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The Walking Dead: A New Frontier – Franquia tão morta quanto os zumbis!

Impacto de Walking Dead nos games parece diminuir junto com a série

Responsável por trazer a Telltale ao cenário mainstream dos video games, a série The Walking Dead tem sido marcada por instabilidade e contradições. Sua primeira temporada emocionou, divertiu e inovou tanto que chegou a desbancar grandes jogos como Assassins Creed III, Journey e Dishonored na disputa de jogo do ano em 2012. Apesar da polêmica com a premiação, a saga de Lee para proteger a pequena Clementine do apocalipse zumbi valeu não apenas as nomeações, mas cada segundo do tempo de quem a jogou.

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Nesse contexto, a expectativa de que a segunda temporada viesse para superar a qualidade da primeira fazia todo sentido. Porém a Telltale, já num momento diferente de sua trajetória e envolvida em projetos ambiciosos como as adaptações dos renomados Game of Thrones e Fables, não soube conduzir o processo de amadurecimento de Clem.

Decepcionando com uma narrativa forçada e improvável, onde a delicadeza da personagem que conhecíamos deu lugar a uma agressividade repentina e mal desenvolvida, o jogo soou prematuro e até mesmo caça níquel para grande parte dos fãs. Com isso, a demora do terceiro titulo chegou a fazer com que muitos até duvidassem de seu lançamento, pois apesar de todos os finais deixarem brecha para uma continuação, nenhum caiu nas graças dos jogadores a ponto de faze-los ansiar por mais.

Ainda assim, quando A New Frontier foi anunciado para 2017, a animação voltou. Após um hiato considerável e outras séries de sucesso lançadas, não havia motivos para duvidar da capacidade da Telltale de trazer novamente ao publico um conteúdo a altura da primeira temporada. De fato, o primeiro episódio parecia promissor.

Tendo como protagonista Javier Garcia, um ex-jogador de baseball que após a infestação dos “muertos” se vê na responsabilidade de olhar pela cunhada e seus dois sobrinhos, a trama começa interessante, focando não apenas na óbvia luta pela sobrevivência, mas também nas disfuncionalidades dessa família através de flashbacks. Neles, ficamos conhecendo os antigos conflitos do grupo e, ao oscilar entre presente e passado, essa abertura vai nos apresentando lados diversos de personagens que num primeiro momento não sabemos se devemos amar ou odiar.

Essa aparente profundidade dá a impressão de ser o grande trunfo da nova trama, e o fato de Clementine num primeiro momento reaparecer como coadjuvante engana como um movimento inteligente da desenvolvedora, que parece querer traze-la para agradar aos fãs, ainda que respeitando a autonomia da nova história, sem chamar para si a necessidade de consertar a bagunça feita na segunda temporada.

Clichês prejudicam o que um dia surpreendeu

Apesar do segundo episódio seguir a linha do primeiro, e deixar o jogador acreditar que a serie está sendo salva, logo os furos e clichês começam a aparecer. A decisão claramente comercial de manter Clem se mostra um fracasso. O “grande drama” que justificaria a amargura com que a menina – agora adolescente – se apresenta a Javier não faz o menor sentido.

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E conforme sua participação cresce, e a trama começa novamente a girar em torno dela, vemos os argumentos que poderiam ter dado valor ao título caírem no esquecimento, em favor da tentativa inútil de fazer sua história funcionar. Agora deslocada e numa posição “badass” inadmissível num grupo de adultos fortes e experientes, passamos a desejar que sua participação na série tivesse acabado na bela cena que protagoniza com Lee ao final da primeira temporada.

Com isso os dramas do núcleo de Javier vão aos poucos se mostrando vazios e previsíveis. A intenção aqui era mostrar como um homem fracassado, que no passado colocou a perder uma grande carreira, consegue manejar o destino de seu grupo, especialmente diante do contato com a ambígua organização A New Frontier, que dá nome ao jogo.

Porém conforme o plot se desenvolve as promessas de apresentar essas pessoas na complexa tarefa de reconstruir uma grande cidade nos moldes do passado ao mesmo tempo em que curam feridas pessoais vão morrendo e o que sobra é uma historia mal contada, que consegue a proeza de ser previsível mesmo com múltiplos finais.

Além disso, alguns problemas característicos do trabalho da Telltale como um todo reaparecem aqui de forma um tanto irritante. Sendo um jogo baseado na tomada de decisões através do sistema onde o jogador escolhe por meio de opções de frases o rumo que quer dar ao eventos, as dicas nem sempre são claras.

Mais de uma vez tive que encerrar o aplicativo correndo por medo de salvar uma decisão que me levou a um rumo bastante diferente do que tive intenção de tomar. Numa determinada cena por exemplo, a escolha de defender uma determinada personagem na verdade tinha como consequência contar um segredo dela, me levando a uma sequencia de diálogos grosseira e indesejável.

Também reaparece a pressão para que tomemos certas decisões impostas com gravidade, mas que na verdade tem impacto nulo na trama, onde apenas cinco das dezenas de escolhas de cada episódios realmente contam. Como sempre, é comum ver o game nos censurar com frases do tipo “ele se lembrará disso!”, para em seguida o personagem desaparecer, ou tomar um rumo que anule por completo a relevância do assunto em questão.

Preguiça da desenvolvedora

Outra decisão que a essa altura chega a ser inacreditável, é a da desenvolvedora ainda trabalhar com a mesma engine do começo da geração anterior. E não estou falando de gráficos de má qualidade, até porque se trata de um game que é acima de tudo a respeito de seu enredo, mas sim de problemas técnicos que atrapalham justamente essa progressão e imersão.

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Loading demorados e com cortes bruscos, personagens inexpressivos ou com expressões deslocadas do contexto, travamentos, falas cortadas por limite de tempo…Tudo isso denuncia uma equipe que faz questão de lucrar em cima de um conteúdo que se vende instantaneamente pelo nome, sem a menor intenção de investir criatividade e novas ideias nele ou mesmo aprimorar a parte técnica para que a experiencia ocorra de forma minimamente fluída. Inclusive numa das cenas finais da última parte, o pouco estímulo que me restava para ver o encerramento foi cortado por um congelamento de tela que me obrigou não só a fechar o aplicativo, mas a reiniciar o console!

Não ha dúvidas de que a aparente incapacidade de deixar para trás o apelo de Clementine é um dos grandes motivos do fracasso desse novo título, que agora parece ter deixado a franquia sem a menor chance de salvação, embora o final lamentavelmente prometa uma sequência. Essa insistência impactou o destino do restante do elenco, que apesar de grande e recheado de personagens cheios de potencial, aos poucos foram sendo podados e obrigados a orbitar em torno do pseudo drama da garota.

Ainda assim a fraqueza do roteiro é tão grande que nada parece suficiente para justificar tantas falas vazias, inseridas em situações ridículas e inexplicáveis. Não há como saber se o que a Telltale perdeu foi a capacidade ou a vontade de engajar o jogador e toca-lo emocionalmente com seu trabalho, mas de qualquer forma a mensagem que ela passa com A New Frontier é clara: Compre nosso jogo porque ele carrega um dos nomes mais lucrativos do nosso tempo, e de quebra traz a menininha que te fez chorar no passado, mas daqui pra frente não espere nada além disso.

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