Coragem. Esta é a palavra para definir o que fez aqui o diretor J C Chandor. Independente se você gostar ou não, é inegável a sua ousadia em escrever e dirigir uma história como essa.
A sua estreia na direção aconteceu em 2011 e já foi bem acima da média. O filme, no estilo Wall Street movies, se chama Margin Call e apresenta uma visão sobre a crise financeira americana, através de um banco de investimentos, dias antes do colapso no setor financeiro em 2008. As cenas são agitadas, mas a tensão está mais nas palavras e nos diálogos do que em qualquer outra coisa.
Falar de Margin Call, faz com que fique mais curioso escrever sobre o filme mais recente de J C Chandor. O diálogo, antes fundamental e presente do início ao fim, agora é deixado de lado em Até o Fim. Na história, o personagem de Robert Redford, logo no início, tem um acidente com seu barco enquanto viajava solitário pelo Oceano Índico. Uma colisão com um contentor, que flutuava à deriva, faz um rombo no casco. Assim, os problemas aparecem, a natureza vira sua inimiga, comida e água se tornam artigos de luxo, enquanto tenta lutar por sua sobrevivência. Para evitar spoilers, esta sinopse fica por aqui mesmo…
Se você já leu sobre o que se trata o filme, ou está lendo aqui agora, sabe que não é segredo a presença de somente um personagem, interpretado por Robert Redford. Poderá associar a trama ao Náufrago com Tom Hanks, a princípio, ou algum outro filme sobre sobrevivência em alto mar, como As Aventuras de Pi, mas não deve. Se em Náufrago temos boa dose de ação, além da emotiva relação de Tom Hanks com uma bola (Wilson), e As Aventuras de Pi prioriza fantasia e misticismo, Até o Fim escolhe outro caminho. É mais dramático, racional e nem um pouco sentimental.
Colocando em pratos limpos, é bom já avisar que a narrativa não é fácil. Praticamente mudo do início ao fim, o lado romântico não existe. Isso é preocupante? Não. Na verdade, a paciência que o espectador precisa ter é recompensada pelo cinema puro. Quem comanda é a linguagem audiovisual, sem a necessidade de palavras. A tensão do silêncio… quem fazia isso bem era Hitchcock, com aquela sabedoria e genialidade ao longo dos seus anos atrás das câmeras. Este tipo de proposta, sem diálogos, não é encontrado tão fácil nos cinemas hoje, aliás, atualmente não me vem à cabeça um exemplo prático.
E o que dizer sobre a interpretação do quase “oitentão” Robert Redford, segurando a bronca somente com suas reações e sem abrir a boca? A prova de “cabra macho” que ele faz nesse filme, nem Rambo, Jason Bourne ou MacGyver fariam melhor. Porém, o maior mérito vai para o diretor, sem dúvida. Tirar esta história do papel, produzir em Hollywood e colocar na tela grande não deve ter sido fácil. Aliás, é na telona que este filme deve ser visto.
Só espero que você não faça comparações deste filme com o romantismo de Náufrago, ou a fábula de As Aventuras de Pi. Cada um no seu quadrado. Se fizer essa comparação, sua experiência poderá não ser tão boa. Até o Fim é preto no branco. E o lado bom é que essa racionalidade pode fazer com que você se sinta próximo do personagem, aí a chance de apreciar o filme será bem maior.
O trailer está abaixo para você se ambientar com a ideia, se achar necessário: