Um jovem príncipe é forçado a partir com um grupo de guerreiros, numa missão que envolve artefatos antigos para proteger a humanidade de um ser maligno. Ok, a premissa não é das mais originais, mas ainda assim rende uma boa e interessante jornada para seus heróis neste Arisé – As Mãos do Criador, primeiro livro de Diego Dinardi, disponível em formato digital via Amazon. O autor une elementos de fantasia e ficção científica para criar um mundo que parece ter saído diretamente de um anime ou de um jogo de vídeo-game de RPG japonês, onde a magia convive naturalmente com tecnologias futuristas e espadas gigantes batalham lado a lado com pistolas e granadas criogênicas. Apesar da mistura não muito ortodoxa, que pode gerar estranheza para aqueles não familiarizados com a cultura pop japonesa, o universo que resulta dela é bastante harmônico e bem construído, e um bom cenário para a aventura.
Nela, o filho do regente da cidade-estado Abridased, chamado Mist, que viveu sua vida inteira protegido e cercado de luxo em sua cidade, apenas sonhando em viajar, conhecer o mundo e viver aventuras, tem o seu desejo concedido, mas não da forma que sonhava. Quando seu pai é possuído por uma força desconhecida, ele precisa partir em busca da ajuda e orientação de um velho amigo da família, Brilho, o regente de outra cidade-estado chamada Merald. E pra isso será acompanhado de uma nova amiga, Beltrant, guarda-costas pessoal de Brilho e membro dos Arcanjos, uma unidade militar de elite de Merald. Esse será apenas o início de uma viagem onde eles vão enfrentar diversos obstáculos, combater criaturas sinistras, encontrar novos aliados, descobrir segredos há muito guardados e conhecer o rico e extenso continente de Helena.
Uma das maiores qualidades do livro é justamente a boa concepção das terras de Helena, com suas nações, cidades e geografia bem construídas e definidas. Outro fator positivo são as tecnologias usadas nesse mundo, que são bastante imaginativas, mas descritas com uma naturalidade e detalhamento que as fazem parecerem plausíveis e funcionais. Os personagens são boas companhias e de fácil identificação, por terem sentimentos tão familiares aos do nosso dia-a-dia. As batalhas são bem escritas, conseguindo criar a tensão e empolgação necessárias e nelas fica bem evidente a influência japonesa, com monstros gigantes que saem do mar e debates acalorados no meio da luta.
Infelizmente, o livro também possui algumas falhas. Uma delas é o fato dos personagens serem um tanto estereotipados e por isso um pouco previsíveis. Não chega a ser um grande problema, pois ainda assim são carismáticos o suficiente para nos afeiçoarmos e nos importarmos, mas fica essa sensação de pouca profundidade. A interação entre eles é dinâmica e divertida, apesar de um pouco repetitiva, justamente por essa unidimensionalidade. Algumas situações são um tanto convenientes demais e a trama, em alguns pontos, é bastante previsível. Porém, os maiores defeitos da história são algumas atitudes dos personagens, bastante implausíveis e ilógicas, nos tirando da imersão na história por não fazerem muito sentido.
Um ponto a se destacar nesse romance é a narrativa mais clássica, com os lados do bem e do mal claros e bem definidos. Os leitores de fantasia moderna, acostumados com as áreas cinzas, os anti-heróis, ambiguidades e personagens multifacetados podem tem um problema com o livro, que se aproxima mais das histórias antigas, mais para Tolkien do que para George R.R. Martin. Pessoalmente, acho até revigorante essa volta à inocência, pois o gênero da fantasia sempre foi um bom terreno para fugirmos das agruras da realidade e imaginarmos um mundo de sentimentos mais simples. Enfim, ambas as linhas são válidas e há espaço mais que suficiente para todas elas.
No fim das contas, Arisé – As Mãos do Criador é uma boa estreia de um jovem autor encontrando sua voz. Apesar de pecar um pouco pela inexperiência, entrega uma aventura divertida e interessante, num mundo rico e vasto, com personagens agradáveis e que promete mais emoções e mistérios nos próximos volumes, já programados para o futuro.