A franquia Pikmin é um dos mais criativos e ao mesmo tempo pouco reconhecidos trabalhos do mestre Shiguero Myamoto, criador de personagens lendários como Mario e Zelda. Nascida no Game Cube em 2001, essa é uma das ideias mais originais do mundo dos games e seu visual colorido e lúdico ilude quem julga estar levando para casa um entretenimento casual. Por trás da beleza desse mundo tão alegre e cheio de vida, onde interagimos com seres minúsculos e cativantes, se esconde um verdadeiro desafio de estratégia e administração de tempo e recursos.
Nesse capitulo da série, lançado em 2013, deixamos para trás o antigo herói Olimar, nosso capitão nos dois primeiros jogos, e somos apresentados a Charlie, Brittany e Alfie, integrantes da tripulação de uma nave que cai no planeta PNF 404, onde se passa nossa aventura. Essa adição de protagonistas tem por objetivo tornar a exploração ainda mais desafiadora, pois agora trabalhar em grupo e contar com seus companheiros nas soluções dos enigmas é essencial para que todas as tarefas sejam executadas antes do pôr do sol. Esse marco do dia tem papel fundamental na dinâmica de Pikmin, pois caso o jogador fracasse em descobrir quais são os objetivos ou a forma correta de executá-los e o dia acabe, seus recursos serão consumidos da mesma forma e terá início uma corrida contra o tempo em busca de mais alimento até que todos os puzzles necessários para o progresso sejam desvendados.
Outra novidade é a introdução dos Pikmins de pedra e eletricidade, que com suas habilidades diferenciadas forçam o jogador a planejar ainda mais cuidadosamente a formação de sua equipe, já que existe um limite para o número de criaturas que pode nos acompanhar. Essa multiplicidade de opções e interações com o cenário dá origem a situações complexas, que requerem total atenção do jogador para serem resolvidas. E isso deve ser feito em meio aos divertidos sons e tumultos causados pelas criaturinhas ao serem arremessadas sobre pedras, enviadas para coletar frutas, construir pontes, atacar inimigos e muito mais.
Essa vivacidade e diligencia dos Pikmins em nos auxiliar é justamente o que torna a franquia tão especial, pois os erros cometidos durante o gameplay não tem como única punição o gasto de suprimentos. Eles custam, em sua maioria, a vida de nossos ajudantes. Por isso a cada vez que um Pikmin precisa ser arremessado para uma batalha em que a vitória é incerta ou mesmo na corrida de retorno para a nave ao fim do dia, onde os retardatários viram presas de criaturas maiores, o vínculo que se cria entre eles e o jogador transforma esses momentos em desafios de lealdade, onde nos vemos pensando em todas as alternativas possíveis para salva-los e quando isso não acontece, a sensação de culpa ao ver nas animações as pequenas almas deixando os corpinhos coloridos é inevitável.
E falando em suas mortes, não há como deixar de mencionar a exuberância dos chefes de cada mapa do jogo, ainda mais levando em conta as limitações de hardware do Wii U. Todos tem um design extraordinário, com cores vibrantes, características únicas e padrões de ataque que exigem do jogador, além de uma equipe balanceada, um solido conhecimento das habilidades de cada uma das cinco variedades de Pikmin. São batalhas de tirar o folego, que as tornam memoráveis e dignas de encerrar a exploração em áreas de level design igualmente bem construído.
O ponto negativo do jogo é justamente a existência dessa contradição entre a beleza e criatividade de cada nível criado, que convidam o jogador tanto a contemplação quanto a uma exploração completa e detalhada, e o limite de tempo imposto pelo gameplay. Enquanto jogava, não pude deixar de pensar que faltava um modo onde essa limitação fosse opcional, pois mesmo com mais tempo a disposição ainda seria preciso pensar com afinco para resolver os quebra cabeças mais engenhosos do game. Todos criados no melhor estilo Nintendo de instigar o jogador, nunca nos deixando cair na zona de conforto e sempre nos roubando a ilusão de ter dominado o jogo, suas execuções dispensam pressões externas.
Pikmin 3 é uma divertida combinação de estratégia e nostalgia, que nos transporta aos momentos mais especiais da infância, onde cada pequena descoberta é tratada ao mesmo tempo com alegria e surpresa, mantendo sempre despertos os sentimentos de novidade e deslumbramento característicos dessa fase da vida. Cada minuto de gameplay foi pensado para fazer o jogador se sentir um gigante num mundo ao mesmo tempo tão peculiar e acolhedor que nos desperta o sentimento de proteção e responsabilidade por suas criaturas.