Os fãs da literatura de ficção científica sabem o que DUNA, de Frank Herbert, significa para o gênero. Publicado em 1965 e ganhador dos prêmios Hugo e Nebula, o livro iniciou uma série com cinco continuações, fora os prelúdios escritos por Kevin J. Anderson e Brian Herbert, filho do autor. A complexa trama gira em torno de um império intergaláctico feudal, em que os feudos são administrados por casas nobres subordinadas ao Imperador. O jovem herdeiro Paul Atreides é transferido com sua família para o planeta Arrakis, chamado DUNA pelos nativos, onde se desenvolve uma complexa trama de política, religião e ecologia, entre outros assuntos. Como o foco aqui não são os livros, nem adianta tentar resumir com mais detalhes. A dimensão, contando apenas o primeiro romance, é tamanha que mesmo hoje, com todos os recursos que o cinema dispõe, é de se duvidar que seja possível fazer justiça ao legado da obra numa adaptação. Supondo que o primeiro vingasse, o raio teria que cair no mesmo lugar várias vezes ao filmarem suas continuações, logo, esse é um daqueles projetos que deixam os admiradores do texto original em estado de pânico.
Em 1984, David Lynch dirigiu uma adaptação do romance, evidentemente com todo tipo de limitações, sejam aquelas de ordem técnica como as dos produtores exigindo isso ou aquilo. Mas sejamos francos; Lynch é um grande artista, mas não serve para adaptar um material tão icônico para um gênero. O resultado é controverso, gera discussões até hoje e o próprio cineasta renega a obra. Em 2000, o Sci-Fi Channel produziu uma minissérie para a TV com William Hurt no elenco, mais fiel que o longa, mas também sofreu com recursos limitados. Mesmo assim, uma continuação seguindo os livros foi lançada em 2003. Também não foi desta vez que a saga ganhou uma adaptação à altura.
Na verdade, em meio a toda essa conversa sobre a viabilidade de levar DUNA às telas, do cinema ou da TV, sobre as limitações que as produções anteriores enfrentaram, e se esse livro tão complexo tivesse sido adaptado mais de dez anos ANTES da versão de David Lynch? Pois a década de 1970 quase viu isso acontecer, pelas mãos de um cineasta ainda mais surrealista: o chileno Alejandro Jodorowsky. A história inusitada sobre esse épico (seria mesmo essa a palavra?) de ficção científica que não aconteceu, será contada no documentário JODOROWSKY’S DUNE, com lançamento previsto para este ano.
Com muito esforço empreendido em uma pré-produção, a equipe contava, entre outros profissionais, com o roteirista Dan O’Bannon ,de Alien, O Oitavo Passageiro, o quadrinhista Moebius e o artista plástico H.R. Giger, que anos depois também colaborou em Alien, criando o visual do monstro. O elenco teria David Carradine, Mick Jagger, Salvador Dali e Orson Welles. É evidente que seria algo grandioso e as presenças de Moebius e Giger garantiriam um visual fantástico, mas com muito pouco a ver com a obra original. Qualquer pessoa que tenha visto apenas um trabalho de Jodorowsky já saberia disso, mas se alguém ainda tiver dúvidas, veja o trailer do documentário, onde o cineasta diz que escolheu o livro sem tê-lo lido, além de afirmar que queria um filme que trouxesse alucinações de LSD.
Assista ao trailer e torça para que algum festival daqui nos permita conferir essa história:
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A seguir, algumas artes bacanas desta visão particular de DUNA…