gênero “espada & feitiçaria”. A mesma editora também publicou depois, na íntegra, os contos de outro herói de Howard, o puritano Solomon Kane, outra iniciativa bem vinda de disponibilizar mais clássicos do gênero em um mercado carente como o nosso. A edição dedicada ao bárbaro tem um prefácio especial de Roy Thomas, roteirista e ex-editor-chefe da Marvel, nome bastante envolvido com as HQ’s de Conan. Ele também foi responsável pela adaptação para os quadrinhos de A Hora do Dragão, a narrativa longa que é a estrela do livro.
The Hour of The Dragon, também referido como Conan, the Conqueror, foi publicado em capítulos entre 1935 e 36, pouco antes da morte precoce do autor, relançado em um único volume apenas em 1950. Aqui, encontramos Conan já como rei da Aquilonia, amado pelo povo e contando com círculo próximo fiel, porém lidando com uma conspiração de nobres descontentes que ressuscitam um feiticeiro para tomar o trono. A tramoia tem algum sucesso e ele torna-se um foragido, usando todos os conhecimentos e habilidades para encontrar o artefato que lhe dará alguma chance de retomar o que ele conquistou. Ainda que mais maduro e sábio, a selvageria em combate foi um traço que ele manteve.
A Hora do Dragão toma cerca de 200 páginas do livro. Como era o caso em Solomon Kane, é necessário que leitor interessado tenha em mente a época em que essas aventuras foram escritas. Robert E. Howard é um escritor obrigatório para qualquer amante de aventura e fantasia, à procura de aprofundar seu conhecimento sobre um gênero específico, mas as muitas virtudes e habilidades de seu Conan soam um tanto convenientes demais para os padrões de hoje. Entrar de cabeça na aventura e deixar-se levar, sem questionar esses traços, é a melhor coisa, prestando atenção nos detalhes daquele mundo e uma ou outra pincelada de Lovecraft, que trocava correspondências com Howard.
Histórias curtas que ganham em dinamismo
Além do Rio Negro, As Negras Noites de Zamboula e Os Profetas do Círculo Negro completam o volume. Por conta de sua duração, estes contos – ambientados em um período anterior ao da outra história – funcionam melhor. O que pode ser incômodo na narrativa longa é menos evidente nos três casos, onde o espaço menor garante o dinamismo. No primeiro, Conan está servindo como soldado em um forte, que é a única linha de defesa entre uma área de colonos e selvagens pictos, que contam com um feiticeiro poderoso entre eles. Básico e funcional, com uma história apoiada na ameaça dos selvagens atacarem, o conto se segura muito bem.
No seguinte, o mais curto entre eles, o bárbaro se encontra de passagem em uma cidade onde nenhum estrangeiro está a salvo, sobretudo se hospedar-se em uma determinada estalagem suspeita. A explicação para esse perigo é muito boa, culminando em uma vingança que fará o leitor mais sádico sorrir e o final nos brinda com aquele lado mais malandro do nosso protagonista. Na última história, temos uma princesa querendo vingar o irmão, enquanto sete homens do bando de Conan são mantidos prisioneiros em seu reino. Sua ideia é trocar a liberdade deles pelos serviços do cimério, mas uma reviravolta a coloca no papel de refém nesta troca. Muitas situações de virada neste conto, o melhor entre eles, mantendo o ritmo até o fim.
A edição da Generale contou com a competente tradução de Alexandre Callari, só pecando por um ou outro descuido na revisão. Conan, O Bárbaro é um livro que merece o lugar na estante de qualquer fã de fantasia que se preze. Se você havia sido enganado pela capa, agora não tem mais desculpa.