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Faces De Uma Mulher – Drama Orfeliano à francesa!

 As características do cinema francês em Faces De Uma Mulher

O cinema francês é uma das maiores inspirações do cinema brasileiro. Faces De Uma Mulher (Orpheline) é uma amostra do que eles dominam e que poucos brasileiros sabem reproduzir: a narrativa de minitrama.

O grosso das produções de cinema é feito a partir de uma estrutura de roteiro conhecida como arquitrama, também conhecida como o Monomito. Nessa estrutura em que diversos filmes espetaculares se encontram, temos o mito do herói e o filme trata da sua trajetória de redenção. Esses filmes, que são feitos para agradar o público em geral, exaltam o que há de melhor nas pessoas e normalmente nos trazem a sensação de que o mundo pode ser um lugar melhor.

Crítica do francês Faces De Uma Mulher

Faces De Uma Mulher

A minitrama, termo utilizado na bíblia do roteiro Story, de Robert Mckee, é um gênero muito mais profundo que busca o lado humano da história e – por causa da falibilidade do homem – é uma proposta mais triste e pesada. Justamente por isso é mais apreciado por um público menor e mais específico. O ritmo é normalmente mais lento e contemplativo e cheio de aprofundamentos nos momentos trágicos das vidas dos personagens. Aqui não existe exaltação. Aqui, tenta-se interpretar o ser humano com sua incompletude e dramaticidade psicológica. Por isso, os finais tendem a ser abertos e tristes.

Filmes com essa proposta, normalmente, são aqueles que angariam os grandes prêmios de cinema, por exemplo, Moonlight e Manchester à Beira-Mar, respectivamente, vencedores do Oscar de 2017 nas categorias Melhor Filme e Melhor Roteiro Original.

Faces De Uma mulher tem uma premissa parecida com a de Moonlight. Eu prefiro o título original, Orpheline, pois não dá esse olhar simplista ao tema do filme e trás referência ao personagem Orfeu, da mitologia grega, que percorre por todo o inferno atrás de sua amada Eurídice, mas tem sua felicidade tomada pouco antes de voltar do Hades. A protagonista Karine é vista em quatro fases de sua vida, contados através de flashbacks aos 20, aos 13 e aos 6 anos, que vão decifrando aos poucos a vida e os dramas que ela viveu e que moldaram sua personalidade. Mas hoje, aos 27 anos, professora do primário, com outro nome, casada e grávida, esse passado volta para cobrar suas dívidas.

Crítica do francês Faces De Uma Mulher

Para viver a protagonista o diretor Arnaud des Pallières, que também é o roteirista, escalou quatro atrizes diferentes, entre elas Adèle Exarchopoulos, de Azul é a Cor Mais Quente, como principal nome para viver a fase dos 20 anos. O curioso é que suas características físicas são completamente diferentes das outras três atrizes (Adèle Haenel, Solène Rigot e Vega Cuzytek, respectivamente as fases de 27, 13 e 6 anos).

O tema principal do filme é a presença ou a falta dela. Karine é uma mulher carente que conviveu a vida toda com a violência, o drama e um fato traumatizante. Por isso ela busca completar sua vida através da contravenção, do sexo e de homens mais velhos que são suas compensações para os dramas com o pai. Os personagens masculinos servem bem, mas não sobressaem ao contexto da protagonista. O filme ainda conta com Gemma Arterton (que já fez sua aparição no cinema de Hollywood no dispensável João e Maria: Caçadores de Bruxas), Jalil Lespert, Nicolas Duvauchelle, Karim Leklou, Sergi López e o ótimo Robert Hunger-Bühler, que interpreta um apostador de cavalos e sugar daddy de Karine. A dinâmica entre ele e Adèle Exarchopoulos é excelente.

Crítica do francês Faces De Uma Mulher

Trabalhando a sexualidade de forma natural

A sensualidade do cinema francês também é presença constante e a bela Adèle Exarchopoulos, mais uma vez, é apresentada como veio ao mundo. Ela se tornou uma espécie de estereótipo da sexualidade francesa e as vezes existe um excesso de exposição que não acrescenta nada à narrativa. Apesar disso, os franceses lidam bem com o pudor e não têm medo de usar corpos nus, nem mesmo de uma garota de 13 anos (obviamente, a atriz Soléne Rigot já passou há muito dos 13 anos, apesar de convencer completamente no personagem).

Tecnicamente é muito bem dirigido e com uma fotografia e montagem pontuais, mas em alguns momentos falta tensão e o filme fica meio morno. A trilha sonora é um destaque interessante, pois quase sempre é diegética, ou seja, faz parte da cena.

Faces De Uma Mulher é um filme bem feito, porém difícil, que trata sem delicadezas de temas bastante profundos e tristes, que poderia ser mais curto (tem 111 minutos). Mas, quando se trata de cinema, os franceses sempre têm muito a dizer.

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