“Quando as crianças se forem, o que será de nós?”
Este questionamento, que com certeza é levantado por tantos casais chegando àquele delicado momento da vida em que a idade torna-se avançada demais para se começar de novo, é o elemento de ignição deste ótimo e inusitado drama inglês. Dirigido por Roger Michell (dos excelentes Um Lugar Chamado Notting Hill e Fora de Controle), Um Fim de Semana em Paris (Le Week-End) traz os impecáveis intérpretes britânicos Jim Broadbent (vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua interpretação em Iris, em 2001) e Lindsay Duncan (Birdman), nos papéis de Nick e Meg, que casados há quase quatro décadas, decidem partir para o tal final de semana em Paris do título. Se você pensa que trata-se de uma história sobre recomeço, ou redescoberta da paixão e do amor, está completamente enganado. Nick e Meg convivem em uma constante relação de amor e ódio, onde uma ínfima tolerância de um para com o outro contrasta com o amor que existe entre os dois.
Esta inconstância na relação do casal torna-se ainda mais atribulada com a entrada em cena de Morgan (Jeff Goldblum, de O Grande Hotel Budapeste), um velho amigo de Nick, que convida o casal para um jantar onde a conflituosa relação entre Nick e Meg será testada, de uma vez por todas. Michell e seu roteirista, Hanif Kureishi (Vênus, Intimidade), criam uma inusitada relação afetiva entre seus protagonistas, que trafega da ternura à convivência insuportável numa fração de segundo. Nick e Meg utilizam o belo cenário da capital francesa como uma espécie de campo de batalha, onde o casal não trava uma guerra apenas um contra o outro, mas principalmente contra a chegada da velhice, e a constatação de todos os planos que não foram realizados na trajetória do casal. Ainda assim, mesmo em meio ao sentimento de frustração carregado pelo casal durante toda a produção, a afeição entre os dois chega a ser palpável, transformando Um Fim de Semana em Paris em uma produção surpreendentemente imprevisível.
O filme no entanto não funcionaria tão bem não fosse o descomunal talento de sua dupla de protagonistas, que em papéis difíceis, de natureza dúbia, arrancam o melhor de seus personagens. Broadbent está perfeito no papel do marido, que começa a pagar o preço pela insatisfação consigo mesmo, enquanto que Duncan está irrepreensível no papel da esposa, cuja aparente frieza e compostura escondem uma mulher cujos sentimentos já não podem mais ser controlados ou mesmo escondidos. Vale ressaltar também a excelente performance de um de meus atores preferidos, o esquisitão Jeff Goldblum, que assim que entra em cena, altera completamente a dinâmica do filme.
Mesmo imerso no cenário mais romântico do mundo, Um Fim de Semana em Paris é um verdadeiro acerto de contas entre seu casal de protagonistas com a vida, com tudo o que não puderam obter dela, e com a chegada da terceira idade, cuja conclusão deliciosamente anárquica simplesmente captura tudo isso… E joga para o alto.
É muito bom terminar de ver um filme e sentir-se de alma lavada.
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