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A História de Kullervo – Primeiros passos de Tolkien!

A jornada trágica de Kullervo na versão de Tolkien

É mais do que comum procurar conhecer tudo daquele seu artista favorito, não? Mesmo que seja aquela obra de início de carreira, quando indivíduo ainda não tinha todas as suas peculiaridades reconhecíveis. Quando o fã contextualiza e não cede à expectativa, tudo certo. É exatamente isso que é necessário ter em mente antes de se aventurar em A História de Kullervo (The Story of Kullervo), de J. R. R. Tolkien, nome que dispensa apresentações, evidentemente. Isso não significa que seja ruim, muito pelo contrário, como você já deve ter percebido pela nota atribuída.

Resenha de A História de Kullervo, de J. R. R. Tolkien

A História de Kullervo

Lançado originalmente pela editora inglesa Harper Collins, em 2015, teve sua edição brasileira publicada pela Martins Fontes no ano seguinte. Editado por Verlyn Flieger, professora na University of Maryland at College Park, o livro apresenta aos seus leitores um Tolkien pré-Terra Média, trabalhando com um material que teria peso em criações mais famosas. Tudo começa por volta de 1911, quando o Mestre tem acesso a um exemplar do Kalevala, épico finlandês que o encanta. O interesse foi tamanho que ele tentou aprender a língua para lê-lo no original.

O Kalevala foi compilado no século XIX por Elias Lönnrot, reunindo canções populares da tradição oral finlandesa, dando origem a uma epopeia nacional. O feito de Lönnrot aflora o nacionalismo deste povo, culminando na independência do país em 1917, livrando-se do domínio russo. Kullervo é o único personagem trágico deste ciclo. Órfão e escravizado, procura vingança contra o antagonista Untamo, mas sua história tem um desfecho com ares de tragédia grega, com direito a incesto e suicídio, tudo isso pincelado com magia.

Compro ou não?

Citando o próprio escritor sobre Kullervo: “o germe de minha tentativa de escrever lendas minhas”. Reescrevendo a história em formato de prosa e reorganizando esse arco drmático, é bom salientar novamente que estamos falando de um autor na faixa de seus vinte e dois anos, antes de ser convocado para a Primeira Guerra.  A História de Kullervo  não é uma obra concretizada, pois, ao voltar do campo de batalha, o anti-herói acaba deixado de lado e a mitologia de Tolkien começa a se expandir.

No entanto, o infeliz anti-herói deixou sua marca. Túrin Turambar, protagonista de Os Filhos de Húrin, além de aparecer em um capítulo de O Silmarillion, traz em si características de Kullervo. É exatamente sobre isso que o leitor em dúvida sobre a aquisição do livro deve refletir. Existe um genuíno interesse em conhecer essa trajetória, que envolve a vida pessoal do autor, a fundo? Em caso afirmativo, não existe a menor dúvida que você deveria comprá-lo.

A História de Kullervo contou com a competência e esforço de Verlyn Flieger para chegar a esse formato. A professora organizou e cobriu todas as brechas existentes neste trabalho. Em pouco menos de 200 páginas, a história em questão ocupa pouco espaço, deixando o restante para um ensaio do autor sobre o Kalevala, além de uma quantidade considerável de anotações e comentários sobre o texto geral.

É muita informação, até mesmo relacionando dados incertos com outras obras biográficas sobre Tolkien, procurando a hipótese mais provável. Até mesmo especulações quanto ao que despertou seu interesse  particular em Kullervo acabam comentadas, mas nada exagerado ou fugindo do foco principal.

Resenha de A História de Kullervo, de J. R. R. Tolkien

Kullervo retratado por Björn Landström (1917 – 2002)

Mitologia é língua…

Supondo que você não seja um admirador tão ferrenho de elfos, hobbits e outras criaturas congêneres, a ponto de desencavar escritos anteriores, o interesse por mitologia também justifica leitura.  Ainda mais pelo Kalevala não ser algo tão popular quanto os panteões grego ou nórdico, servindo como uma boa introdução a um imaginário diverso aos que estamos acostumados.

Na pior das hipóteses, Kullervo ainda é, sem a menor dúvida, um personagem fascinante. Seus tormentos também influenciaram outro ícone da fantasia, ironicamente, criado por alguém que costuma ser lembrado como o anti-Tolkien. Elric de Melniboné, de Michael Moorcock, sofreu dominado por sua espada senciente, um detalhe similar à espada falante do final da saga do personagem finlandês.

Com todas essas informações em mente, é difícil que alguém se decepcione com A História de Kullervo. Quem estiver a fim de conhecer mais sobre um jovem John Ronald Reuel Tolkien, aumentando um pouco o conhecimento geral sobre mitologia, tem aí uma oportunidade e tanto.

Ah, aproveite e confira também a resenha de A Queda de Artur!

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