Na década de 1950, Godard, Truffaut e outros críticos franceses, estavam descontentes com o rumo do cinema de seu país e expunham suas críticas ferozes na revista Cahiers Du Cinema contra o pragmatismo cinematográfico francês da época. Assim nasceu um dos movimentos mais revolucionários do cinema, não somente na França como no mundo, a Nouvelle Vague. Preconizava o cinema autoral, mais livre e a palavra de ordem era ser autêntico, assim diziam, entre outras características que podem ser atribuídas. Não há como falar sobre Nova Hollywood sem mencionar a Nouvelle Vague.
Os estúdios, palco de grande parte dos filmes, davam lugar às ruas. Os diretores passavam a ter mais autonomia e a liberdade cinematográfica era maior. Este novo movimento já influenciava outras “ondas”, como o novo cinema britânico, e era questão de tempo para cair também nas graças do rico cinema americano.
Como já acontecia na França ao final dos anos 50, os estúdios em geral estavam cada vez mais desconectados do público jovem e, com as manifestações contraculturais ganhando força, naturalmente isso também deveria se refletir em outros países, como os Estados Unidos, mesmo que de forma tardia. Hollywood priorizava grandes produções e histórias convencionais estreladas por artistas com boa imagem. Custava a entender e associar o declínio da rentabilidade com a falta de interesse geral.
Antes do avanço contracultural em massa no mundo, no final dos anos 60, alguns filmes americanos já partiam para o lado mais contestatório e crítico, como Stanley Kubrick fez em Dr Fantástico em 1964. Outros já começavam a priorizar roteiros menos burocráticos aliados a orçamentos modestos, como os filmes de John Cassavetes, reconhecido diretor de filmes independentes e também influente da nova geração americana de cineastas. Seu filme de estreia, Shadows de 1958, é fortemente ligado ao estilo francês da Nouvelle Vague e, por muitos, considerado o início da reviravolta no cinema americano.
Os fracassos de superproduções como Cleópatra de 1963, com Elizabeth Taylor, reafirmavam as mudanças que estavam para acontecer. O retorno financeiro já não era mais o mesmo. A produção dos filmes americanos chegava a absurdos financeiros e, sem uma garantia de retorno do público espectador, grandes estúdios estavam beirando a falência. A televisão, que ganhou muita força nesta época, também ajudava a gerar ainda mais incertezas em relação ao investimento alto no cinema, sem a garantia de retorno.
Assim, Hollywood se rendeu de vez em 1967. Se há um ano emblemático para o novo rumo em que o cinema americano estava se direcionando, talvez tenha sido este. As grandes produções, que em declínio abriam espaço para realizações menos convencionais, ficaram de lado, principalmente pela premiação do Oscar de 1968, possivelmente um dos marcos da revolução cinematográfica nos Estados Unidos. Artistas reconhecidos pela imagem e beleza como Cary Grant, John Wayne, Elizabeth Taylor, Gene Kelly, Marilyn Monroe, abriam espaço para Dustin Hoffman, Sidney Poitier e até Charles Bronson, atores que em nada representavam os galãs da antiga Hollywood.
Desta forma, inspirado pela contracultura, juntamente aos movimentos de outros países no cinema, o mercado cinematográfico americano estava se renovando em grande escala. A premiação principal de melhor filme no Oscar deste ano trazia obras como A Primeira Noite de um Homem, cujo protagonista era o até então estreante e franzino Dustin Hoffman, que em nada se assemelhava aos atores hollywoodianos. Ao seu lado estavam Bonnie and Clyde, filme inicialmente idealizado para ser dirigido por Godard ou Truffaut pelo conteúdo ao estilo Nouvelle Vague, e também dois filmes com temas sobre segregação racial, No Calor da Noite e Adivinhe Quem Vem para Jantar, ambos estrelados pelo ator negro Sidney Poitier. Isso, sem contarmos a presença, em outras categorias, de filmes como Os Doze Condenados, de Robert Aldrich e também A Sangue Frio, de Richard Brooks. Todos estes concorrentes refletiam questões contestatórias e remavam contra a maré. Caiu a ficha na poderosa América…
Mas há como definir o estilo Nova Hollywood de ser?
Continua…