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A versão surrealista de Dalí para Alice no País das Maravilhas!

Versão de Alice no País das Maravilhas ficou esquecida por décadas, mas foi relançada em 2015

Em 1865,um matemático da Inglaterra vitoriana escreveu um conto de fadas que perdurou através da história, vivendo uma vida dupla: tanto um amado livro infantil, quanto uma obra-prima da literatura modernista, que permite novas interpretações a cada leitura. Uma das poucas obras da humanidade – junto, talvez, do Homem Vitruviano de Da Vinci – que sutilmente une campos tão distintos como a arte, a ciência e a filosofia, em uma história movida pelo excerto mais puro de imaginação (e talvez, alguns cogumelos) – Alice no País das Maravilhas.

Aproximadamente um século depois, em 1961, em uma palestra intitulada Where do We Go from Here (Para Onde Vamos Daqui), Marcel Duchamp profetizou que os emergentes artistas do amanhã ” assim como em Alice no País das Maravilhas (…) seriam levados a passar através do ‘espelho’ da retina, para alcançar uma expressão mais profunda”. Ele foi o primeiro a intuir um patamar conceitual comum entre a história que o então matemático Charles Dodgson, que se tornou Lewis Carroll, escreveu e o nascente movimento surrealista nas artes plásticas.

A intuitiva percepção de Duchamp se materializou – literalmente – cerca de oito anos depois, quando um visionário editor da Random House, uma das maiores editoras do mundo, encomendou ao ícone surrealista Salvador Dalí ilustrações para o clássico de Carroll. A ilustrações seriam usadas em uma edição especial, chamadas book-of-the-month series. Dalí criou doze heliogravuras (processo pelo qual se grava uma placa de metal utilizando-se uma camada de gelatina sensibilizada com bicromato de potássio, posteriormente expondo a placa a luz) – um frontispício, e uma ilustração para cada capítulo.

alice no pais das maravilhas

A versão relançada de Alice no Pais das Maravilhas ilustrada por Dalí!

Das gavetas universitárias para o mundo

Por mais de meio século, essa inesperada – mas surpreendentemente orgânica – união de mentes geniais permaneceu um artigo mítico, reservado estritamente para colecionadores e pesquisadores. Para nossa imensa alegria, em 2015, celebrando os 150 anos de aniversário do livro, a Princeton University Press trouxe a luz (não é uma brincadeira com as heliogravuras…) a bela versão de Dalí para Alice no País das Maravilhas.

O presidente da Lewis Carroll Society of North America, Mark Burstein, faz algumas considerações sobre esse amálgama na introdução do livro:

Tanto para Carroll quanto para os surrealistas, o que alguns poderiam chamar de loucura pode ser percebido por outros como sabedoria. Mesmo o processo de criação de Carroll e dos surrealistas era similar. Os surrealistas praticavam o automatismo na sua escrita e desenho; Carroll dizia que o início do seu texto foi ‘sem esforço'”.

O próprio Dalí aplicava uma série de técnicas surrealistas na sua interpretação da história. Para representar Alice – a única personagem que aparece em todos os capítulos do livro, ele reusou a imagem de uma menina pulando corda, que ele havia pintado mais de trinta anos antes. Ele colocou essa figura estranha, estática, pega em movimento – quase um ídolo – em cada uma das doze ilustrações; uma escolha que era parte automatismo, parte recorte, quase como que ecoando os dizeres do poema de Carroll da primeira página: “The rest next time — ” “It is next time!”

alice no pais das maravilhas

“A menina pulando corda”, de Dalí. Abaixo, a reutilização da figura nas ilustrações de Alice!

alice no pais das maravilhas

Veja mais algumas dessas belas pinturas:

alice no pais das maravilhas

alice nos pais das maravilhas

alice nos pais das maravilhas

Essa história foi uma dica do site Brainpickings!

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