Eventos reais com uma pessoa se complicando por querer fazer o bem, ou apenas o que é certo, indo contra todo um sistema no processo, continuam fornecendo material para Hollywood. Tais casos, quando adaptados para o cinema, são um bom negócio para um ator que gosta de criar sua fama de bom e justo à custa dos personagens que interpreta, como o falecido Robin Williams com Patch Adams, por exemplo, sem citar seus outros protagonistas fictícios que seguiam a mesma fórmula. Como Will Smith adora usar os filmes como instrumento de Relações Públicas, este Um Homem Entre Gigantes (Concussion) serve bem ao seu propósito.
Dirigido e escrito por Peter Landesman – cujo único crédito anterior como cineasta é um filme sobre o assassinato de Kennedy – a partir de um artigo para a revista GQ, o longa segue os passos do Dr. Bennet Omalu, médico nigeriano residente em Pittsburgh, que em 2002 descobriu uma condição clínica peculiar entre profissionais aposentados do futebol americano, explicando assim os surtos de demência observados nestes indivíduos mais jovens. Em uma economia que depende tanto da liga do esporte, a NFL, é claro que ele comprou uma briga onde era quase impossível vencer.
Landesman parece ter interesse apenas em casos verídicos. Ele também é responsável pelo roteiro do interessante O Mensageiro, mas no caso de Um Homem Entre Gigantes, talvez seu texto fosse valorizado por uma direção mais experiente. Na verdade, os problemas do filme já começam na construção dos personagens e algumas situações, repletos dos clichês mais manjados deste tipo de história, algo que tira um pouco da força do fato que move a história. Por exemplo, o interesse romântico do protagonista é apresentado da forma mais ingênua e previsível do mundo, um problema que talvez fosse atenuado por uma montagem melhor. Além disso, a cadência dramática se mantém baixa, sem muita emoção para o espectador em duas horas de duração.
Will Smith se esforça como o Dr. Omalu, tanto no sotaque como na expressão facial, mas a própria estrutura da narrativa prejudica o desenvolvimento do ator. Existe somente um momento mais desafiador para ele, dramaticamente falando, que acaba desperdiçado pela falta de inspiração do diretor, cujo trabalho de câmera é nada mais que burocrático. Falando em desperdício, o restante do elenco segue no piloto automático, com diálogos que poderiam ser elaborados de outra forma, fora os que trazem aquele fundo motivacional forçado deste tipo de filme. Além disso, a necessidade de afirmar o que significa ser um “bom americano” compromete ainda mais o conjunto.
Com trilha sonora e fotografia apenas corretas, Um Homem Entre Gigantes parece apostar demais em sua premissa realmente interessante e que poderia render algo no estilo de O Informante, de Michael Mann. Por isso, não é completamente desprezível, mas cai naquela categoria de filme que é melhor ver em casa, e ainda quando faltar opções.