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A Última Ressaca Do Ano – Uma comédia muito irregular!

A Última Ressaca do Ano

A Última Ressaca do Ano

As comédias natalinas se tornaram quase um subgênero dentro de Hollywood. Desde a consolidação, naq década de 1940, através das obras primas Duas Semanas de Prazer, A Felicidade Não se Compra e Um Anjo Caiu do Céu, até a produção de clássicos recentes como Esqueceram de Mim, Simplesmente Amor e Expresso Polar, passando pela realização de filmes que subvertiam o espírito do Natal, como Papai Noel às Avessas, basta chegar o final do ano para que os estúdios americanos lancem filmes que abracem ou parodiem o feriado cristão. A Última Ressaca Do Ano (Office Christmas Party) é a aposta de Hollywood para este ano, no entanto, embora tenha bons momentos, não é uma obra destinada a figurar aos lado das mencionadas acima e, provavelmente, será completamente esquecida com o passar dos anos.

No filme, Josh Parker (Jason Bateman) é gerente de uma empresa de tecnologia. Recém divorciado e trabalhando ao lado de Tracey Hughes (Olivia Munn), uma ex-namorada, Parker ainda tem de enfrentar, ao lado de Clay Vanstone (T. J. Miller), o seu chefe e melhor amigo, a ira de Carol Vanstone (Jennifer Aniston), irmã de Clay e CEO da empresa, que está decidida a fechar a filial em razão do pouco lucro produzido no ano. Preocupados com o futuro próprio e dos inúmeros funcionários, Josh, Clay e Tracey têm a ideia de dar uma festa para convencer o milionário Walter Davis (Courtney B. Vance) a dar para eles uma conta de 14 milhões de dólares e, assim, impedir o fechamento da empresa.

Escrito por Justin Malen, Laura Solon e Dan Mazer, a partir de uma história criada por Jon Lucas, Scott Moore e Timothy Dowling (se três roteiristas nunca é um bom sinal, imaginem uma história concebida por três pessoas!), o roteiro de A Última Ressaca Do Ano é muito irregular. Quando acerta em cheio, é bom, mas quando erra, é tão equivocado que parece ser outro filme. Ao passo que algumas das piadas funcionam perfeitamente (como o momento totalmente nonsense envolvendo as armas de uma cafetina, a brincadeira sobre o incesto e estupro sugerido num desenho feito na parede do banheiro e a cena que mostra um sujeito vestido de Jesus galopando num cavalo ao som de uma música hilária), algumas brincadeiras são muito ruins (as tentativas de humor físico de Clay ou a tirada final com a motorista do Uber). Além disso, uma boa parte das piadas são mal sucedidas porque foram claramente copiadas do primeiro Se Beber, Não Case (os dentes quebrados de Walter, o sequestro de Clay e as fotos dos personagens durante os créditos).

A Última Ressaca do Ano

O roteiro também tem dificuldade em estabelecer algumas coisas para o público. No começo do filme, quando os personagens e o ambiente do escritório são apresentados, apenas a dinâmica entre alguns funcionários e um pouco do seu cotidiano são trabalhados pelo texto. Nada do que é dito ou mostrado sugere que a empresa está passando por um momento financeiramente ruim. O público só é informado dessa realidade quando Carol diz em uma reunião que a filial será fechada, causando uma surpresa negativa no espectador. Os roteiristas também sofrem com a falta de inspiração em alguns instantes. Um sintoma disso é a relação entre os irmãos Vanstone, pois a única solução encontrada para estabelecer a natureza do relacionamento dos dois é criar ataques verbais entediantes e falas expositivas.

Um outro problema enfrentado pelo roteiro é a previsibilidade. Fica claro ao longo da projeção que uma das principais preocupações dos roteiristas foi escapar das obviedades da trama. Para fugir disso, eles decidiram resolver rapidamente os conflitos que são apresentados. Por exemplo: o público percebe logo no início que existe uma atração entre Parker e Tracey e, que, muito provavelmente, essa atração será trabalhada até o final quando os dois darão um beijo e a câmera se afastará lentamente, num daqueles momentos típicos das comédias hollywoodianas, mas, ao invés de fazerem isso, os roteiristas logo revelam que eles já tiveram um caso e que não terminaram bem, quebrando totalmente a expectativa de quem assiste ao filme. No entanto, ao repetirem esse recurso em outros momentos, eles eliminam uma previsibilidade criando outra no lugar. Percebam como após a revelação, feita ainda no segundo ato, de um segredo sobre Walter, que coloca novamente o futuro da empresa em xeque, é facilmente perceptível que nos instantes finais algo milagroso acontecerá, podendo resolver todos os problemas. Percebam também que, como em uma daquelas cenas finais inconfundíveis, onde todos se beijam e abraçam, os roteiristas eliminam a expectativa ao colocar uma personagem recusando inicialmente o beijo, apenas para finalmente se render e cair nos braços do seu parceiro.

Já a direção de Josh Gordon e Will Speck, por sua vez, mantêm a irregularidade vista no roteiro. Diretores dos fracos Escorregando Para a Glória e Coincidências do Amor, Josh e Will realizam em A Última Ressaca Do Ano o seu melhor trabalho, embora não consigam escapar de algumas soluções visuais pobres. Enquanto a câmera ágil e em constante movimento e a opção, feita juntamente com Jeff Cutter, o montador, de trabalhar com cortes rápidos e constantes dão ao filme um ótimo ritmo e excelente timing cômico, a forma como os diretores filmam alguns momentos da festa (câmera tremendo, plano geral feito de fora do prédio que vai se afastando aos poucos, travelling na cena em que as pessoas deslizam no gelo) e a elipse usada para mostrar o envolvimento de Walter com a festança (num erro que também é compartilhado pelo montador) são escolhas óbvias e raramente funcionam. Ademais, há algo mais bobo e sem graça que colocar erros de filmagem durante os créditos finais?!

A Última Ressaca do Ano

No que diz respeito aos atores, o trabalho que realizam é razoável. Apesar de Jason Bateman interpretar mais uma vez o cara doce e racional que começa a ficar maluco com a loucura das pessoas ao seu redor e Jennifer Aniston dar prosseguimento à imagem de mulher fria e dura dos seus últimos filmes, a atuação deles é eficiente e, às vezes, fisicamente surpreendente (Bateman na cena em que dança e Aniston na da briga com um capanga da cafetina). Já Olivia Munn entrega uma performance sem vida e apagada, não fazendo jus à de Bateman, seu parceiro de cena. E o que falar de T. J. Miller? A total ausência de carisma e comicidade nos seus gestos e falas só pode ser equiparada à insistência com a qual as pessoas continuam a escalá-lo em filmes e séries de televisão.

Superior à atrocidades como O Grinch Sobrevivendo ao Natal e a trilogia Meu Papai é Noel, mas bem inferior aos melhores filmes sobre o feriado natalino, A Última Ressaca Do Ano é uma comédia repleta de erros e acertos. Vale a conferida, mas será rapidamente esquecida pelo espectador na exata hora em que colocar os pés fora da sala. Pela História do Cinema também, no mesmo dia em que sair de cartaz.

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