O filme Tomb Raider: A Origem é uma boa sessão pipoca
Se puxarmos o histórico de adaptações de videogames para o cinema, o resultado é frustrante, para não dizer péssimo. Parece que os realizadores não tem boa vontade e tratam o material original (o game) sem o devido respeito. Focam em pequenos elementos que consideram atraentes, tentando refazer o jogo na tela. É o que acontecia com as adaptações de quadrinhos, até Bryan Singer mudar o jogo com X-Men, em 2000. Não que o filme Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider) tenha essa mesma importância, mas se mostra uma boa diversão e respeita o material original.
Baseado no último reboot dos jogos, o longa mostra Lara Croft (Alicia Vikander, de Ex Machina e Jason Bourne) trabalhando como entregadora em Londres, pois se recusa a receber a herança de seu pai, Richard (Dominic West, de The Wire), dono de uma companhia global que desapareceu há sete anos durante uma expedição ao Japão. Lara recebe o testamento de Richard e descobre que o objetivo era encontrar o túmulo da primeira rainha do país. A moça decide refazer os passos de seu pai para descobrir a verdade em torno desta lenda.
O primeiro ponto é que essa Lara Croft é bem diferente daquela interpretada por Angelina Jolie. Se a versão anterior era uma heroína de ação bad ass que fazia caras e bocas, essa é durona, mas sem cair no estereótipo. Ela realmente sente medo na hora da ação, age por instinto, se assusta e não é invencível. Fatores que tornam mais fáceis a identificação e a torcida do público. Avisando aos que não conhecem os games que isso já vem dessa nova franquia iniciada em 2013, quando os direitos da personagem saíram da Eidos e foram para a Square Enix.
É interessante como esse novo longa realmente respeita o game, mas, acima de tudo, quer contar uma história. O primeiro ato tem uma construção bem feita quanto à situação da personagem, mostrando sua coragem, rebeldia e determinação. É mais lento, o que ajuda a estabelecer nossa relação com ela não cospe sequências de ação gratuitas a cada cinco minutos. Inclusive, as cenas de ação seguem a mesma mecânica dos games e são bem feitas em sua maioria.
Ao contrário de bombas como Warcraft, que parecia feito apenas para quem conhece aquele universo, ou Assassin’s Creed,que achava que apenas recriar imagens dos games era o bastante, Tomb Raider: A Origem quer falar com todos os públicos. Não tenta emular o que já foi visto nos jogos, o que seria burrice. Quem quiser algo igual ao game não precisa de um filme.
O destaque no elenco é Alicia Vikander, que, além da entrega física à personagem, tem carisma. Se nos importamos com Lara, é graças ao trabalho da atriz, eficiente até nas cenas dramáticas. É o que move do filme. O ponto fraco é Dominic West, que não dá conta de suas cenas com a protagonista, além de chorar muito mal. O vilão vivido por Walton Goggins (Os Oito Odiados) é genérico. Forte no começo, torna-se desinteressante ao longo da narrativa. Algumas participações pequenas chamam a atenção, como a veterana Kristin Scott Thomas, interpretando a ambígua protetora de Lara, e o ótimo comediante Nick Frost em uma cena pequena, mas com uma química excelente com Vikander.
Excesso de CGI: Artificialidade na ação
Até agora, poucas ressalvas ao longa, mas não se pode fechar os olhos para os defeitos. O primeiro está em uma decisão pouco inspirada do diretor Roar Uthaug em usar tantos efeitos especiais em sequências de ação longas. São aqueles efeitos que, muitas vezes, não convencem de tão artificiais, impedindo a tensão do público. Por mais que vejemos Alicia Vikander sentindo dor, ela entra em um rio digital, voa em um avião digital, que bate em árvores digitais.
A todo momento, a baixa qualidade dos efeitos nos lembra que nada daquilo é real. Outro problema se encontra na decupagem das cenas de ação, em alguns momentos, parando a câmera no rosto da protagonista por tempo demais. Faz sentido para mostrar seu medo, mas acabamos vendo a atriz com cara de boboca. Isso atrapalha a cadência da cena.
O grande defeito do longa é seu segundo ato. Se o primeiro apresenta bem os personagens e a situação com um bom ritmo, o segundo se mostra corrido demais. Acontece um relacionamento que se conclui de maneira bem rápida, impedindo que o espectador compre o sentimento de amor que ocorre na cena. Quando o longa vai para o terceiro ato, retoma o compasso, apesar do segundo quase destruir o filme. Além disso, os diálogos são péssimos. Em alguns momentos, parece uma tentativa tola de refazer a química da franquia Indiana Jones. Melhor não detalhar para evitar o spoiler,
Chegando ao final, onde parecia haver mais uma adaptação tola, o filme Tomb Raider: A Origem entrega uma boa diversão. Sim, é genérico e previsível, mas é o que as adaptações de games precisam. Ao invés de obras que falam apenas ao fã, filmes que dialoguem com todos os públicos, mas respeitando o material original. Um dia, pode aparecer um diretor que realmente faça uma boa adaptação. Até lá, esse retorno de Lara Croft está de bom tamanho.