O cineasta polonês Andrzej Wajda tem um histórico extenso no cinema de cunho político, com uma obra quase sempre às voltas com seu país natal. Em seu filme O Homem de Ferro (1981), ambientado nos bastidores do partido Solidariedade, Lech Walesa era um personagem secundário, até porque a consagração da personalidade verídica só viria em 1983, ao receber o prêmio Nobel da Paz. Em 2013, Wajda retornou a esse universo com uma narrativa focada no lendário homem público.
Walesa utiliza como ponto de partida uma entrevista concedida a uma importante jornalista italiana, naquela estrutura tradicional de puxar flashbacks conforme avança o relato do protagonista. No início da década de 1970, como eletricista em um estaleiro, Walesa começa a se insurgir contra o comunismo na Polônia, que reprimia as manifestações trabalhistas e sociais em geral. Orador carismático, liderou um movimento pelos sindicatos livres e em protesto contra o alto custo de vida, enfrentando as dificuldades comuns à situação, como demissões e prisões. Após fundar o Solidariedade, em meio à agitação grevista e uma Lei Marcial declarada, é preso novamente, mas sua causa ganha força com o prêmio Nobel até o reconhecimento definitivo em 1989, discursando em Washington com honrarias de chefe de Estado. Lembrando outra figura bem popular por aqui, Lech Walesa chegou a ser presidente da Polônia de 1990 a 95, mas o filme não chega a cobrir esse período. Curioso.
Se você não sabia nada sobre essa figura, já está situado. Partindo para as considerações exclusivamente cinematográficas da obra, Walesa é um filme esquemático e episódico, caindo na vala comum aos filmes biográficos, preocupados com uma suposta fidelidade aos fatos, mas ignorando os fatores narrativos que mantém o espectador interessado. É natural que se espere um retrato bem próximo da realidade, mas é um tanto problemático ir ao cinema para uma aula de história (ainda que relativa), quando o filme não é um documentário, portanto, se não há possibilidades para uma dramatização da vida real, melhor que o filme não seja feito.
O ator Robert Wieckiewicz, interpretando o personagem-título, entrega um bom trabalho, quando comparado ao verdadeiro Lech Walesa. Talvez isso seja mais relevante na Polônia, onde a figura do político já está gravada na memória popular. É compreensível que o filme tenha menos apelo por aqui, pela familiaridade menor com personagens e episódios narrados, mas talvez seja por essa percepção que o diretor tenha optado por incluir, entre um acontecimento e outro, cenas da agitação nas ruas embaladas com rock de protesto da época. Parece tentar tornar o filme mais atrativo com o recurso, mas acaba por torna-lo mais irregular e pouco fluido, já que aquilo soa mais como uma interrupção da história, mudando até a fotografia das cenas. Imagine um filme que, do nada, é invadido por trechos de clipes dos Smiths e terá uma boa ideia do que foi feito aqui.
Relatando um contexto de repressão, com direito a detenções arbitrárias, Walesa também não investe na criação de um clima pesado para retratar a situação. Os problemas que o protagonista enfrenta em família, inclusive, estão meramente retratados na tela, mas não tem real impacto na sequencia dos acontecimentos. Não é fácil entender este tipo de opção da parte dos realizadores, já que todas as decisões tomadas nesta produção parecem bem pouco ambiciosas, contentando-se apenas em fazer o mundo lembrar-se de Lech Walesa, ou conhece-lo. Sinceramente, o formato não é o mais adequado para essa tarefa.